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Fonte: Clipping MP - Origem: Folha
de S. Paulo
[26/02/10]
“As inconveniências da Telebrás - por Eduardo Gomes
Eduardo Gomes , deputado federal pelo PSDB-TO, é
presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da
Câmara dos Deputados
É urgente universalizar o acesso à internet no Brasil, mas a estratégia adotada
pelo governo é ineficiente, ineficaz e onerosa para o país
O GOVERNO federal pretende, sob o pretexto inadmitido, mas ostensivamente
eleitoreiro, de universalização do acesso à internet em banda larga, reativar
uma holding sem subsidiárias e juntá-la com a infraestrutura de uma outra
empresa falida para oferecer links de conexão à internet em regiões não
atendidas pela infraestrutura atual.
Que é urgente universalizar o acesso à internet no Brasil não resta a menor
dúvida. Mas a estratégia adotada é ineficiente, ineficaz e onerosa para o país,
sobretudo pelo fato de que essa nova “prioridade” vem de um governo que não
gastou nem um centavo dos mais de R$ 8 bilhões de reais do Fust (Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações).
O modelo que o governo pretende para a internet é o mesmo aplicado à telefonia
na época em que o setor de telecomunicações no Brasil era estatal e que durante
mais de 30 anos não ofertou mais que 10 milhões de telefones fixos e 1 milhão de
celulares.
Decorridos quase 15 anos de sua reformulação, quando o Estado deixou a função de
executor, dispomos de mais de 40 milhões de linhas fixas e mais de 175 milhões
de celulares.
Universalizou-se a telefonia, mostrando que o modelo baseado em competição de
mercado é mais eficiente na universalização das telecomunicações, fato que o
governo parece não reconhecer.
Mas esse não é o único inconveniente. A Telebrás só subsiste hoje pois mantém
cedidos técnicos essenciais ao funcionamento da Anatel. A Telebrás não dispõe de
estrutura física, lógica, técnica e humana com capacidade para operar um sistema
de telecomunicações moderno. Na realidade, nunca teve, tendo em vista que era
uma holding das telefônicas estaduais, sem nunca ter operado diretamente nenhuma
rede.
Associe-se a isso a complexidade que representa a operação de uma empresa de
telecomunicações, que exige equipes especializadas de monitoramento e suporte
para garantia da disponibilidade dos serviços, de engenharia e desenvolvimento
para atualização constante dos sistemas e de orçamento, marketing e vendas para
garantir a viabilidade da operação.
Um “staff” desse tipo não passa de sonho distante para a Telebrás, sonho este
que, diga-se de passagem, não se materializa com decretos ou voluntarismo
político.
Como se esses aspectos não bastassem, o governo ainda não mostrou uma avaliação
técnica que ateste que os 16 mil quilômetros de fibras óticas da falida
Eletronet, que foram instalados para atender sistemas de gerenciamento de
sistemas de energia, serão capazes de suportar um tráfego de dados
incomensuravelmente maior decorrente de milhões de usuários em banda larga.
A avaliação sob o prisma econômico mostra ainda mais contradições: o modelo em
gestação pelo governo é incompatível com o marco regulatório do setor. Não há
espaço para um ente estatal que introduza na economia do setor subsídios
cruzados ou preços que distorçam o equilíbrio estabelecido, pois isso levará à
retração dos investimentos e, consequentemente, menor oferta, menor qualidade e
maiores preços. Levará, portanto, à não universalização.
Como considerava o ilustríssimo e saudoso Roberto Campos, “empresas privadas são
aquelas que o governo controla, empresas estatais são aquelas que ninguém
controla”.
Dadas as tentativas do governo - frustradas, felizmente - de impor óbices ao
livre trânsito da informação, não é difícil supor que interesses subjacentes e
antidemocráticos fundamentem a proposta do governo: controle estatal sobre a
sociedade, quando a democracia exige controle social do Estado.
Por fim, o governo parece desconhecer que universalizar banda larga é um
objetivo que pode ser atingido com os instrumentos legais, econômicos e
regulatórios vigentes. Por meio de decreto presidencial, poderia ser criado o
serviço de banda larga em regime público, por meio de concessão, com objetivos
de universalização estabelecidos em um Plano Nacional de Universalização de
Banda Larga.
O Brasil está diante de um desafio premente: universalizar a banda larga. A
sociedade, o Parlamento e o governo precisam decidir se essa demanda social será
atendida por uma política pública eficiente e eficaz, como a que construímos
para o segmento de telefonia, ou se, ao contrário, como mostra a
contraproducente reativação da Telebrás, será usada como subterfúgio para
atender objetivos privados, políticos e eleitorais.