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Fonte: Rádio do Moreno - Origem: O Globo
[20/10/09] O
coelho e a tartaruga - por Benito Paret
Benito Paret é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio (SEPRORJ).
Em setembro o presidente Lula reuniu-se com o Comitê Gestor do Programa de
Inclusão Digital, ministros de Estado, BNDES e agências reguladoras. Discutiram
por mais de três horas a estruturação de uma rede pública nacional de
transmissão de dados em banda larga.
Analisou-se a interligação de redes setoriais já existentes, como a Rede
Nacional de Pesquisas, a Eletronet, o uso das linhas elétricas da Eletrobrás e
possibilidades de conexão por fibras ópticas com estatais e outras entidades
públicas. É uma excelente notícia. O Brasil precisa de um Estado eficiente.
Temos também o projeto de Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa-Redecomep,
que promoverá até o fim do ano a implantação de redes metropolitanas
comunitárias em 27 cidades, reforçando com conexões rápidas a área de ensino,
pesquisa e desenvolvimento. Mas, de novo, não se enxerga a questão da
infraestrutura para a internet de forma global. Teremos uma rede pública de
primeiro mundo convivendo com um serviço de internet de terceiro mundo para o
restante da população. O coelho ao lado da tartaruga.
Embora todos concordem que é urgente que se crie uma sólida rede de transmissão
de dados em banda larga que cubra por inteiro o território nacional, como já se
fez em todo o mundo desenvolvido, o que se tem discutido até aqui se resume à
área pública e a questões de conteúdo.
Com a proximidade das eleições, o Congresso realizou longos debates sobre regras
para a propaganda eleitoral na internet, o fenômeno das redes sociais, o uso do
twitter e do orkut para o relacionamento com os eleitores. Estudam-se formas de
combater a pedofilia na rede, enquadram-se sites de jogos ilegais. Só falta
discutir a fundo como melhorar a eficiência e o acesso do cidadão comum e das
empresas às redes de comunicação.
Mais que isso. Sem acesso democrático e em alta velocidade em banda larga para
toda a sociedade — incluídas, evidentemente, as empresas — corremos o risco de
comprometer o crescimento futuro numa economia global que se interliga cada vez
mais pelas supervias de informação.
A questão que se coloca é qual o modelo que queremos para o desenvolvimento da
área de tecnologia da informação no Brasil. Ninguém põe em dúvida o papel
preponderante do setor de serviços na economia do século XXI. Basta ver a curva
em crescimento exponencial do comércio eletrônico. Nem se duvida que sem uma
sólida estrutura de TI nenhum país pode aspirar a grandes saltos de
desenvolvimento no mundo que se desenha. Mas não basta reconhecer essa
realidade.
É preciso que o governo, a quem cabe induzir o desenvolvimento e providenciar
infraestrutura, passe do reconhecimento à ação. Na sociedade do conhecimento
trafegarão cada vez mais, pelas grandes redes, arquivos integrados por vídeos e
conjuntos de imagens em alta resolução. A convergência digital — aí incluída a
HDTV, pagers, celulares, palm-tops e outras formas de conexão — exigirá um
sistema de banda larga de alta velocidade.
O que se espera, portanto, é que as empresas e o cidadão comum, que acessam a
internet, não sejam alijados dessa discussão.