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Fonte:
Tele.Síntese
[28/08/09]
Governo deve definir futuro das fibras da Eletronet no início de setembro
(Entrevista com Rogério Santanna) - por Lúcia Berbert
A publicação do acórdão com a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
sobre a Eletronet, esta semana, apressou os debates do governo sobre a
utilização desse ativo para ampliar a oferta de banda larga no país. O tribunal
aprovou, por unanimidade, o cumprimento do que já havia sido decidido no ano
passado, de conceder ao governo a imissão de posse (assumir o direito) de
controle de toda a fibra óptica não utilizada e que estava sob a gestão da massa
falida da Eletronet. O Executivo solicitou reaver as fibras apagadas e, também,
o direito de pagar aos credores privados com títulos públicos em vez de recursos
orçamentários. A Eletronet continuará funcionando, sob a administração do
síndico da massa falida.
A idéia inicial do governo é iluminar as fibras para criar uma intranet ligando
os principais centros do país às bases de dados públicas mais importantes, como
as do Serpro, da Dataprev, dos Correios, da RNP (Rede Nacional de Pesquisa).
“Depois, fazendo o backhaul, poderemos trabalhar para ligar as cidades digitais
que estão prontas no país e as que irão ser feitas. O potencial da rede é muito
grande”, defende o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do
Ministério do Planejamento, Rogério Santanna.
Cobrados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os representantes dos
ministérios envolvidos devem se reunir no início de setembro para tomar uma
posição sobre o assunto. A primeira decisão será definir qual empresa pública
vai operar essa rede, de quase 16 mil quilômetros de fibras óticas. Na opinião
de Santanna, a escolha ideal é a Telebrás, porque reúne os atributos necessários
para a operação.
Leia, a seguir, trechos da entrevista exclusiva do secretário da SLTI ao
Tele.Síntese.
Tele.Síntese - O que acontecerá após a publicação da decisão do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro sobre a Eletronet, efetivada nesta quarta-feira?
Rogério Santanna. O acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro acolhe o
nosso pedido na íntegra. Isso significa que, assim que as elétricas receberem o
ofício do tribunal, deverão emitir a posse dos pares de fibras óticas não
utilizados nesse momento, que são a maioria no backbone de quase 16 mil
quilômetros existentes.
O governo precisa definir qual das empresas públicas vai operar esse ativo, se
vai ser a Telebrás, se vai ser outra empresa pública, se vai ser o Serpro, a
Dataprev, pode ser alguma das subsidiárias da Eletrobrás, a Eletrosul ou a
Eletronorte.
Agora, a criatividade da justiça do Rio de Janeiro em protelar o cumprimento da
decisão é algo inimaginável. A decisão foi tomada há um ano e a juíza resolveu
não cumprir. O Recurso Extraordinário da Eletrobrás, que acabou acatado neste
mês, é para fazer cumprir o que já havia sido decidido lá atrás.
Tele.Síntese - Como será usada a rede?
Rogério Santanna - A proposta é fazer uma intranet de governo ligando os
principais centros do país às bases de dados mais importantes, como as do
Serpro, da Dataprev, dos Correios, da RNP. Depois, fazendo o backhaul, pode-se
trabalhar para ligar as cidades digitais que estão prontas no país e as que irão
ser feitas. O potencial da rede é muito grande.
Tele.Síntese - Quanto precisará ser investido nisso?
Rogério Santanna - Para que isso seja feito, incluindo um ponto de conexão em
todas as cidades do Brasil em fibras óticas, um backhaul que ligue todos os
prédios públicos, as prefeituras do país, serão necessários investimentos da
ordem de R$ 3 bilhões. O que é muito pouco perto do que a Austrália está
gastando para fazer o mesmo que queremos, gastando US$ 31 bilhões. E a Austrália
tem uma população muito menor e pouca complexidade. Então, eu diria que é uma
pechincha.
Tele.Síntese - O projeto tem o apoio do Planalto?
Rogério Santanna - O pronunciamento do presidente Lula em Piraí, no final de
julho, reclamando da morosidade desse processo, que já tramita há mais de cinco
anos na Justiça, contribuiu para que houvesse mais empenho da justiça carioca.
O presidente está muito interessado nisso. Na abertura do Congresso de Software
Livre, nesta quarta-feira, ele cobrou agilidade para que o governo possa se
posicionar sobre o futuro da rede. Os ministros ligados ao tema devem se reunir
no início de setembro para tomar as decisões, definir a empresa que irá operar o
serviço, se for a Telebrás, será preciso rever a estrutura, se vai manter ou
trocar a diretoria.
Tele.Síntese - Sua preferência é pela Telebrás...
Rogério Santanna - Pela avaliação técnica, a decisão pela Telebrás fará com que
as coisas aconteçam mais rápido. Porque toda a parte jurídica e societária já
foi estudada. Se optar por outra empresa pública, esse estudo terá que ser feito
para ver se há implicações no estatuto delas.
O estatuto da Telebrás é combatível com a atribuição, a empresa é bem
estruturada, tem funcionários da área, tem tudo para assumir esse papel. A LGT
(Lei Geral de Telecomunicações), inclusive, já prevê isso, que o ministro das
Comunicações pode dar outra atribuição a ela, se assim entender, desde que seja
correlata com as suas funções.
Tele.Síntese - Então por que sempre há resistências quando se fala nisso?
Rogério Santanna - Têm outras avaliações que não são meramente técnicas. Um dos
ataques que a Telebrás sofre sistematicamente é com relação ao fantasma da
privatização. Ou seja, uma questão política, já que a área de banda larga nunca
foi estatizada no Brasil, tem mais de 1.400 empresas de SCM (Serviço de
Comunicação Multimídia) e não tem nenhum sentido essa discussão. Não se está
estatizando nada em termos de telefonia fixa, que continua sendo uma concessão.
A telefonia móvel também não está em questão.
E o governo não tem nenhum impedimento para atuar nesta área. E se a iniciativa
privada tivesse resolvido o problema da banda larga no Brasil, nem precisaria
fazer isso. Só que não resolveu, muito pelo contrário, como nós vimos o caos em
São Paulo. O estado mais rico do país, com uma renda per capita muito superior a
alguns países da Europa, sofreu um caladão. Sem falar que no mundo dos
esquecidos que ainda hoje não têm conexão. Manaus, por exemplo, tem uma banda
larga 10 vezes mais cara do que a mais cara banda larga do mundo, que é a nossa.
Então o mercado não resolveu o problema de conexão no Brasil.
Estive na Austrália e lá a situação não era diferente, mas o governo já definiu
sua atuação e está levando banda larga em alta velocidade para as casas.
Tele.Síntese - Você defende a banda larga como um serviço público?
Rogério Santanna - A banda larga não precisa ser um serviço público, pode
continuar privado, mas é preciso a atuação pública para prestar o serviço onde a
iniciativa privada não tem interesse econômico. O país não pode ficar esperando.
A atuação do governo pode servir até de incentivo para que a empresa privada
também ofereça o serviço, fomentando a competição.
Toda vez que o fantasma da Telebrás ronda a Esplanada, as companhias telefônicas
fazem concessões ao governo. Foi assim que conseguimos a conexão de 55 mil
escolas públicas urbanas.