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Fonte: Clipping MP - Origem: Folha
[06/04/10] Vivo
questiona plano do governo para banda larga - por Julio Wiziack (Entrevista
com Roberto Lima, presidente da Vivo)
"Governo seguirá regras a que nos submetemos?", diz Roberto Lima, presidente
da tele
Executivo defende ainda que consumidor de banda larga se discipline ao usar o
serviço, para amenizar congestionamento da rede
Maior operadora de telefonia celular do país, com 53 milhões de clientes e
faturamento de R$ 16,3 bilhões em 2009, a Vivo acaba de atingir a nota máxima
conferida pela agência de avaliação de risco Standard & Poor"s a uma empresa por
sua capacidade de gerar caixa e pagar suas dívidas. Quase no mesmo dia, a
companhia chegou a Guariba, cidade do Piauí símbolo do Fome Zero.
"Não estamos disputando clientes nas cercanias dos shoppings de São Paulo",
disse Roberto Lima, presidente da Vivo. "Estamos, sim, fazendo a inclusão
digital no país." Lima critica o plano federal para banda larga e diz que, com a
liberação do Fust [Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações,
custeado por taxa na conta de telefone], a iniciativa privada cobriria o país em
velocidade maior que a do governo em se aparelhar.
FOLHA - É razoável a competição com o governo na oferta de banda larga após a
privatização do setor?
ROBERTO LIMA - Acho que não precisa. Esse projeto [Plano Nacional de Banda
Larga] não partiu do órgão regulador [Anatel] nem do Ministério das
Comunicações, que estão mais próximos das dificuldades do setor. Neste ano, as
quatro operadoras móveis devem investir R$ 10 bilhões sem contar os bilhões de
reais aplicados até hoje. O problema de acesso não é falta de investimento.
FOLHA - O PNBL prevê investimentos entre R$ 3 bilhões e R$ 15 bilhões para levar
internet a 68% dos domicílios até 2014. É possível?
LIMA - Não sei como. Eu administro uma empresa que investirá R$ 2,49 bilhões
neste ano. Com a reativação da Telebrás, pode ser que o governo consiga. Com que
custo e a que preço eu não sei. Agora tem outra forma. Poderiam alugar a rede
[16 mil quilômetros de fibras ópticas da Eletronet, empresa do governo e do
grupo Contem] para a iniciativa privada. Eu gostaria de alugá-la imediatamente
para prestar o serviço onde hoje não atuamos. Se o governo quer fazer esse
trabalho, será que vai operar sob as mesmas regras a que estamos submetidos?
FOLHA - Um dos argumentos para implantar o PNBL é que é preciso levar a internet
a locais onde as teles não têm interesse comercial. O Fust [Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações] não deveria ter sido usado
para isso?
LIMA - Só que o Fust está contingenciado. Esse dinheiro é arrecadado pela Anatel
e vai direto para o Tesouro. A gente pressiona todo dia pela liberação.
FOLHA - Por que a cobertura em cidades menores interessa menos para as
operadoras?
LIMA - Investir nos grandes centros, onde já existe uma rede instalada,
significa receita injetada na veia. Quando se leva a infraestrutura para uma
cidade sem cobertura se faz uma aposta em um prazo maior. Agora, a Vivo não está
brigando nas cercanias dos shoppings de São Paulo. Estamos, sim, fazendo a
inclusão digital no país. Em Roraima, entramos em cidades com menos de 6.000
habitantes. Em 2009, incluímos 80 cidades além das metas da Anatel. Acabamos de
chegar à cidade de Guariba, no Piauí, símbolo do Fome Zero.
FOLHA - Essa inclusão não penaliza a classe que paga mais tanto no pós-pago
quanto na telefonia fixa?
LIMA - Lá atrás, quando decidiu-se que haveria um estímulo para o
desenvolvimento do celular no país, definiu-se o seguinte modelo. De toda
ligação de uma operadora fixa que terminasse em um telefone celular, as móveis
cobrariam das fixas uma tarifa de interconexão [pelo uso de suas redes] de R$
0,40 por minuto. Para que esse sistema ficasse equilibrado, estabeleceu-se que
as fixas cobrariam de seus clientes a assinatura básica. Se não fosse assim, não
teríamos tantos acessos na telefonia móvel ou teríamos de cobrar mais dos
clientes que hoje não podem pagar.
FOLHA - Analistas afirmam que a interconexão torna o minuto de celular no país o
segundo mais caro do mundo. Os pré-pagos, que respondem por 80% da base de
clientes, não pagam essas tarifas porque, em geral, só recebem chamadas.
LIMA - Dependendo do mês, 40% de nossos clientes [pré-pagos] não fazem recargas.
Se não fosse a VUM [tarifa de interconexão] cobrada quando essas pessoas recebem
ligação de concorrentes, não teríamos receita. E temos custos só para mantê-los
na base. Quando um pré-pago é habilitado, pagamos R$ 26 à Anatel. Para renová-lo
a cada ano, mais R$ 13. Isso sem contar os custos quando ele acessa o call
center, por exemplo. A Vivo tem 53 milhões de clientes. No último dia 30,
pagamos R$ 650 milhões só com essas taxas à Anatel. Essa foi a forma encontrada
para fazer distribuição de renda pelo sistema. Caso contrário, não daria para
atender o catador de papel, a empregada doméstica.
FOLHA - A Anatel está prestes a vender as últimas frequências de 3G (terceira
geração) e vetou a participação das teles que já estão no mercado como forma de
atrair novos concorrentes para derrubar o preço do minuto. O que o sr. acha
disso?
LIMA - Fico me perguntando se já não existe concorrência suficiente na telefonia
celular. Não é justo que empresas que entrem agora com uma base de clientes
pequena para atuar em nichos de mercado usem um bem [novas frequências] que
poderia ser destinado às operadoras que investiram bilhões e hoje atendem uma
base tão grande. Esses clientes não param de demandar rede. Investimentos a
gente pode fazer, mas espectro não há como gerar.
FOLHA - As teles diziam que a universalização da internet se daria pela rede
móvel. Agora afirmam que é um produto complementar à internet fixa. Por que o
discurso mudou?
LIMA - Telefonia móvel é que nem estrada. A rodovia dos Bandeirantes, a melhor
do país, tem quatro faixas para ir e quatro para voltar. Sexta à noite, véspera
de feriado, 120 km/h é propaganda enganosa. E ninguém diz: "Ah, que mau
serviço!" No nosso caso, os investimentos foram dimensionados para um tráfego
médio estimado. A surpresa é que o usuário demanda cada vez mais vídeos,
músicas, filmes, extrapolando o previsto. Por isso, só passamos a vender o que
podemos entregar. O serviço é muito novo e a gente não tem alertado o público de
que nas telecomunicações móveis, diferentemente da fixa, há a questão da
concentração. Se muita gente resolve fazer uso da mesma estação móvel,
degrada-se o tráfego.
FOLHA - Mas não dá para entregar mais que 10% de velocidade, o mínimo garantido?
LIMA - Sim, mas as pessoas têm de se disciplinar para fazer bom uso dessa rede e
"pegar trânsito" na internet. Um arquivo pesado não deve ser baixado em horário
de pico. Agora, sem a liberação de espectro, temos de investir em mais antenas
nos grandes centros. Quando fazemos isso, não investimos no interior do país.
Isso é ruim, porque as móveis serão o motor do crescimento da internet. Em
muitos lugares a internet fixa não chegará porque custa muito caro. A móvel
chega mais barato, mas a contrapartida é que nem todo mundo vai conseguir
navegar em boa velocidade. Terão de fazer uso mais razoável. É tendência
mundial. Senão, não terá rede para todo mundo.