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Fonte: Website de Ethevaldo Siqueira
[22/08/10] PT
descobre um filão - por Ethevaldo Siqueira ("Carta de Guarujá")
A julgar pelas primeiras manifestações do segundo escalão do governo Lula, o PT
não quer simplesmente continuar, mas se prepara para aprofundar o aparelhamento
do Estado na área das comunicações. Ao longo de quase oito anos, o partido
ocupou praticamente todos os espaços de poder na área. Nessa linha, o governo
Lula esvaziou e desprofissionalizou as agências reguladoras – em especial, a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) –, além de confiscar R$ 32 bilhões
dos fundos setoriais. Um lembrete: fundos como o de Fiscalização das
Telecomunicações (Fistel), de Universalização das Telecomunicações (Fust) e
outros são, por lei, recursos carimbados, que só podem ser aplicados em suas
finalidades específicas.
Nos últimos meses, o governo Lula concentrou seus esforços políticos na
formulação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e na recriação da Telebrás. O
plano resultante, no entanto, não passa de um esqueleto de projeto – sem metas
quantificadas, sem prazos e sem recursos definidos. É apenas um enunciado de
diretrizes cujo objetivo político maior se resume em reativar a Telebrás, mesmo
com a mudança ilegal de suas finalidades.
O caminho escolhido para elaborar ambos os projetos (PNBL e Telebrás) foi a
discussão em petit comité por um grupo palaciano, sem qualquer participação do
Congresso. A partir do sétimo ano de sua administração, sem formular nenhuma
política pública ambiciosa, sem rever a legislação, sem intensificar a
fiscalização sobre os setores privatizados, o governo Lula preferiu ocupar maior
espaço político nas comunicações. Criou, então, a Empresa Brasileira de
Comunicações (TV Brasil), e passou e cuidar quase secretamente da questão da
banda larga e da Telebrás.
Tudo isso são fatos. Nada é intriga da oposição – até porque, nessa área, a
rigor, o Congresso brasileiro não tem oposição. Em síntese: a estratégia petista
consiste em aprofundar o aparelhamento e a ocupação total do precioso território
estatal das comunicações – “como os ostrogodos fizeram em Roma”, ironiza um
empresário do setor de radiodifusão.
Painel esquentou
Os petistas do governo federal agora frequentam os painéis da Telebrasil, a
associação que representa as telecomunicações. Com sua presença, esses eventos –
que eram, acima de tudo, técnicos e especializados – tornaram-se quentes e
polêmicos, como o realizado no Guarujá, na semana passada, para debater o tema O
Brasil que queremos em 2011-2014.
Esse encontro transformou-se, em alguns momentos, em verdadeiro comício em favor
da candidata do PT à Presidência da República, como a palestra do cientista
político e petista confesso Alberto Carlos de Almeida, para quem Dilma Rousseff
já está eleita. À pergunta se o próximo governo petista continuará a trilhar a
mesma linha do atual nas comunicações, ele respondeu: “Vai continuar, sim. Não
tenha dúvida”.
O mesmo entusiasmo continuísta foi demonstrado por Cézar Alvarez, assessor
especial do presidente da República para inclusão digital, bem como pelo
representante da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Luiz Alfredo
Salomão, que falou sobre as metas estratégicas do Projeto Brasil 2022.
Diferentemente, o deputado federal Paulo Lustosa Filho (PMDB-CE), falando no
painel, estranhou a falta de metas e números do PNBL e da Telebrás: “Eu usaria a
expressão inglesa: show me the numbers (mostrem-me os números)”, disse ele.
Carta do Guarujá
A Telebrasil divulgou, ao fim do evento, a Carta do Guarujá. O documento
relembra a “contribuição do setor privado para a profunda transformação das
telecomunicações brasileiras” e faz, entre outras, as seguintes sugestões ao
próximo presidente da República:
* É fundamental que haja disposição para contribuir, para construir, para somar,
para crescer.
* É fundamental o compromisso com a implementação das reformas estruturais de
que o País necessita. Reconhecemos que reformas, como a reforma política e a
reforma previdenciária, são fundamentais. Para o setor, as reformas trabalhista
e tributária, além de fundamentais, são inadiáveis.
* É fundamental o compromisso com a estabilidade do marco legal e regulatório.
* É fundamental o compromisso com um setor público profissional, com práticas
transparentes e com reconhecimento e valorização do servidor público.
Ministérios bem equipados e agências reguladoras fortes e independentes são a
garantia de formulação de políticas públicas adequadas, bem como da sua correta
implementação pelos investidores privados.
* É fundamental o compromisso com a modernidade, com o incentivo ao investimento
privado, a inovação e a competitividade.
* É fundamental o compromisso com metas de crescimento agressivas. O setor desde
já se compromete a contribuir para sua formulação e, mais importante, a
alcançá-las. Essas metas se tornarão realidade com novas licenças, novas faixas
de frequência, desoneração tributária na cadeia produtiva e na oferta de
serviços, financiamento específico e adequado para o investimento em áreas de
baixo IDH e, obviamente, a aplicação dos fundos setoriais legalmente
constituídos para a oferta de serviços em regiões carentes ou de fronteira.
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