WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2010
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: Último Segundo - Origem: Agência Estado
[10/02/10]
Comparação de programas de banda larga e Luz p/Todos provoca críticas
A possibilidade de criação de uma estatal para operar os serviços de banda larga
e a comparação que o governo vem fazendo deste projeto com o programa Luz Para
Todos, de universalização do fornecimento de energia elétrica, têm provocado
críticas de empresas de telefonia, de especialistas do setor e de parlamentares
da oposição. Os críticos entendem que, para expandir os serviços de internet
rápida no Brasil não é preciso a volta do Estado ao setor, mas a construção de
um programa, em parceria com a iniciativa privada - como foi feito no setor
elétrico - no qual realmente seja usado o dinheiro de fundos setoriais de
telecomunicações.
Os cenários técnicos que estão sendo apresentados hoje ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em reunião iniciada há pouco, preveem investimentos de até R$ 14
bilhões, nos próximos quatro anos, para criar a estatal da banda larga, a partir
da revitalização da Telebrás. A fonte dos recursos ainda não foi detalhada, mas
os estudos apontam para financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), ainda que o governo disponha de fundos setoriais
retidos no Tesouro Nacional.
Só no ano passado foram recolhidos pelas empresas cerca de R$ 5 bilhões para o
Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e para o Fundo
de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). Desse total, menos de 10% foram
repassados à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para a fiscalização
das empresas. Desde 2001, o Fust já arrecadou R$ 8 bilhões, que não foram
aplicados em nenhum projeto.
No programa Luz Para Todos, que tem meta de levar energia a 15 milhões de
pessoas carentes, o governo investirá R$ 14,3 bilhões em recursos de dois fundos
setoriais - a Conta de Desenvolvimento Energético (DCE) e a Reserva Global de
Reversão (RGR) - formados por cerca de 3,5% da tarifa de energia paga pelo
consumidor. Outros R$ 5,7 bilhões restantes vêm de governos estatuais e das
próprias distribuidoras.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o Luz para Todos já beneficiou 11,1
milhões de pessoas desde 2004 e, neste ano, serão atendidas mais 3,9 milhões de
pessoas. Ao todo, foram feitas 2,2 milhões de ligações, o que exigiu a
instalação de 5,6 milhões de postes, 824 mil transformadores e 1 milhão de
quilômetros de cabos elétricos.
Para implantar o programa de energia, o governo não precisou criar uma
infraestrutura adicional, como pretende fazer com a banda larga. A estatal
Eletrobrás não opera os serviços, tem apenas a atribuição de administrar o
dinheiro e repassá-lo, por meio de contratos, às distribuidoras de energia (a
maioria empresas privadas), que fazem as ligações.
"O dinheiro do Luz para Todos não é do governo, é da sociedade, pago na tarifa
de energia e as distribuidoras é que levam a energia até a casa do cidadão",
observou o presidente da Associação Brasileira dos Serviços de Telecomunicações
(Abrafix), José Fernandes Pauletti.
Na banda larga, sugere Pauletti, os recursos dos fundos poderiam ir diretamente
para o consumidor, sem a necessidade de passar pelas empresas. "Se criar a
demanda, a iniciativa privada atenderá", afirmou ele, avaliando que o aumento do
mercado contribui para a redução do preço dos serviços. "O que não dá é para as
empresas fazerem um investimento pesado em redes e não ter ninguém para comprar
os serviços."
Além de ser citado usualmente por assessores do governo, o programa Luz para
Todos foi usado como exemplo pelo próprio presidente Lula, durante reunião na
semana passada com representantes da sociedade civil. "O presidente comparou o
PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) com o Luz para Todos. O Estado oferecendo
ao cidadão acesso a serviços básicos", escreveu o ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo, em sua página no Twitter. As declarações do ministro no Twitter
foram confirmadas por sua assessoria.
A comparação é equivocada na opinião do presidente da Comissão de Ciência e
Tecnologia da Câmara, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO). "O governo tem a
capacidade de misturar as coisas para justificar o que não tem justificativa",
afirmou. Ele lembra que o projeto que libera a utilização do Fust na banda larga
está pronto para ser votado desde o ano passado, mas não é incluído na pauta do
plenário por falta de vontade política do governo, que tem maioria no Congresso.
"Esses fundos foram totalmente contingenciados para cumprir meta de superávit",
acrescentou. Para ele, a revitalização da Telebrás em um ano de eleições servirá
apenas para um "loteamento político de cargos". Gomes acredita que se o governo
promovesse uma desoneração tributária no setor teria uma "resposta rápida" das
empresas privadas na expansão do atendimento.
O ex-ministro das Comunicações, Juarez Quadros, também avalia que não é preciso
criar uma estrutura estatal para universalizar os serviços. "No setor elétrico,
são as distribuidoras que aplicam os recursos e a universalização já chegou a
98% da população", afirmou.
Para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), é "delírio" achar que a reativação da
Telebrás é suficiente para massificar a banda larga. Ele apresentou um projeto
de lei para unificar os recursos dos fundos setoriais e obrigar o governo a
investir esse dinheiro em programas do setor. "Serão 3 bilhões por ano", disse o
senador.