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Fonte: Estadão
[24/02/10]
Governo deve assumir dívida da Eletronet, de ex-cliente de Dirceu
União afirma ter depositado caução de R$ 270 milhões para usar
fibras ópticas, mas credores dizem que não - por Renato Cruz
O governo deve assumir as dívidas da Eletronet, empresa falida que tem a
Eletrobrás como acionista e é controlada pelo empresário Nelson dos Santos, que
teve negócios com o ex-ministro José Dirceu. Em dezembro, a Justiça Estadual do
Rio de Janeiro deu ao governo o direito de utilizar as fibras ópticas da
Eletronet. A Advocacia-Geral da União informou que foi depositada uma caução de
R$ 270 milhões, em títulos públicos, respeitando uma decisão judicial de junho
de 2008.
Os credores da Eletronet, no entanto, afirmam que esse depósito, que seria usado
para abater a dívida da companhia, ainda não foi feito. Os advogados dos
credores enviaram recentemente uma petição à Justiça solicitando que as redes
ópticas só fossem liberadas após a caução.
Segundo Domingos Refinetti, advogado da Furukawa, ainda não houve resposta à
petição. "Solicitamos também que, assim que for feita a caução, que seja feito
um rateio entre os credores", disse Refinetti. Se isso acontecer, a dívida da
operadora acabará sendo assumida pelo governo, que planeja usar a rede da
Eletronet no Plano Nacional de Banda Larga, que prevê a reativação da Telebrás.
Santos comprou da empresa americana AES uma participação de 51% na Eletronet,
por R$ 1. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, uma empresa de Nelson dos Santos
pagou R$ 620 mil ao ex-ministro José Dirceu, por serviços de consultoria, entre
2007 e 2009. O empresário não quis comentar o assunto. Sua assessoria de
imprensa confirmou o pagamento, mas negou que ele esteja relacionado à Eletronet.
Segundo a assessoria, Dirceu prestou serviços a uma empresa de investimentos em
energia que pertence a Nelson dos Santos.
"A solução para a Eletronet não passa pelo governo", argumentou a assessoria.
Nelson dos Santos é conhecido no mercado de energia, sendo o responsável pela
negociação das dívidas da AES (antiga controladora da Eletronet) com o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na visão dos credores, o fato de o governo ter anunciado que usará a
infraestrutura da empresa na banda larga é uma prova de que a empresa é uma
estatal. A dívida da Eletronet é estimada em R$ 800 milhões, e os principais
credores são a Furukawa e a Alcatel Lucent, que forneceram os cabos e os
equipamentos de rede à Eletronet.
Segundo Refinetti, está sendo feita também uma perícia, para reavaliar os ativos
da empresa. "Acreditamos que esse valor ficará entre R$ 300 milhões e R$ 350
milhões", disse, indicando que a União deve desembolsar um valor maior que os R$
270 milhões da caução.
A Eletronet tem uma rede 16 mil quilômetros, presente em 18 Estados. O Plano
Nacional de Banda Larga, em elaboração pelo governo, é cercado de polêmica. Além
da Eletronet, as informações sobre a reativação da Telebrás, anunciada pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva mas ainda não oficializada, causou grande
especulação com as ações da empresa.