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Fonte: Luis Nassif Online
[23/02/10]
Para entender o caso Eletronet (comentário sobre telefonema de José Dirceu)
Recebo telefonema do ex-deputado José Dirceu, a respeito da matéria da Folha
sobre a Eletronet.
Diz ele:
1. Sempre foi contra o projeto modelo do plano nacio0nal de banda larga, tal
qual desenhado pelo governo. A proposta que defendia era a de que a Eletronet
cuidasse do atacado (integrar regiões) e das regiões não assistidas pelas teles.
E deixasse o restante, a ponta, para as teles. Segundo Dirceu, “não seria louco”
de procurar qualquer pessoa da Casa Civil (que toca o projeto) para dar qualquer
opinião sobre o tema porque sabe que qualquer palavra sua tem repercussão muito
pesada. Diz que sempre foi contra a Eletronet controlar as fibras óticas: o
governo, sim.
2. Há uma disputa pública na Justiça, entre o governo federal, os controladores
(Nelson dos Santos à frente) e os credores, os três disputando o controle da
empresa. Atualmente há redes “acesas” (utilizadas) da Eletronet e redes
“apagadas”. Até agora o governo tem obtido vitórias em primeira instância para o
controle das redes “acesas”, contra as pretensões de Nelson e dos credores.
3. Se vitorioso, o governo pagará R$ 200 milhões pela Eletronet. Só que 49%
pertencem à Eletrobras. Além disso, os fornecedores são credores preferenciais
de dívidas que somam mais de R$ 600 milhões. Pouco sobraria a Nelson. Portanto,
o interesse de Nelson seria preservar o controle da empresa, não vendê-la para o
governo. Logo, o número da Folha é totalmente hipotético.
4. Segundo ele, sua assessoria a Nelson se limitava a orientação sobre o mercado
latino-americano, área em que ele se meteu. E terminou em setembro passado.
5. Como as negociações em torno da Eletronet sempre foram públicas, os processos
na Justiça são conhecidos, atribui as denúncias atuais a disputas internas, ou
entre credores e sócios de Nelson ou de operadores de telefonia e de TV aberta.
Diz que é tão claro o jogo da Folha para inviabilizar a Eletronet que, na semana
passada, o jornal chegou a tratar como “denúncia” o fato de um twitteiro
(Maurício Branco) ter divulgado as intenções do governo em ressuscitar a
estrutura da Eletronet, a partir de uma conversa pública de Lula com pessoal da
mídia livre.
O empresário Nelson dos Santos
A história da Eletronet passa por dois momentos.
O primeiro, quando houve o desmonte do setor elétrico no governo FHC, em pleno
período de explosão especulativa do mercado acionário norte-americano.
Distribuidoras foram adquiridas com financiamentos pesados do BNDES, tendo como
única garantia as ações das empresas adquiridas. Aí é passivo do governo FHC.
A Eletronet ficou solta no ar, à disposição de todos os caçadores de
oportunidades.
Entrei na briga contra Daniel Dantas, aliás, em um processo que ele e Elena
Landau abriram contra o Rubens Glasberg – jornalista que conheço, do qual sou
amigo e em quem deposito toda confiança. Tudo por causa de uma matéria do Sérgio
Sister no Teletime, informando que Elena estava trabalhando para transferir a
Eletronet para Dantas. Fui testemunha de Glasberg na ocasião.
Já na época, lá atrás, se sabia que mais cedo ou mais tarde a rede da Eletronet
serviria para montar uma ampla estrutura de banda larga no país. Portanto o nó
da questão não é aí.
O segundo tempo do jogo foi a quebradeira que se seguiu ao «apagão» de 2002 .
Havia a necessidade de uma reestruturação urgente do setor, inclusive devido à
quebra dos grupos estrangeiros – especialmente norte-americanos – que entraram
na primeira rodada.
Foi um ajuste patrimonial violento, do qual se aproveitaram grupos nacionais bem
situados politicamente. Aí é passivo do governo Lula.
Um dos episódios foi da Cemar, no Maranhão, do qual saiu vencedor o grupo
Pactual, praticamente recebendo de presente da Eletrobras. Fiquei sozinho, na
época, mostrando o prejuízo que a Eletrobrás estava incorrendo para beneficiar o
grupo.
O segundo caso foi a debacle da AES, que tinha adquirido a Eletropaulo e devia
os tubos para o BNDES. Foi feita uma operação de salvamento complexa, bem feita,
mas que precisou da boa vontade do BNDES para ser efetivada.
Do ponto de vista financeiro, foi uma operação legítima, que preservou o banco
de um prejuízo maior – já que os financiamentos para a privatização foram
concedidas não às matrizes, mas às empresas offshore sem garantias para dar.
Mas não basta ser legítima para conseguir andar, especialmente devido aos
inúmeros riscos fiscalizatórios que cercam qualquer operação de banco público.
Provavelmente, o Nelson conseguiu a Eletronet de graça da AES como parte dos
esforços empreendidos para resolver o pepino da Eletropaulo. Foi sua comissão.
Tive contato breve com ele quando escrevia sobre o banco Pactual.
É barra pesada.