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Leia na Fonte: Estadão
[31/03/09]
Oi negocia comprar Eletronet, empresa falida do governo - por Renato Cruz
Criada pela Eletrobrás e AES, Eletronet tem hoje sócio que não desembolsou nada
por ela
Depois da compra da Brasil Telecom (BrT) no ano passado, a Oi se prepara para
entrar em mais um negócio polêmico: a compra da Eletronet, empresa criada numa
associação entre a americana AES e a Eletrobrás e que se encontra em processo de
falência, que corre na Justiça Estadual do Rio de Janeiro. A Eletronet opera uma
rede de fibras ópticas de 16 mil quilômetros, presente em 18 Estados
brasileiros.
Segundo fontes de mercado, houve há duas semanas uma reunião entre a Oi e os
credores da Eletronet, a Furukawa e a Alcatel-Lucent, que forneceram a rede da
empresa e micaram com uma dívida que já ultrapassa R$ 600 milhões. Ainda não
foram acertados valores, mas, enquanto é negociado o preço, as empresas já
trabalham nas minutas dos contratos. Existe uma distância grande entre o valor
pedido pelos credores e o oferecido pela Oi.
Em 2007, os credores chegaram a negociar a venda da Eletronet com o Serpro, que
pagaria cerca de R$ 210 milhões pelas empresas. Recentemente, o governo fez um
depósito judicial de R$ 300 milhões, no processo de falência que corre no Rio,
para tentar retomar a infraestrutura. Ainda não existe uma proposta firme da Oi
sobre a mesa, e está marcada uma reunião para a próxima semana, quando a
aquisição pode ser finalizada. A Oi, a Alcatel-Lucent e a Furukawa não quiseram
comentar o assunto.
Para fechar o negócio, a Oi também negocia com os controladores, que são a
Eletrobrás e o empresário Nelson dos Santos, que comprou a participação da AES
sem desembolsar praticamente nada, em troca de assumir as dívidas da operadora.
Santos foi o responsável por negociar as dívidas da AES, referentes às empresas
de energia que comprou no Brasil, com o BNDES. O empresário tem negócios com
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. A Eletrobrás disse que não tinha
informações sobre o assunto. Já o empresário preferiu não se pronunciar.
Se concretizada, a compra de Eletronet será o terceiro negócio polêmico da Oi em
que o governo está envolvido. Em 2005, a operadora investiu R$ 5 milhões na
Gamecorp, empresa que tem entre seus sócios Fábio Luis Lula da Silva, filho do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado, o governo promoveu uma
mudança na regulamentação das telecomunicações para que a Oi pudesse comprar a
BrT. Com essa aquisição, a Oi já passou a operar uma rede nacional de fibra
óptica, parecida com a da própria Eletronet. Além da Oi e da Eletronet, apenas a
Embratel possui uma rede desse tipo.
Antes das negociações com a Oi, outras operadoras privadas chegaram a estudar a
compra da Eletronet, mas as conversas não prosperaram. "Somente uma empresa como
a Oi poderia ter sucesso nessa negociação", disse uma fonte, que pediu para não
ser identificada. A negociação é complexa, pois envolve os credores, o sócio
privado e a Eletrobrás. A Eletronet usa as linhas de transmissão da Eletrobrás,
por onde passam seus cabos de fibra óptica.
Se o negócio não der certo, existem setores do governo que estudam fazer com que
a Eletronet seja incorporada pela Telebrás, fazendo com que a antiga estatal de
telecomunicações volta a ser uma operadora. A Telebrás era a holding que
controlava as operadoras de telecomunicações privatizadas em 1998, e hoje existe
somente para emprestar funcionários à Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) e para gerir seu passivo judicial. Existem várias ações na Justiça em
que a operadora estatal é ré.
Este ano, a Telebrás recebeu um aporte de R$ 200 milhões do governo, com o
objetivo de reequilibrar suas contas e, posteriormente, transformá-la numa
empresa que iria levar banda larga para as cidades que ainda não contam com o
serviço.