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Fonte: Ethevaldo Siqueira
[11/10/09]
Como
poupar R$ 15 bilhões na banda larga - por Ethevaldo Siqueira
Felizmente, o bom-senso ainda pode prevalecer. Até há 3 dias, tudo indicava que
a tese estatizante iria prevalecer no Plano Nacional de Universalização da Banda
Larga. A nova esperança surgiu na quinta-feira, com a reunião promovida pelo
ministro das Comunicações, Hélio Costa, com os presidentes das maiores
operadoras de telecomunicações – Oi, Embratel, Telefônica, TIM e Claro –,
convidando-as a oferecer no prazo de 30 dias um plano alternativo de banda
larga, com investimentos privados, e aproveitando ao máximo a vasta
infraestrutura de cabos ópticos e sem fio das teles, em lugar de implantar uma
nova rede, com a reativação da Telebrás.
A novela da banda larga começou em 2008, por sugestão do ministro Hélio Costa,
das Comunicações, que propôs, sem nenhum estudo ou debate, a reativação da
Telebrás. Depois de muitos meses, a proposta virou bandeira política de Rogério
Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, e César Alvarez, assessor especial da Presidência da República.
Num discurso ideológico e apaixonado, esse grupo critica o modelo privatizado
das telecomunicações e prega a recriação da Telebrás, para que a empresa
coordene e opere a rede nacional de banda larga a ser montada sobre a
infraestrutura estatal de cabos de fibras ópticas; e passe a prestar todos os
serviços de telecomunicações ao governo federal e suas empresas.
TESE QUASE VITORIOSA
A tese estatal de reativação da Telebrás parecia vitoriosa dentro do governo.
Num lobby interno e com argumentos puramente ideológicos, um grupo de
funcionários do segundo escalão liderados por Rogério Santanna vinha defendendo,
há cerca de um ano, a reativação da Telebrás, para que a velha estatal viesse
assumir, sem a participação das empresas privadas, a coordenação e a operação da
futura Rede Nacional de Banda Larga.
O curioso é que esse lobby dentro do governo não tem atuado apenas com
balões-de-ensaio, mas com declarações extemporâneas que provocam variações
brutais de cotação nas ações da Telebrás. Seria oportuno saber quem está
lucrando com essa manipulação de ações. Como a rede de cabos de fibra óptica da
Petrobrás, Furnas e da falida Eletronet não tem capilaridade suficiente para
interligar os 5.564 municípios brasileiros, o governo federal teria de investir
muitos bilhões com esse objetivo.
R$ 15 BILHÕES
Em resumo: o País poderia desperdiçar no mínimo R$ 3 bilhões. Ou muito mais,
pois esse valor não passa de um chute de Rogério Santanna, o mesmo cavalheiro
que havia previsto há uma semana a necessidade de apenas R$ 1,1 bilhão para dar
maior capilaridade à rede.
O custo mais provável de um projeto dessas dimensões, no entanto, poderá chegar
a R$ 15 bilhões, segundo estimam os especialistas. O ministro Hélio Costa
calculou em R$ 10 bilhões os investimentos a serem feitos na infraestrutura de
fibras ópticas das estatais para levar a banda larga ao interior do País –
interligando escolas, hospitais, postos de saúde e delegacias de polícia. “O
governo não tem esse dinheiro”, arrematou.
Como o Brasil dispõe hoje de mais 200 milhões telefones, entre fixos e
celulares, e de uma vasta infraestrutura de redes fixas e móveis, de satélites,
de cabos metálicos e fibras ópticas, a operação física de um projeto nacional de
inclusão digital poderia ser feito pela iniciativa privada, sem necessidade de
grandes investimentos governamentais.
Em síntese, o Brasil não precisa de nenhuma estatal para coordenar seu projeto
de inclusão digital porque dispõe não apenas de infraestrutura, mas também de
oferta de tecnologias e serviços avançados.
CAPILARIDADE
Por maior que seja, no entanto, essa infraestrutura privada também não tem a
capilaridade necessária para alcançar todos os municípios num projeto nacional
de inclusão digital. Para ramificá-la e levá-la até a zona rural de muitas
regiões, o melhor modelo hoje seria o de parceria público-privada (PPP), do
esforço conjunto entre governo e as teles, integrando as redes operadoras com as
redes estatais.
Na primeira reunião do chamado Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital,
realizado na segunda-feira passada, com a presença do presidente Lula e dos
ministros Paulo Bernardo, do Planejamento, Dilma Rousseff, da Casa Civil, e
Hélio Costa, para debater as linhas gerais do Plano Nacional de Universalização
da Banda Larga, a única sugestão abrangente foi de Rogério Santanna, defendendo
a reativação da Telebrás, não apenas para participar da inclusão digital, mas
para prestar serviços de telecomunicações ao governo e a todas as suas empresas.
A princípio, Lula pareceu entusiasmado, mas quando lhe disseram, no dia
seguinte, que os investimentos na infraestrutura poderiam chegar a R$ 3 bilhões,
o presidente pediu um plano alternativo.
SEM MILAGRE
Isoladamente, a rede de banda larga não faz milagre. Ela é apenas uma parte da
solução do problema educacional e da própria inclusão digital. De nada valerá
contar com a melhor rede, se o governo não fizer sua lição de casa, se não
investir pesadamente em educação, em especial no treinamento e na atualização
permanente dos professores, na adequação de currículos, na modernização e na
melhoria das escolas, inclusive nos terminais e equipamentos de banda larga,
para que o País possa utilizar da melhor forma possível a oferta de internet de
alta velocidade.
PAPEL DO ESTADO
O governo Lula parece não compreender, entretanto, que, em telecomunicações, o
verdadeiro papel do Estado engloba tarefas muito mais nobres, como regular,
elaborar políticas públicas e programas, fixar normas, estabelecer metas e
objetivos, negociar a participação de todas as empresas operadoras ou teles,
integrar a infraestrutura existente, conduzir parcerias público-privadas,
fiscalizar tudo com o maior rigor e estimular as empresas privadas a inovar e a
investir permanentemente nos diversos segmentos desse mundo digital.
Não se trata de defender a tese do Estado mínimo. Para bem cumprir sua missão, o
Estado precisa ser forte, mas sem nenhum gigantismo. É essencial que esteja
preparado para cumprir seu papel social. Até porque, como ensina a história, as
soluções 100% estatais são sempre mais caras, menos eficazes e sujeitas à
corrupção e ao empreguismo.
É preciso estimular sempre a colaboração entre iniciativa privada e governo,
para que o País não seja vítima de aventuras estatizantes que podem pulverizar
não apenas R$ 3 bilhões mas muito mais.
O governo fala também em baixar o preço dos serviços de banda larga. Se
realmente o quisesse, deveria começar por reduzir ou eliminar a brutal alíquota
de quase 50% de tributos que incide sobre todos os serviços de telecomunicações.
O que nos tem surpreendido negativamente nesse episódio é a ausência quase total
de discussões e da crítica do Congresso.