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Fonte:
Ethevaldo Siqueira
[14/06/09]
Uma estatal
inteirinha para ser aparelhada - por Ethevaldo Siqueira
Depois de vários anúncios e balões de ensaio lançados pelo segundo escalão, o
governo federal emudeceu nas últimas semanas e recusa-se a debater sua decisão
de reativar a Telebrás. De repente, o projeto virou assunto proibido, embora
seja importante demais para ser encaminhado como vem sendo, sem debate, sem
qualquer participação do Congresso ou da opinião pública. Nos bastidores,
entretanto, o governo acelera o passo. Prova disso é o pedido que o Executivo
acaba de fazer à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para que devolva
50 funcionários da Telebrás cedidos ao órgão regulador.
Mesmo com uma máquina estatal inchada, ineficiente e cara, o governo federal
prefere gastar milhões inutilmente ao reativar uma velha estatal, que deverá ter
no mínimo 500 empregados, entre engenheiros, técnicos e administradores. Os
primeiros recrutados são antigos funcionários da Telebrás, que retornarão da
Anatel, à qual foram cedidos em 1998. Poucos, entretanto, estarão preparados
para conduzir uma empresa prestadora de serviços de telecomunicações – até
porque a Telebrás nunca foi operadora, e, sim, uma holding que controlava 27
subsidiárias.
PASSADO vs. PRESENTE
Não há como estabelecer qualquer paralelo entre o desempenho histórico da
Telebrás e o das empresas privadas que a sucederam. Examinemos apenas dois
indicadores. Tudo que o Sistema Telebrás realizou ao longo de 26 anos
(1972-1998) se resumiu numa oferta de 24,5 milhões de telefones (entre fixos e
celulares) ou a média nacional quase franciscana de 14 telefones por 100
habitantes.
Com a privatização, em apenas uma década o Brasil passou a contar com 196,7
milhões de acessos, alcançando a densidade nacional de 104 telefones por 100
habitantes. Por outras palavras, o Brasil tem hoje mais telefones do que gente.
A capacidade de investimento do governo brasileiro em infraestrutura continua
sendo muito baixa e, portanto, está muito aquém das necessidades de um setor
como o de telecomunicações.
RAZÕES INCONSISTENTES
Diante da imensa oferta de serviços, de tecnologia moderna e de infraestrutura,
é fácil concluir, portanto, que o País não precisa de nenhuma estatal de
telecomunicações, pois, contrariamente a todos os argumentos do governo, a
reativação da Telebrás não irá “proporcionar maior economia ao setor público”
nem “conferir maior segurança aos serviços de telecomunicações governamentais”.
E não há também nenhum sentido prático em atribuir à Telebrás a missão de
liderar o projeto de inclusão digital, pois existem soluções muito mais
econômicas e eficazes do que transformar essa estatal em “gestora de uma rede
nacional de banda larga, com o objetivo de levar o acesso à internet rápida a
todo o País”.
Outro objetivo alegado para a recriação da Telebrás seria operar um satélite
geoestacionário estatal brasileiro e com ele atender às necessidades de
telecomunicações governamentais e aeronáuticas. Equívoco total, pois, nessa
área, o País dispõe de 42 satélites de telecomunicações autorizados a operar no
território nacional, sendo 4 da Embratel, preparados inclusive para comunicações
militares com a Banda-X.
Nesta altura, o governo federal parece ter desistido do último objetivo, que era
o de operar a rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica da falida
Eletronet, estatal formada pela Eletrobrás e pela americana AES, cujo passivo já
supera os R$ 600 milhões.
Como se vê, não há nenhuma necessidade estratégica ou econômica que justifique a
recriação da estatal, a não ser o apetite de velhas raposas partidárias de
ampliar o aparelhamento do Estado e reforçar sua campanha eleitoral de 2010. Com
todo o risco de corrupção.
SÓCIO QUE NÃO INVESTE
Mesmo sem nada investir no setor de telecomunicações nos últimos 11 anos, o
governo tornou-se o maior sócio do setor. Basta lembrar que, depois de
privatizadas, as telecomunicações transformaram-se em verdadeira mina de ouro
para a União e os Estados, ao recolherem anualmente mais de R$ 40 bilhões de
impostos, com alíquotas que chegam a quase 50% sobre o valor das tarifas. Nenhum
país do mundo cobra tanto imposto sobre telecomunicações. Um verdadeiro
escândalo.
A voracidade estatal parece não ter limites. Além dos R$ 40 bilhões de tributos
pagos pelos usuários, a União arrecada mais três fundos no setor: o Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), o Fundo de Fiscalização
sobre Serviços de Telecomunicações (Fistel) e o Fundo de Tecnologia de
Telecomunicações (Funttel).
Tomemos o exemplo do Fust. A arrecadação acumulada e não utilizada desse fundo
deverá alcançar dentro de alguns meses a impressionante soma de R$ 10 bilhões.
Em lugar de investir esses recursos para levar serviços de telecomunicações às
áreas mais pobres, como determina a lei, o governo simplesmente os confisca,
exatamente como faz com 75% dos R$ 2 bilhões do Fistel arrecadados a cada ano.
Essa é a ética do Estado brasileiro, não apenas em telecomunicações, mas como
tem sido há décadas em tantas outras áreas. Remember precatórios.