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Fonte: Estadão
[13/04/10]
A
politização do Ipea - Editorial Estadão
Criado há quatro décadas para realizar pesquisas para subsidiar políticas
públicas e programas econômicos do governo, o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), desde que passou da alçada do Ministério do Planejamento para a
da Secretaria de Assuntos Estratégicos, em 2007, vem perdendo o padrão de
qualidade e de isenção técnica que sempre foi uma das principais marcas de seus
trabalhos.
Lançados com o intervalo de uma semana, seus dois últimos relatórios - os
Comunicados da Presidência nº 19 e nº 20 - são mais uma prova disso. O primeiro
estudo foi elaborado para refutar as críticas de que a administração pública
está "inchada", e o segundo foi preparado para criticar o processo de
privatização de bancos públicos iniciado a partir de 1996.
Em seis anos, o governo do presidente Lula aumentou em 98% a despesa com
servidores civis, contratou 201 mil novos funcionários e elevou para 76 mil o
número de cargos de confiança, sem que isso tenha resultado em qualquer melhoria
de qualidade dos serviços prestados pelo Estado. Entre 2002 e 2008, os gastos
anuais com o pagamento do funcionalismo passaram de R$ 70 bilhões para R$ 144
bilhões. E, com a crise econômica, a receita tributária vem caindo, enquanto as
despesas com pessoal vão crescendo, o que constitui um quadro ameaçador para as
finanças públicas - que levou o presidente Lula a proclamar que "é hora de
apertar os cintos".
Apesar disso, o Comunicado nº 19 afirma que, por ter o Brasil proporcionalmente
menos funcionários públicos do que vários países desenvolvidos e em
desenvolvimento, haveria "espaço" para o governo contratar mais servidores. Em
1995, diz o estudo, os empregados do setor público representavam 32,7% do total
de ocupados do setor formal do mercado de trabalho do País. Em 2003, o
porcentual foi de 27% e, em 2008, de 25%. "Portanto, não há razão para se
afirmar que o Estado brasileiro seja um Estado inchado por um suposto excesso de
funcionários públicos", diz o trabalho, sem levar em consideração que o
porcentual de funcionários diminuiu porque houve um forte aumento dos empregos
no setor privado. Além disso, o estudo menciona a questão da relação perversa
entre o custo do funcionalismo e a eficácia de sua gestão e a qualidade dos
serviços que presta apenas para estabelecer uma estranha relação de causa e
efeito, ao afirmar que esse problema só poderá ser enfrentado a partir de "um
novo padrão de crescimento econômico, baseado no fortalecimento do mercado
interno de consumo e vinculado a uma nova forma de repartição dos ganhos de
produtividade social, com redução de jornada de trabalho, reforma tributária em
favor de uma tributação mais progressiva e garantia dos direitos sociais". Não
faz sentido, como se vê, mas exala forte odor de "politicamente correto".
O segundo estudo também peca pelo mesmo enviesamento ideológico. O Comunicado nº
20 afirma que a privatização de bancos públicos levou à concentração do mercado
financeiro e à menor oferta de serviços à população de baixa renda, dificultou a
redução dos spreads bancários e das taxas de juros e provocou a concentração do
crédito nas regiões mais desenvolvidas. O trabalho não levou em conta as
próprias estatísticas oficiais sobre as operações bancárias feitas por meio de
financeiras e sociedades de arrendamento mercantil, o que distorce suas
conclusões. Também não considera que, entre 2000 e 2008, o número de agências
bancárias passou de 16.396 para 19.142 e as contas correntes passaram de 71,5
milhões para 125,7 milhões. Além disso, compara os juros cobrados no Brasil com
os praticados na Inglaterra, Espanha e EUA, sem considerar as diferenças
macroeconômicas e da legislação bancária existentes entre esses países.
Assim, não estranha a conclusão a que chegou o documento: o sistema bancário é
indutor da desigualdade social, contribuindo para a concentração da riqueza e a
exclusão social que, segundo o Ipea, são observadas nos últimos anos. Estaria se
referindo aos seis anos do governo Lula?
Com estudos como esses, que carecem de isenção e de consistência técnica, o Ipea
está se transformando em simples órgão de promoção dos programas da facção mais
radical do Partido dos Trabalhadores, felizmente minoritária.