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Fonte: ClippingMP - Origem: Correio Braziliense
[30/12/10] O
risco é o governo - por Gustavo
Henrique Braga e Fernando Braga
Presidente eleita tem o desafio de levar o Brasil para o topo do acesso à
tecnologia. Empresários temem a politização de decisões estratégicas
O mandato da presidente eleita, Dilma Rousseff, que tomará posse no sábado,
coincidirá com uma fase de transformações intensas no campo da tecnologia da
informação (TI). Por isso mesmo, há o temor de que, por ineficiência e disputas
políticas, o governo empurre o Brasil para o atraso em vez de garantir um salto
espetacular para o futuro — o que será um feito num país que viverá, nas
próximas duas décadas, o seu auge produtivo, com a população entre 15 e 64 anos
sendo a maioria.
Os desafios são imediatos. E o maior deles, construir, até 2014, a
infraestrutura necessária para suprir as necessidades de transmissão de dados
dos turistas, equipes esportivas e jornalistas que invadirão o Brasil durante a
Copa do Mundo de Futebol e, reforçá-la até 2016, para as Olimpíadas no Rio de
Janeiro. Estima-se que esses eventos demandarão pelo menos R$ 5,7 bilhões em
investimentos no setor de TI. Serão necessários, ainda, R$ 9 bilhões para pôr em
prática o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), cuja meta é cobrir de 68%
domicílios do país nos próximos quatro ano — o projeto, porém, não decolou.
Em relação à banda larga, Dilma não é nenhuma neófita. Pelo contrário, encabeçou
todo o projeto do governo. O problema é que o setor público, por meio da
Telebrás, que foi ressuscitada, preferiu liderar, sozinho, o processo. Mas,
diante da perspectiva de fracasso, já admite dividir o PNBL com as empresas
privadas de telefonia. O que todos se perguntam é se, com a proposta de um
Estado forte, a presidente eleita sucumbirá aos que veem a parceria como uma
ameaça.
Para os empresários, com ou sem a associação com o governo, a certeza é de que,
com a renda em alta, as oportunidades de negócios são muitas quando o tema é
tecnologia. Focadas em atender a demanda da nova classe média, as empresas
deverão desembolsar mais de R$ 100 bilhões até 2022 no campo das
telecomunicações — uma parcela mínima dessa montanha de dinheiro deverá sair do
governo.
Não à toa a palavra de ordem para os próximos anos será mobilidade, sinônimo de
vida moderna. No Brasil do futuro, celulares, tablets e computadores demandarão
forte infraestrutura no campo da internet móvel. Com a chegada do sistema 4G,
prevista para ocorrer até 2014, a velocidade de conexão móvel subirá dos atuais
40 Mbps (megabytes por segundo) para 150 Mbps.
Nuvem
A possibilidade de acesso à banda larga, em qualquer lugar, favorecerá a
disseminação de novos serviços e da computação em nuvem — cloud computing, em
inglês — como a principal tecnologia no âmbito corporativo. O modelo segue a
ideia de entender a internet como um gigantesco computador, que poderá ser
acessado de qualquer lugar com uso dos dispositivos móveis.
“O uso da nuvem é uma revolução na forma como uma empresa adquire e paga TI. Os
investimentos se tornam praticamente nulos, custos fixos viram variáveis, já que
a infraestrutura passa a ser usada como serviço. Além disso, a curva de gastos
fica paralela à curva de receitas, de forma a evitar perdas”, diz Cassio
Dreyfuss, vice-presidente da Consultoria Gartner. A computação em nuvem
permitirá que pequenos empresários concorram de igual para igual com grandes.
Que empresas nacionais encarem redes estrangeiras. “De agora em diante, o
conceito de manter o funcionário fixo em frente a um computador será outro. Será
possível trabalhar onde quer que o cliente esteja”, acrescenta Ronaldo Roveri,
pesquisador da consultoria IDC.
Roberto Soares, 28 anos, analista de TI, personifica o consumidor do futuro.
Aficionado por tecnologia, ele tem tudo que há de mais moderno em eletrônicos.
Desde o lançamento do iPad, tablet da Apple, quase não usa mais o notebook.
“Levo o iPad para todo lugar, vejo vídeos, e-mail e redes sociais”, revela. Ele
também tem um smartphone e três vídeo-games. Os jogos com sensor de movimento
foram comprados para estimular a coordenação motora da filha Ana Beatriz, 5.
Soares vive a plenitude da experiência da mobilidade. Quando quer ver um vídeo,
basta comprá-lo e baixar pela internet. Com o conversor de mídias, ele joga tudo
para a TV da sala: de games a shows musicais. Desde que colocou os documentos
que necessita na nuvem, não precisa mais carregar uma pasta cheia de papelada.
Agora, tem tudo sempre à mão. Basta usar o seu smartphone onde quer que esteja.
Apesar da frequência cada vez maior de consumidores como Soares, os empresários
temem os gargalos do setor. “A grande dificuldade para o segmento de tecnologia
no Brasil é a baixa penetração da banda larga nas cidades do interior. Até hoje,
há muitos locais onde a única opção disponível é a conexão discada. Mesmo sendo
uma tecnologia ultrapassada, temos que manter itens como fax modem nos nossos
produtos, porque essa ainda é uma forma de acesso muito comum no país”, diz
Adriana Flores, diretora de Desenvolvimento da Positivo.
Cerca de 44% dos brasileiros que acessam a internet o fazem por meio das mais de
100 mil lan houses do país, segundo o Centro Gestor da Internet (CGI). Desses
usuários, 82% são trabalhadores que recebem um salário mínimo. Em regiões como o
Norte e Nordeste, quase 70% dos acessos ocorrem de dentro das lan houses. Diante
de números tão expressivos, Rodrigo Baggio, diretor executivo do Comitê pela
Democratização da Informática (CDI), defende o uso desses empreendimentos para
promover a inclusão digital. “Tenho a esperança de que Dilma adotará uma
política pública participativa para o setor. É preciso incentivar o uso da
tecnologia para produzir e publicar conhecimento”, sugere.