As empresas admitem preocupação com a possibilidade de a iniciativa
deflagrar uma 'reestatização' na oferta de serviços de telecom. Mas, há
também quem defenda que, diante da complexidade do tema, o melhor é sentar à
mesa e formular uma política que reduza os impactos das perdas e danos na
indústria.
Os conflitos com relação ao sucesso da reativação da Eletronet ficaram
evidente no debate desta sexta-feira, 01/06. Se de um lado o Senador e
presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal, Wellington
Salgado, do PMDB/MG, e o asessor especial do Palácio do Planalto, César
Alvarez, defenderam a posição do governo de utilizar o backbone da Eletronet
como infra-estrutura de rede do governo, os deputados petistas, Walter
Pinheiro, e Jorge Bittar, mostraram reticência com a eficiência da
estratégia. A posição dos parlamentares foi aplaudida pela iniciativa
privada presente ao evento. O tema foi um dos que mobilizou o debate no
primeiro dia do 51º painel Telebrasil, que acontece na Costa do Sauípe,
Salvador.
"Não acredito que a Eletronet resolva o problema. Não sei se vale a pena o
custo do investimento. Sou mais favorável que todos sentemos à mesa e se
negocie uma parceria pública privada com as operadoras. Mas é preciso um
modelo de negócio. Não se pense que haverá caridade na PPP. Todos estão
fazendo negócios", declarou Pinheiro, aplaudido pelos presentes no painel da
Telebrasil.
Pinheiro foi além. Apesar de ser do PT, ele disse que chegou a hora de se
discutir o setor de telecomunicações de forma mais enfática. "É preciso
colocar o dedo na ferida. O governo não pode desconsiderar o setor",
declarou. Segundo o parlamentar, é preciso avaliar se o gasto necessário
para tornar a Eletronet uma rede viável para serviços de governo é realmente
crucial, enquanto há infra-estruturas já instaladas.
"Não acho que valha a pena. Vai demorar para estruturar o projeto e
precisamos interagir. Dividir esforços. criar modelos de negócios que
ampliem a oferta de serviços", destacou Pinheiro. O deputado Jorge Bittar,
também mostrou reticência com o sucesso da negociação do governo, mas foi
menos enfático ao criticar o processo.
Para ele, o governo pode avaliar as melhores alternativas, mas indagou que
se uma rede própria fosse, de fato, essencial, qual a razão de as
intituições financeiras terem vendido suas infra-estruturas para o setor
privado. "Fico pensando se o Bradesco venderia sua rede, como vendeu, se ela
fosse de fato crucial para o negócio dele", salientou.
O argumento em prol da Eletronet que mais surpresa causou foi o do Senador
Wellington Salgado, do PMDB/MG, e presidente da Comissão de Ciência e
Tecnologia do Senado Federal. Mesmo sabendo ir na contramão do setor, ele
defendeu a posição govenamental, sob a justificativa de o governo precisar
de uma rede que 'garanta a integridade dos seus dados'. A tese causou
mal-estar entre as operadoras presentes ao evento, já que houve um
questionamento formal do presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do
Senado Federal em relação à oferta de serviços de segurança por parte das
atuais concessionárias.
O Assessor especial do Palácio do Planalto, César Alvarez, também defendeu a
discussão da Eletronet. Mas, argumentou de forma mais política. Segundo ele,
o governo elaborou uma estratégia de atuação na qual ele precisa de uma
infra-estrutura para suportar suas operações. Alvarez, que recém-assumiu a
coordenação do projeto nacional de inclusão digital, foi menos político ao
afirmar que o setor precisa sentar à mesa e negociar, assim como,
estabelecer custos, metas e prazos para uma parceria mais efetiva entre as
partes.
Na indústria, a questão Eletronet é considerada 'preocupante', mas como
disse o presidente da Trópico, Raul Del Fiol, o melhor de uma situação
complexa, é enfrenta-la para tentar conduzir, dentro do que for possível, as
perdas e danos desta situação. "Temos que sentar à mesa e negociar. Não
podemos ficar de fora e à espera de uma posição do governo. Precisamos nos
mostrar. Precisamos falar. É, sim, uma questão de 'gerenciamento de egos'",
declarou o executivo, que assim como o deputado Walter Pinheiro, foi
aplaudido pela platéia, formada pelos principais executivos de operadoras e
fornecedoras do setor de telecomunicações.
Ana Paula Lobo viajou para a Costa do Sauípe, Salvador, a convite da
organização do Telebrasil