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Fonte: Website de Ethevaldo Siqueira
[08/08/10] Um
confisco de R$ 362 bilhões - por Ethevaldo Siqueira
Os adversários do modelo privatizado das telecomunicações inventaram a palavra
privataria, uma mistura de privatização e pirataria, para desqualificar o
processo de desestatização do setor, levantando suspeitas sobre sua lisura. Pura
mentira e desespero, por falta de argumentos. Mesmo diante de uma expansão de
quase 900% da infraestrutura setorial, em 12 anos, os defensores do velho
monopólio estatal ainda falam em privataria.
Mostro neste artigo a incrível ganância estatal em relação às telecomunicações
do País. E começo com uma pergunta: “Você sabia, leitor, que nós, assinantes e
usuários de telefonia fixa e móvel – cidadãos como eu e você – já recolhemos R$
330 bilhões de impostos aos cofres do governo, ao longo dos últimos dez anos
(2001-2010)”?
Pois bem, mesmo depois de ter vendido suas ações nas empresas de
telecomunicações, o maior sócio de todo o setor continuou a ser o Estado
brasileiro, pois arrecada anualmente nessa área o correspondente a dez vezes o
lucro líquido de todas as operadoras de telefonia fixa e celular juntas.
As distorções crescem e agravam-se ano a ano, com a elevação das alíquotas de
tributação sobre serviços de telefonia fixa e móvel, e que hoje são as maiores
do mundo (43% sobre o valor dos serviços). Só a Turquia comete equívoco
semelhante, ao tributar suas telecomunicações em 42%.
É claro que, com menos impostos, o preço dos serviços poderia ser bem menor e as
tarifas telefônicas brasileiras não seriam consideradas as mais caras do mundo.
E pior do que isso: em lugar de investir nesse setor vital, o Estado brasileiro
prefere usar as telecomunicações como uma vaca leiteira, uma mina de ouro, da
qual retira e confisca o máximo. Nessas condições, não poderia haver melhor
negócio no mundo para o governo do que a privatização do velho Sistema Telebrás.
Assalto
Além dos R$ 330 bilhões de impostos arrecadados nesta década, o Estado retira
muitos outros bilhões da telefonia. Acompanhe, leitor, a demonstração, passo a
passo, dos números referentes a tudo que tem sido retirado e arrecadado de
nossos bolsos e do setor pelo Estado brasileiro, desde os leilões, vendas de
licenças, impostos e fundos setoriais não aplicados.
Ao privatizar, o governo brasileiro vendeu o controle da antiga Telebrás por R$
22,2 bilhões e ainda faturou mais R$ 20,1 bilhões com os leilões de licenças de
celulares e faixas de frequências. Em seguida, reformulou os tributos (em
especial o ICMS) para ampliar a arrecadação e chegar aos R$ 330,4 bilhões
recolhidos nesta década. Esse enorme confisco tem ocorrido ao longo dos últimos
10 anos, sendo dois anos do governo FHC, de 2001 e 2002, e oito anos no governo
Lula, de 2003 a 2010.
Mas a sangria do setor não termina aí. Além desse montante, o governo federal
ainda embolsou no mesmo período mais R$ 32 bilhões que pertenciam a três fundos
setoriais, assim distribuídos: a) R$ 22 bilhões do excesso de arrecadação do
Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), b) R$ 8 bilhões
correspondentes à totalidade da arrecadação do Fundo de Universalização das
Telecomunicações (Fust,) e c) R$ 2 bilhões dos recursos excedentes do Fundo de
Tecnologia de Telecomunicações (Funttel).
Ilegalidade total
Esse confisco de R$ 32 bilhões dos fundos setoriais é um exemplo de ilegalidade
flagrante, pois esses recursos são carimbados, com destinação legal certa e
obrigatória. Deveriam, portanto, ter sido aplicados integralmente em
fiscalização, universalização dos serviços e pesquisa tecnológica. Mas não
foram. Na linguagem vulgar, esses R$ 32 bilhões foram para o ralo. Ou seja, para
a vala comum do superávit fiscal.
Imagine, agora, o que teríamos hoje de modernização setorial se, por hipótese, o
governo tivesse investido os R$ 32 bilhões e a fatia de apenas 10% dos R$ 330
bilhões de impostos arrecadados (R$ 33 bilhões), num grande projeto de banda
larga e inclusão digital.
Seriam R$ 65 bilhões (o equivalente a US$ 37 bilhões), quantia suficiente para
implantar uma das infraestruturas de banda larga mais avançadas do mundo, tão
moderna quanto a do Japão ou da Coreia do Sul.
Por outras palavras, com esse investimento, poderíamos ter assegurado ao País
uma penetração de banda larga da ordem de 80 ou 90% de seus domicílios, bem
próxima da que têm os países mais desenvolvidos.
Balanço final
Agora, caro leitor, some os R$ 330 bilhões de tributos escorchantes ao confisco
de R$ 32 bilhões dos fundos e terá o total de R$ 362 bilhões. Eis aí o grande
mal que o governo federal tem feito contra as telecomunicações, segundo dados
oficiais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Tesouro Nacional (Siafi)
e Confaz, revelados em estudo do Sindicato das Empresas Operadoras de
Telecomunicações (Sinditelebrasil).
Faça um teste, leitor. Pergunte ao cidadão comum se ele sabe quanto paga de
impostos em sua conta de energia elétrica, gasolina, alimentos essenciais, água,
transportes ou na conta de telefone fixo ou celular.
“Impostos? Sei, não”, responderá o pobre cidadão alienado. Como tanta gente
neste País, ele não sabe nada.
É dessa inconsciência que se aproveitam todos os governos perdulários e
populistas, ao longo da história.
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