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Fonte: Website de Ethevaldo Siqueira
[29/08/10] A
fábrica de salsichas - por Ethevaldo Siqueira
“As leis são como as salsichas. É melhor não ver como elas são feitas.” Em minha
juventude, muito antes de conhecer essa opinião de Bismarck, visitei uma fábrica
de salsichas. Nunca mais fui capaz de comê-las sem lembrar da sujeira que vi.
Bismarck estava certo não apenas quanto às salsichas mas, muito mais ainda,
quanto às leis.
Apoiado na história política brasileira dos últimos 50 anos, proponho, no
entanto, estender a comparação aos acordos e alianças parlamentares das bases de
sustentação política dos presidentes da República no Brasil.
Querem ver? Imaginem um palanque hoje, com Lula e Dilma, ao lado de figuras tão
desgastadas do PMDB e de outros partidos, como Sarney, Renan Calheiros, Jader
Barbalho, Collor et caterva, triunfantes e sorridentes (rindo de nós). Na
campanha de Serra, vejo outra figura polêmica do mesmo partido: Orestes Quércia.
Desculpem-me, mas não consigo engolir.
A charcutaria
Ao longo dos últimos sete anos e meio, a salsicharia de Lula & Cia. transformou
o setor público das comunicações em terra arrasada, como Roma invadida pelos
bárbaros.
A pretexto de assegurar a governabilidade, como fazem todos os presidentes da
República, Lula também divide o bolo do poder entre os partidos da base
governista, nomeando muitas vezes pessoas sem a devida qualificação profissional
e moral para ministérios, agências reguladoras ou empresas estatais. Nesse
aspecto, exagera na dose.
Sempre me pergunto: que interesse teria o PT, o PMDB ou qualquer outro partido
em emplacar seus representantes nos ministérios e na direção de estatais, se
eles não forem, comprovadamente, competentes e honestos? Por que nomear Carlos
Henrique Cardoso, peemedebista e amigo de Hélio Costa, para os Correios e, dessa
forma, degradar a ECT, uma estatal que já foi um padrão de eficiência?
O Ministério das Comunicações (Minicom) foi entregue ao PMDB em 2004, com a
posse de Eunício de Oliveira (PMDB-CE). Seu sucessor, também do PMDB, foi o
senador Hélio Costa, jornalista e radiodifusor.
Cerco ao Minicom
Faltou a Hélio Costa uma condição básica para fazer boa gestão: um projeto sério
para o setor. Além disso, não contou com a plena confiança de Lula nem com o
apoio da ex-ministra-chefe da Casa Civil. Suas relações com Dilma só se
deterioram ao longo de cinco anos.
Pior do que tudo foi a guerra palaciana que lhe moveu um grupo de assessores
liderados por Cézar Alvarez, assessor especial de Lula, e por Rogério Santanna,
ex-secretário de Logística do Ministério do Planejamento e atual presidente da
Telebrás.
Nasceu, assim, uma nova fábrica de salsichas no Planalto. Com apoio político da
cúpula do governo, a dupla de assessores conseguiu duas façanhas dignas de
Maquiavel: excluir o Ministério das Comunicações tanto da elaboração do Plano
Nacional de Banda Larga (PNBL) quanto da decisão de reativar a Telebrás, empresa
estatal que sempre esteve subordinada àquela pasta. Hoje, totalmente
desautorizado em sua própria esfera legal de atuação, o Minicom não passa de uma
ficção.
No fim da história, os enfants gatés de Lula e Dilma não apenas implodiram o
ex-ministro, mas também esvaziaram o Minicom. Restou a Hélio Costa a consolação
de fazer seu sucessor, o novo ministro das Comunicações. Na cota de salsichas do
PMDB, Lula nomeou para o cargo José Artur Filardi Leite, ex-chefe de gabinete de
Hélio Costa desde 2005, seu conterrâneo de Barbacena e seu ex-sócio na Rádio
Sucesso, da mesma cidade.
Poder da dupla
Essa degringolada do Ministério das Comunicações não resultou apenas do fraco
desempenho de Hélio Costa como ministro, mas de sua derrota política e
ideológica perante a cúpula do governo Lula e da conspiração palaciana liderada
por Alvarez e Santanna. É claro que esses assessores vão, agora, dividir o
espólio do setor público das comunicações. Aos vencedores, as batatas.
Hélio Costa perdeu a guerra principalmente por ter mandado elaborar e divulgar,
sem o aval da dupla petista, um estudo sobre o PNBL que não apoiava a recriação
da Telebrás. A reação foi implacável: com o apoio tácito de Dilma, o segundo
escalão tomou as rédeas do PNBL e, sem ouvir o Minicom, decidiu reativar a
Telebrás.
Não me comove em nada a implosão do ex-ministro, mas me preocupa, e muito, como
brasileiro, a degradação política das comunicações, a perda de horizontes e o
esvaziamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Trapalhadas
Vejamos, por fim, um exemplo da performance medíocre do governo Lula na área de
inclusão digital, a começar do Programa Gesac (Governo Eletrônico e Serviços ao
Cidadão), a cargo do Ministério das Comunicações. Esse projeto previa levar
banda larga, em duas fases, a 107 mil escolas de primeiro e segundo graus, numa
parceria com as maiores concessionárias de telefonia, em que caberia a essas
empresas conectar as escolas e, ao governo, treinar 80 mil professores, produzir
conteúdos, adquirir, instalar os computadores e manter os equipamentos.
O programa previa a entrega de 55 mil escolas conectadas no fim de 2010 e
contratar sua ampliação para 107 mil escolas. Mas nada acontecerá porque, embora
as concessionárias tenham feito sua parte, ligando as escolas, o governo não
cumpriu suas obrigações.
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