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Fonte: Blog do Luis Nassif
[25/02/10]
Eletronet: o lobby foi da Folha - por Luis Nassif
Fecha-se o circuito de um dos grandes lobbies montados recentemente pela mídia.
Acompanhe:
1. A Folha, através do repórter Márcio Aith, traz a manchete bombástica de que
um cliente de José Dirceu, Nelson dos Santos – sócio da massa falida da
Eletronet – iria receber R$ 200 milhões do governo, caso saísse o Plano Nacional
de Banda Larga, em cima da rede de fibras óticas da empresa – que o governo já
tinha pegado de volta, sem nada pagar. Atribuiu a operação – que, segundo Aith,
beneficiaria Nelson – ao lobby de José Dirceu.
2. No mesmo dia, aqui, se desmontou essa tese. Mostrou-se que, na verdade,
governo e Nelson estavam em lados opostos. O governo retirando a rede da
Eletronet, sem nada pagar; e Nelson querendo manter o controle da empresa.
3. A matéria era maliciosa e relacionava a caução que o governo teve que
depositar no processo movido pelos credores (para poder ficar com a rede de
fibras óticas) com os supostos benefícios ao Nelson. Ora, a ação era de credores
querendo receber pelo que entregaram, não dos ex-acionistas. De que modo Nelson
ganharia R$ 200 milhões? A matéria não explicava. E foi duramente cobrado do
Aith, aqui, que mostrasse de que forma se daria o pagamento.
4. No dia seguinte, mudou totalmente o enfoque da matéria – mas sempre colocando
a União como cúmplice do Nelson. Agora – na matéria do Aith – a Oi estava
querendo adquirir as dívidas dos credores para poder assumir a rede da Eletronet.
Do que se aproveitou Aith/Folha para relembrar o caso BrOi, Gamecorp, a
assessoria do José Dirceu etc. A matéria foi abatida em pleno vôo por outra –
esta, séria – do Estadão, informando que Nelson ganharia R$ 70 milhões, mas só
na hipótese da Oi entrar. E a Oi não entrou justamente porque foi barrada pela
Eletrobras, em função do PNBL. Ou seja, quem gorou a aventura do Nelson (que
assumiu 51% da Eletronet por R$ 1,00) foi o PNBL – o oposto do que Aith/Folha
falava. Nelson só ganharia se o plano gorasse.
5. Durante dois dias seguidos, Aith/Folha ficaram com a broxa na mão. Afinal,
iriam deixar passar batido a barriga ou abririam as cartas sobre as fontes da
informação.
Sem alternativa, na matéria de hoje Aith abre as cartas: a fonte da tal matéria
era o próprio Nelson dos Santos.
O empresário diz que a autofalência da Eletronet não é culpa dos sócios
privados. “O pedido de autofalência foi feito pela Lightpar [que representa o
governo na empresa] e não pela AES [sócia majoritária na época]“, disse Santos à
Folha antes da publicação da reportagem.
Aí, o leitor mais desavisado perguntaria: mas a troco de quê o próprio Nelson
faria uma denúncia sobre uma operação (o PNBL) que, segundo a própria matéria, o
beneficiaria? Mania de suicídio?
Qualquer repórter iniciante, mais que isso, qualquer pessoa medianamente
inteligente e intelectualmente honesta se perguntaria porque uma fonte estaria
lhe passando informações denunciando uma operação da qual supostamente ela seria
beneficiária. Aith não é ingênuo, não é novato e não é despreparado. Mesmo
assim, não perguntou.
Não há hipótese de Aith/Folha não saberem que as informações vindas de Nelson
dos Santos se destinavam a melar o PNBL. E, sendo assim, seria impossível que o
PNBL beneficiasse Nelson e a Eletronet. Então por que insistiram nesse falso
escândalo? Aliás, pela própria declaração de Nelson – só agora revelada por Aith
– se constata que o repórter já sabia das pendências entre governo e Eletronet
antes de saírem as denúncias. Estava informado sobre o imbróglio jurídico e
sobre a maneira como a lógica do PNBL contrariava os interesses de Nelson. E
reportou justamente o contrário, fazendo o jogo da fonte.
A lógica final é simples.
1. Nelson só receberia R$ 70 milhões se não saísse o PNBL e ele pudesse negociar
a Eletronet com as teles. Nesse caso, a candidata pagaria os credores (no lugar
do governo pagar), a empresa sairia da falência e ele receberia R$ 70 milhões
pela venda.
2. A única arma que ele tinha eram os recibos de pagamentos ao José Dirceu. A
maneira que encontrou para torpedear o PNBL foi pegar os recibos do que pagou a
José Dirceu, chamar o notório Aith e combinar uma matéria que diria que o
pagamento foi para viabilizar o PNBL e beneficiar a ele, Nelson. Com essa jogada
primária, pretendia inviablizar o PNBL e depois sair com a história de que o
setor privado resolveu o problema, pagando as dívidas da Eletronet em lugar de
gastar dinheiro público. E, aí, embolsaria algo entre R$ 70 milhões e R$ 200
milhões, pagos pela compradora.
A última matéria de Aith, em que a trama é deslindada, porque obrigado a abrir a
fonte, é um fecho clássico para uma das grandes manobras de lobby contemporâneo.
Segundo ela, o lançamento do PNBL inviabiliza a Eletronet. Mas poderá
beneficiá-la, «caso o governo mude de ideia». Ora, quem pretendia fazer o
governo “mudar de ideia”? O escândalo bancado pela Folha.
Agora, o governo sinaliza que não precisará mais da Eletronet, já que as fibras
foram transferidas. Mas, segundo os advogados envolvidos no processo, no
estatuto da Eletronet está definido que ela será a única gestora da rede por
mais 11 anos. Caso o governo mude de ideia, os sócios privados terão de ser
indenizados, incluindo Nelson dos Santos.
Mudar de ideia, significa manter a Eletronet como espinha dorsal – algo que o
Nelson quer e o governo não quer:
Outro cenário é o de que a controvérsia pela posse das fibras seja resolvida e o
governo mantenha a Eletronet como “espinha dorsal” do PNBL.
Nesse caso, a Eletronet, saneada, aumentaria sua receita e faria crescer a
participação de Santos. Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de
R$ 200 milhões caso seja reativada com a Telebrás.
Ou seja, Nelson ganharia de R$ 70 milhões a R$ 200 milhões se o lobby da Folha
fosse bem sucedido, as informações distorcidas melassem o PNBL e a Eletronet
pudesse ou ser negociada com o setor privada ou ser aproveitada para o plano – a
empresa inteira (como pretende o Nelson) e não apenas a rede de fibras óticas
(como planeja o PNBL).
Há um agravante. Antes de sair essa matéria, o jornal soltou outro factóide
contra a Telebras, acusando um twitteiro de ter vazado a informação – que já era
de amplo conhecimento geral – de que o governo iria ressuscitar a Telebrás. É
evidente que foi um preparativo para o lobby final de melar o modelo Telebrás,
abrindo espaço para a manutenção da Eletronet.
E por que, afinal, Aith/Folha teriam bombardeado a Oi, se ela poderia ser uma
futura compradora? Segundo a matéria do Estadão, a venda para a Oi renderia R$
70 milhões a Nelson. Primeiro, porque a operação já tinha melado. Segundo,
porque havia outro comprador disposto a pagar os R$ 200 milhões. Aliás,
finalmente se descobre de onde nasceu a versão dos R$ 200 milhões para o Nelson.
Sairiam se o lobby tivesse dado certo e a Eletronet fosse reativada – o que só
ocorreria se o PNBL fosse para o espaço.
Hoje ela não tem valor, mas, diz Santos, pode passar de R$ 200 milhões caso seja
reativada com a Telebrás.
Em jogo, portanto, de R$ 70 a R$ 200 milhões.
Aliás, não há mais o menor motivo para que Dirceu não revele os termos do
contrato firmado com Nelson. Alegou sigilo contratual. Agora, está provado que
quem vazou as notas de pagamento a Dirceu foi o próprio Nelson. Então, o acordo
de confidencialidade foi quebrado unilateralmente.
É um bom momento para Dirceu colocar a história das suas assessorias em prato
limpo.