WirelessBRASIL

WirelessBrasil  -->  Bloco Tecnologia  -->  Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2009

Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo



Fonte: NetMarinha - Origem: Valor Econômico - Editorial

[13/08/09]  
A Telebrás e as vacas leiteiras  
 
O assunto mais quente quando se fala de inclusão digital no país é a volta em grande estilo da Telebrás. O foco da discussão é a proposta que está em gestação no Ministério do Planejamento, colocando a estatal como gestora de infraestrutura de banda larga para levar a internet a escolas de todo o país. A rede atenderia a outros serviços públicos, como a área de segurança. A Telebrás, hoje com poucos funcionários, seria revigorada e receberia recursos federais.
 
O assunto tomou novo rumo nos últimos dias com a decisão do Tribunal de Justiça do Rio sobre um agravo de instrumento referente à massa falida da Eletronet. Foi concedida a possibilidade de outro controlador assumir a posse da rede de fibras ópticas da empresa que corta o país e não estão sendo utilizadas. A avaliação é que a primeira porta foi aberta para que a infraestrutura possa voltar ao poder público desde que atenda o direito dos credores.
 
A nova Telebrás é uma candidata, mas nada está claro. O caminho natural para a revitalização da estatal é via Ministério das Comunicações, que está fechado em copas. Há quem afirme que o ministro Hélio Costa e sua equipe não vislumbram um projeto estruturado o suficiente para que haja um posicionamento explícito. A ideia seria não antecipar o ônus político de uma decisão nesta linha sem ficar bem claro que os fins justificam os meios.
 
Criar ou promover o renascimento de estatais neste país é quase um trauma. Não é à toa que a discussão em torno das normas para exploração do pré-sal, que, de certa forma, promete trazer de volta o monopólio estatal, esteja causando tanta polêmica. Com honrosas exceções, as estatais tornam-se, no mínimo, ninhos para disputas de políticos e, quando a área de atuação exige acompanhar avanços da tecnologia, a coisa tende a se complicar, como aconteceu na própria telefonia.
 
Não se pode afirmar que as prestadoras de serviços de telecomunicações sejam exemplos de gestão ou ofereçam sempre o último grito da tecnologia. A Telefônica, por exemplo, está enfrentando talvez os dias mais difíceis desde que chegou ao país com os problemas na banda larga. Com todas as insatisfações e altos índices de reclamação do consumidor, porém, o histórico brasileiro no setor indubitavelmente foi de melhora após a privatização.
 
Rogério Santana, secretário de e Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, um dos pais do projeto de recriação da Telebrás, rejeita o rótulo de estatizante ao projeto. Avalia que o modelo da economia de mercado não cria condições para que as operadoras cheguem com banda larga aos pontos mais distantes do país. Por isso, ou o governo parte para implementação de uma rede própria ou os mais desassistidos ficarão de fora da chamada inclusão digital.
 
Ele lembra que o acordo entre as teles e a Anatel estabeleceu que a instalação de rede de banda larga beneficia 56 mil escolas públicas urbanas, mas deixou de fora 86 mil, do total de 142 mil unidades em todo país. E ele avalia que a rede estatal, pelo menos, poderia interligar mais 30 mil escolas públicas em regiões mais distantes, sem contar com outros serviços públicos que teriam condições de ser prestados.
 
Para ele, as operadoras não têm interesse em desenvolver uma rede de banda larga ampla. A razão é que iriam canibalizar seus próprios mercados. Diz que o serviço de voz é hoje "uma vaquinha leiteira" que rende às operadoras, descontados os impostos, R$ 98 bilhões por ano. "O usuário paga todo mês R$ 40 mesmo sem pegar no telefone. Com o avanço da banda larga, voz será commodity", disse, referindo-se à possibilidade de uso da internet para falar sem ônus para o usuário.
 
A utilização da rede da Eletronet por uma futura gestora estatal de rede de banda larga, segundo Santana, seria um movimento natural. "A empresa é privada, mas a infraestrutura veio das distribuidoras de energia elétrica que foi cedida a uma joint venture da LightPar em associação com a AES que não integralizou o capital. As fibras ópticas que não estão em uso devem ser devolvidas ao governo brasileiro", afirma. Independentemente da defesa em torno da recriação da Telebrás, contudo, Santana diz que não precisa ser forçosamente ela a voltar a cena. "O presidente Lula nos ordenou há mais de dois anos que fosse criado um projeto de inclusão digital. O governo é que vai ter que decidir qual o veículo. Pode ser a Telebrás ou a Eletrobrás", disse, lembrando que a Telebrás já tem até recursos para dar partida ao projeto".
 
Santana afirma que apenas a discussão em torno da criação de uma estatal com infraestrutura de banda larga já pode ser considerada um sucesso como instrumento de pressão para que as teles reduzam os preços de prestação de serviços para o poder público. Informa que, no projeto de banda larga atendendo 56 mil escolas urbanas, o valor inicial apresentado pelas concessionárias foi "de R$ 9 bilhões e acabou caindo para R$ 3 bilhões".
 
O Estado tem por si só peso na negociação. Um exemplo aconteceu no Rio de Janeiro. O governo do Estado chegou a pagar R$ 88 milhões por ano de conta de telefone. Diante da cifra, foi montado um projeto para reduzir os gastos. Realizou-se um pregão presencial em que participaram a Oi e a Embratel/Claro que durou dois dias e meio, com 2,7 mil lances. O vencedor, da Oi, apresentou tarifas que podem reduzir os gastos para R$ 8 milhões anuais.
 
O secretário da Casa Civil do Estado, Regis Fichtner, diz que ainda não terminou o processo de implementação da nova rede. Tanto os telefones fixos como os celulares vão se comunicar entre si como fosse uma ligação entre ramais, sem custo. O processo ainda não está finalizado, mas só na na Casa Civil, segundo Fichtner, já houve uma redução de 50% da conta telefônica.
 
As Forças Armadas estão montando uma Parceria Pública Privada (PPP) para lançamento de um satélite de comunicação. As regras estabelecem que a parceira seja 100% brasileira e que as estações em terra sejam operadas pelos militares. Só o satélite vai custar R$ 500 milhoes e a Oi está de olho na parceria.
 
Há quem defenda que uma PPP poderia ser um caminho a considerar para os projetos do governo Lula de inclusão digital. As Forças Armadas saíram na frente.