Tudo aconteceu em apenas quatro horas e quatro minutos,
contrariando as expectativas iniciais de especialistas que imaginavam que um
evento de tamanha complexidade pudesse consumir o dia todo. Às 14 horas e
quatro minutos do dia 29 de julho de 1998, o leiloeiro Alexandre Runte,
experiente no ofício, bateu seu martelo pela última vez naquela jornada.
Era o final de um leilão especial, transmitido ao vivo
para todo o País pela televisão; Realizado na sede da Bolsa de Valores do
Rio de Janeiro, e que teve uma batalha campal tomando as ruas pelos que eram
contrários a privatização, o leilão colocou fim a uma era de 26 anos no
Brasil: a do monopólio estatal das telecomunicações.
Por 22,1 bilhões de reais, as empresas do Sistema Telebrás acabavam de ser
privatizadas, sem levar em conta os protestos da população.
A partir daquele instante, teve início uma era, cuja
característica principal almejava-se, seria a universalização e a competição
entre as operadoras nas áreas de telefonia fixa – local e longa distância –
e telefonia celular, novos investimentos na ampliação da capacidade
instalada, melhoria da qualidade na prestação de serviços à população, com
preços justos e com o Estado deixando de ser empresário para desempenhar o
papel de formulador de políticas públicas, de regulador e fiscalizador dos
serviços.
Pelo menos esse era o discurso apresentado à sociedade
para justificar a privatização.
Almejava-se na verdade muito mais que isso. Esperávamos
uma era auto sustentada no fundamento da universalização do acesso aos
serviços antes monopólio estatal, rompendo uma história de números perversos
que no monopólio estatal brasileiro não conseguiu eliminar, por exemplo,
mais de 80% dos terminais telefônicos residenciais concentrados nas famílias
das classes A e B, demanda reprimida de cerca de 10 milhões de terminais,
apenas 2% das propriedades rurais com acesso a telefones, numa demonstração
da total incapacidade do modelo em acompanhar a demanda social do País.
Até aí acontece o esperado, com suas derivadas
resultantes tanto da evolução tecnológica, quanto da evolução das demandas
políticos-sociais do Brasil.
Inesperadas e inexplicáveis são as inquietudes que
sempre brotam no dia-a-dia, sobre temas e assuntos vinculados àquela
Estatal, que assolam o País até hoje, e aqui e acolá, ecoa em setores
sensíveis e passíveis de especulação, como o caso ocorrido em dezembro do
ano passado,(essa coluna publicou extensa matéria sob o título:
"Ressurreição da Telebrás começa a tomar forma" quando boatos fizeram
disparar acima da racionalidade, o valor das ações da Telebrás.
No inicio do segundo semestre de 2008 o assunto
ressurgiu e voltamos a escrever sobre o tema, "Nova Telebrás pode ser o
Operador Nacional das Redes IP" e ficamos durante vários meses recebendo uma
verdadeira enxurrada de e-mails dos nossos leitores, perguntando, por
exemplo:
“Essa idéia realmente existe, dentro do governo???”
“Particularmente concordo com essa idéia, caso tudo ocorra da forma que vem
sendo comentada, ou seja, a partir do backbone da Eletronet e com vistas até
para o SGB”.
“Venho tentando com alguns jornalistas e com a própria Telebrás, informações
sobre o status atual do projeto de reativação da empresa. Pergunto isso pelo
fato de existir um Fato Relevante publicado pela Telebrás que informa sua
participação no projeto de universalização da banda larga no Brasil.”
“Não tenho quase informações sobre a reativação da Telebrás, projeto, aliás,
do qual eu não concordo. Já temos estatais demais...” (E lembrem-se que
ainda nem sabíamos do pré- sal).
“... Esse modelo que está sendo divulgado por aí não dará certo. A troca de
metas de PSTs por Backhaul é exemplo de como metas mais ousadas podem ser
mais eficazes e menos dispendiosas para a sociedade do que reativar uma
empresa estatal que nunca deu conta do recado...”.
E agora, mal se aproxima dezembro e os boateiros de plantão iniciam um novo
“golpe”, oportunizando o momento político de substituição de um Membro do
Conselho Administrativo da Telebrás, para disseminarem a falsa idéia de que
permanece ou ressuscita-se no bojo das telecomunicações do Brasil, a idéia
de que a empresa será reativada operacionalmente para tornar-se o “Grandioso
e Magnânimo Operador de Rede do Governo Brasileiro”, abrigando em seu seio a
falida Eletronet, para juntas comporem a tábua da salvação das ações de
inclusão digital e a implantação e operação de redes de banda larga no
Brasil, competindo com a iniciativa privada.
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