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Fonte:
Ethevaldo Siqueira e Estadão
[19/04/09] Sem
oposição, governo vai recriar a Telebrás
A Telebrás é hoje uma montanha de papéis velhos – representativos de
participações acionárias de órgãos públicos e de dívidas resultantes de
condenações judiciais. Mesmo sem gerar nenhuma receita, a empresa recebeu uma
dotação de R$ 200 milhões no começo deste ano para enfrentar, entre outras, suas
obrigações financeiras resultantes de multas e indenizações milionárias a que
foi condenada. A Telebrás é o retrato da viúva abandonada ao seu próprio destino
e que vai sendo devorada por seus credores. E vai precisar de outros R$ 200
milhões até o final do ano.
Privatizada no dia 29 de julho de 1998, num leilão que rendeu ao governo R$ 22,2
bilhões, equivalentes a quase US$ 19 bilhões ao câmbio da época, pela venda de
seu controle (cerca de 19% de suas ações), a velha holding das telecomunicações
não foi extinta porque teve de ceder seus funcionários à Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) em 1997.
Mas o governo Lula vê com extrema simpatia o futuro desse espectro de empresa e
está decidido a recriá-la ou reativá-la. Mesmo contra a opinião da maioria
esmagadora dos especialistas em telecomunicações do País. O estranho projeto
conta com o apoio, entre outros, da ministra Dilma Rousseff; da Casa Civil, do
ministro Hélio Costa, das Comunicações; e de Rogério Santanna, ideólogo do
projeto e secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento.
Em discurso anacrônico, Rogério Santanna defende a reativação da Telebrás,
argumentando que o Estado brasileiro precisa contar com uma operadora própria
para atender à sua demanda de serviços de telecomunicações, bem como à de suas
empresas. Na verdade, o total de gastos governamentais com serviços de
telecomunicações alcança R$ 800 milhões por ano.
PARA QUÊ?
Não terá nenhum sentido econômico o governo federal criar uma empresa operadora
própria de telecomunicações para prestar o atual volume de serviços,
especialmente se considerarmos a disponibilidade de infra-estrutura e a imensa
oferta de serviços que podem ser prestados pelas operadoras privadas. Será no
mínimo um desperdício reativar a Telebrás, sob o pretexto de que o Estado irá
dispor de comunicações mais baratas, mais eficientes e mais seguras.
A rigor, o governo federal não precisa de uma operadora de telecomunicações.
Para atender à sua demanda de serviços de telecomunicações e banda larga, será
muito mais econômico, mais eficiente e seguro contratar serviços, criptografar
as comunicações quando necessário, do que recriar uma operadora, recrutar no
mínimo 500 profissionais, investir alguns bilhões em infra-estrutura própria.
CONTRADIÇÃO
Para Rogério Santanna, o Estado brasileiro precisa voltar ao setor de
telecomunicações porque “as operadoras privadas não se sentem ameaçadas”. Esse é
o problema: "Estamos indo para o duopólio no Brasil. De um lado a BrOi e de
outro a Telefônica", argumenta.
Puro sofisma. Santanna sabe que foi o próprio governo Lula que mais batalhou
pelo duopólio, ao pressionar claramente para que a Oi comprasse a Brasil
Telecom, antes até que a legislação fosse mudada e com a oferta de generoso
apoio do BNDES e do Banco do Brasil.
O governo federal tentou, sem grande sucesso, que a Oi adquirisse a
infra-estrutura de 16 mil quilômetros de cabos ópticos da falida Eletronet,
empresa semiestatal, que tem como acionistas a Eletrobrás e Nelson dos Santos,
um cidadão que adquiriu as ações e as dívidas da ex-acionista AES Bandeirante
sem nada desembolsar.
Santos é sócio do ex-ministro José Dirceu em outras atividades e já participou
de diversos negócios com empresas estatais. É difícil entender por que alguém
compra ações que nada valem e assume um passivo de mais de R$ 200 milhões, se
não tiver a certeza de que o governo ou algum comprador futuro irá remunerar
regiamente tal “investimento”.
SEM OPOSIÇÃO
O Congresso e o Ministério Público praticamente ignoram toda movimentação
política em favor da reativação ou recriação da Telebrás. A oposição não se
manifesta, mesmo diante de todos os riscos de uma imensa negociata. Sem poder
salvar a Eletronet, cujo passivo já alcança R$ 600 milhões, o governo federal
decide recriar a Telebrás.
As verdadeiras razões do projeto são fáceis de compreender. A reativação da
antiga holding estatal de telecomunicações, no atual cenário político
brasileiro, permitirá a criação de, no mínimo, 500 vagas para nomeações de
profissionais, amigos e correligionários. Abrirá oportunidade para aquisição de
centenas de milhões de reais em equipamentos e serviços. Tudo isso seduz alguns
defensores do projeto no governo.
O quadro atual de problemas e irregularidades da Eletronet já exigiria
investigações sérias sobre essa empresa – oferecida ao Serpro há um ano e mais
recentemente à Oi, mas que continua sem qualquer perspectiva. Até aqui o maior
prejuízo causado pela Eletronet foi jogado nas costas dos fornecedores de
infraestrutura. Na próxima etapa, será posto na conta de todos os contribuintes
brasileiros.
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