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Fonte:
Valor Econômico
[10/08/09]
Projeto polêmico recria Telebrás como rede de banda larga - por Daniel
Rittner
Sem um desfecho no horizonte para incorporar a rede de fibras ópticas da
Eletronet, cuja extensão chega a 16 mil quilômetros, o governo reformulou
totalmente o projeto de reativação da Telebrás. A nova proposta, desenhada pelo
Ministério do Planejamento, prevê o ressurgimento da estatal com o uso das
infovias da Petrobras e de Furnas. Seus arquitetos argumentam que as panes do
Speedy, serviço de banda larga da Telefônica, evidenciam a urgência de aprovar o
projeto.
Mais enxuto, o novo plano coloca a Telebrás como gestora de uma rede de banda
larga ligando quatro centros urbanos. O corredor Brasília-São Paulo-Rio-Belo
Horizonte pode ser atendido por um conjunto de fibras ópticas da Petrobras. O
circuito Belo Horizonte-Brasília fecharia o anel de internet por banda larga com
a rede própria de Furnas, independente da Eletronet. Idealizadores do projeto
garantem que a intenção não é oferecer serviços de internet a consumidores
residenciais, mas impulsionar formas de " governo eletrônico " , permitindo o
atendimento direto de postos do INSS, escritórios regionais de ministérios,
delegacias, prefeituras e câmaras de vereadores.
A rede serviria como uma intranet do governo, que segue incomodado com a
dependência de redes geridas por concessionárias privadas. Segundo fontes
familiarizadas com as discussões, a administração direta - sem contar estatais e
agências reguladoras - paga às operadoras privadas cerca de R$ 500 milhões por
ano em despesas de telefonia fixa, celular e internet. Cálculos feitos pelo
Planejamento indicam uma economia de R$ 150 milhões anuais com a reativação da
Telebrás, e por isso o ministério alega que o investimento para recuperar a
estatal se paga em um período de três a cinco anos.
A proposta não é consensual e desperta polêmica no governo. O ministro das
Comunicações, Hélio Costa, é radicalmente contrário. Em conversas reservadas,
ele chama o projeto de " ideia maluca " do secretário de Logística e Tecnologia
da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, e defende sua
permanência em " ponto morto " . A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
tem " muitas dúvidas " sobre a volta da Telebrás e, segundo um interlocutor
próximo, sabe que o assunto é " desgastante " politicamente, às vésperas da
campanha presidencial. Há quase três meses a cúpula do governo não se reúne para
discutir o assunto. Problemas de agenda dos ministros, dizem fontes do
Planejamento, que apostam na breve retomada das conversas.
Embora neguem a intenção de disputar mercado com as grandes operadoras, os
formuladores do plano veem " objetivos estratégicos " na nova Telebrás e citam a
atuação " monopolista " de Oi, Telefônica e Embratel na oferta de banda larga.
Além das quatro panes do Speedy (com vendas suspensas pela Anatel), a compra da
Brasil Telecom pela Oi também é apontada como fator de preocupação. No médio
prazo, idealizadores da proposta dizem que o aumento da velocidade de
transmissão de dados tirará ainda mais receitas dos serviços de voz das teles,
com a popularização das chamadas por protocolo de internet (VoIP).
Eles também veem a tendência de encarecimento dos serviços de internet, que se
transformarão na principal receita das operadoras, e encaram a Telebrás como a
única possibilidade de levar a banda larga, numa segunda fase do projeto, a
regiões fora das prioridades do setor privado. Dão o exemplo da meta de instalar
720 novas agências do INSS em cidades pequenas, até 2010. " Por ausência de
oferta, o governo está impedido de prestar um serviço de qualidade e implantar a
promessa de tirar a aposentadoria de cidadãos em 30 minutos " , diz um
entusiasta da Telebrás.
Boa parte dos argumentos é rejeitada pelo Ministério das Comunicações, que vê a
possibilidade de uma " parceria " mais estreita com as teles. Costa atribui à
insistência na reativação da Telebrás " o atraso de um ano e meio " para
concluir uma intrincada negociação com as operadoras para levar banda larga
gratuita a 57 mil escolas públicas em zonas urbanas. Um acordo, seguido de
decreto presidencial, permitiu a troca de compromissos contratuais das
concessionárias para a instalação de postos de telecomunicação por internet nas
escolas até o fim de 2010 - mais de dez mil estabelecimentos já foram atendidos.
No fim do primeiro semestre, o governo identificou os funcionários de carreira
da estatal que podem recompor seus quadros de pessoal. Chegou a uma lista de 50
profissionais, dos quais 15 são engenheiros, muitos cedidos ao Planejamento, às
Comunicações e à Anatel. Entre eles estão nomes conhecidos, como o do
superintendente de serviços privados do órgão regulador, Jarbas Valente,
frequente candidato a uma vaga no conselho diretor da agência.
Na virada do ano, o Tesouro definiu uma capitalização de R$ 200 milhões na
Telebrás, o que foi interpretado como sinal claro de sua reativação. Mas os
sinais foram errôneos: o maior objetivo era fazer provisões para o pagamento de
indenizações trabalhistas e eventuais derrotas em ações judiciais de grande
valor.
A solução para o passivo da Eletronet, a tempo de basear na rede da empresa
falida o ressurgimento da Telebrás até o fim do governo Lula, é considerada
improvável em Brasília. O próprio presidente demonstra certa desesperança. " A
gente não consegue pegar uma coisa que é nossa, para a gente poder levar
internet banda larga para onde quiser " , disse Lula, na recente entrega de
computadores a alunos da rede pública do Rio.
Desta vez, no entanto, diversas áreas do governo prometem discrição no
tratamento do assunto e se preocupam com especulações no mercado financeiro. "
Temos que ter muito cuidado com inside information " , afirma um dos
negociadores do projeto.