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Fonte: Blog do Noblat
[25/02/10] Eletronet
quase foi ressuscitada - por Gustavo Paul
Governo federal chegou a considerar compra
de dívida da empresa
Star Overseas, empresa que contratou o ex-ministro José Dirceu como consultor,
esteve bem próxima de transformar o R$ 1 que pagou em 2005 pela participação na
Eletronet em alguns milhões de reais. Entre outubro de 2006 e maio de 2007, o
governo estava decidido a fazer com que a Eletrobrás comprasse a dívida da
Eletronet com seus credores, permitindo assim que ela voltasse a funcionar
normalmente.
Dessa forma, a rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica — que
pertence à estatal elétrica mas era gerida pela Eletronet — poderia ser
incorporada à estratégia federal de expansão da banda larga no país.
Além de faturar com a volta à ativa, o provável contrato com o governo para
expansão dos serviços de telecomunicações resultaria em uma grande valorização
das ações da Eletronet e, em consequência, em lucros para Nelson dos Santos,
dono da Star Overseas. As negociações com os principais credores, a japonesa
Furukawa e a francesa Alcatel-Lucent, fornecedoras da empresa, levaram ao
desconto generoso na dívida, de R$ 628 milhões para R$ 134 milhões.
Em maio de 2007, porém, dois meses depois de Dirceu ter sido contratado, a Casa
Civil da Presidência da República reviu a estratégia, e decidiu brigar na
Justiça para retomar o direito de uso da rede sem pagar por ela. A avaliação foi
que a compra da dívida poderia ser questionada judicialmente depois,
representando uma grande dor de cabeça para o Palácio do Planalto.
"Essa bomba iria estourar no meu colo", teria dito a ministra da Casa Civil,
Dilma Rousseff, em tom de agradecimento, durante a reunião ministerial que
decidiu não mais comprar os créditos, segundo um dos presentes.
A decisão de comprar a dívida da Eletronet, que havia pedido autofalência em
2003, foi embasada no parecer do advogado Modesto Carvalhosa, especialista em
direito societário, contratado pela Eletrobrás para achar uma solução que
permitisse o uso da rede de fibra óptica. Ele recomendou que as quatro
subsidiárias da estatal (Chesf, Furnas, Eletronorte e Eletrosul) comprassem os
títulos da falência da empresa, tornando-se as únicas credoras. Assim, poderiam
levantar a falência e decidir os rumos da Eletronet.
— Meu parecer apontava para uma solução viável e palpável. Era legal e poderia
ser feita. Na prática destravava o processo de falência. Não sei por que o
governo não levou adiante, pois não me envolvi mais no assunto — disse
Carvalhosa ao GLOBO.
Na ocasião, o contrato de Cessão de Direito de Uso da Infraestrutura ainda teria
uma vigência de pelo menos mais 12 anos. Em 1999, quando a Eletronet leiloou 51%
das suas ações para a americana AES, foi fechado um contrato de concessão de 20
anos.
Entre fevereiro e maio de 2007, foram feitas pelo menos oito reuniões no Palácio
do Planalto para tratar da compra da dívida. Em maio, porém, as conversas
travaram. Houve resistências do Serpro, empresa federal de transmissão de dados,
escolhida então para assumir a rede, e do Ministério da Fazenda, que considerava
inadequado desembolsar tanto dinheiro pelas linhas.