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Fonte:
Estadão
[07/04/09]
Governo decide reativar a Telebrás, mesmo sem Eletronet - por Renato Cruz
O governo resolveu prosseguir com a reativação da estatal Telebrás antes mesmo
de ter uma solução para a Eletronet, operadora falida que tem a Eletrobrás entre
seus controladores. Na quinta-feira (2), houve uma reunião ministerial para
avaliar a situação das empresas e, segundo fontes do governo, a ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff, deu a ordem para reestruturar a Telebrás. Além da
ministra, participaram da reunião o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o
secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Rogério Santanna, além de representantes da Eletrobrás e da
Advocacia Geral da União (AGU).
A Eletronet opera uma rede nacional de fibras ópticas, e a ideia inicial era que
a Telebrás usasse essa rede para prestar serviços para o governo e para projetos
de inclusão digital. Até agora, a reestruturação da Telebrás esperava uma
solução para a situação jurídica da Eletronet, cuja falência corre na Justiça do
Rio e que é alvo de várias ações no Superior Tribunal de Justiça em Brasília.
A avaliação dos participantes foi de que a situação jurídica da Eletronet é
complicada, e que pode levar algum tempo para se resolver. Por causa disso, o
governo resolveu fazer um levantamento das redes ópticas de outras estatais,
como a Petrobras, para saber quais ativos de telecomunicações podem ser usados
agora. "O plano B é esse", disse uma fonte. O governo também busca acomodar o
interesse da Oi na Eletronet com os planos de reativação da Telebrás. A
operadora negocia com os acionistas e credores da empresa, o que levaria a uma
solução para o problema judicial que enfrenta a operadora. "Nunca uma empresa
esteve tão avançada nas negociações para compra da Eletronet", disse uma fonte
que acompanha as conversas.
O mais próximo que se chegou de uma solução da Eletronet foi a possibilidade de
venda da empresa para o Serpro, no ano passado. A estatal, que pertence ao
Ministério da Fazenda, chegou a fazer uma oferta de R$ 210 milhões aos credores
da Eletronet, que são a Alcatel-Lucent e a Furukawa. Segundo fontes de mercado,
a Oi estaria disposta a pagar menos que isso. O valor nominal da dívida já
ultrapassa R$ 600 milhões.
Os planos de reativar a Telebrás têm recebido várias críticas. A empresa nunca
foi uma operadora e, antes da privatização, atuava como holding das operadoras
que foram vendidas em 1998. Ela não foi extinta porque teve que ceder
funcionários para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e porque é
parte em várias ações na Justiça. A Telebrás recebeu este ano um aporte de R$
200 milhões do governo, para garantir seu equilíbrio financeiro. A empresa não
tem, atualmente, fontes de receita.
"Eu considero um retrocesso e um desperdício de dinheiro público ressuscitar a
Telebrás", afirmou Gilberto Garbi, ex-diretor de Operações da empresa. Juarez
Quadros, ex-ministro das Comunicações, apontou que as telecomunicações não são
carentes de investimentos privados, e que uma estatal teria muitas amarras
orçamentárias e de contratação de pessoal para atuar em um setor tão dinâmico.
"Pode ser interessante no começo, mas acaba sendo dinheiro jogado fora", disse
Quadros.
Antes da reunião da semana passada, o governo esperava assumir a rede da
Eletronet, que tem 16 mil quilômetros de fibras ópticas, para reativar a
Telebrás. A Eletronet era uma associação entre a AES e a Eletrobrás. A parte da
AES foi comprada pelo empresário Nelson dos Santos, que assumiu as dívidas e
praticamente não teve desembolso.(AE)