WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2010
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
Fonte: Isto É
[26/02/10]
A face oculta da banda larga - por Ralphe Manzoni Jr. (Quem é Cezar Alvarez)
Quem é Cezar Alvarez, homem de confiança de Lula que comanda o plano nacional de
popularização da internet rápida, um projeto recheado de denúncias e de questões
mal explicadas
No nebuloso projeto de popularização da internet do governo, batizado de Plano
Nacional de Banda Larga, já apareceram os mais variados tipos de personagens. O
lobista? José Dirceu. O empresário favorecido? Nelson dos Santos, dono da Star
Overseas Venture, que adquiriu uma empresa (a Eletronet) com 16 mil quilômetros
de fibras óticas. O governo falastrão? Também apareceu, nas figuras do
presidente Lula e do ministro das Comunicações, Hélio Costa. O governo omisso?
Veio à tona no silêncio indesculpável e constrangedor da Comissão de Valores
Mobiliários, que até agora nada fez para conter o festival de especulação com o
papel da Telebrás – uma ação que subiu 35.000% desde o início do governo Lula,
ao sabor dos boatos.
Quem até agora não apareceu foi o responsável por tirar essa ideia do papel e
levá-la para o mundo real. Pois a face oculta por trás desse projeto é o gaúcho
Cezar Alvarez. Não pense, porém, que se trata de um técnico ou de um
especialista em informática. Recheado de questões mal explicadas e polêmico em
suas intenções, o projeto possui um forte componente político e, por isso,
necessariamente deveria ser conduzido por um “bicho” político – e, assim, o nome
de Alvarez faz todo o sentido. Gaúcho de Santana do Livramento, ex-líder
estudantil e economista, Alvarez é homem de confiança de Lula. Não tem um posto
fixo. É um dos integrantes de um time de assessores informais que todo
presidente, governador ou prefeito possui.
É chamado para missões específicas e cabeludas. Neste caso, o objetivo é claro.
“O plano se estrutura em três pilares básicos: levar banda larga para onde
nenhuma empresa quer ir, dar um empurrãozinho no mercado para que ele atenda as
periferias dos grandes centros e partir, depois, para uma superbanda larga, com
maior capacidade”, disse ele à DINHEIRO.
Alvarez trocou os pampas pelo planalto em 2002 para trabalhar diretamente com
Lula. No começo, como assessor especial. Depois passou a cuidar de sua agenda e
das iniciativas de inclusão digital. Essa proximidade e o poder que advém dela o
tornaram um homem respeitado e temido.
Quem conhece Alvarez (goste ou não dele) o considera uma pessoa com grande
capacidade de articulação e habilidade para buscar o consenso – um traço de
personalidade que começou a ser demonstrado na década de 70, quando comandou o
Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, a mesma cursada pela ministra Dilma Rousseff, hoje pré-candidata do PT à
Presidência.
Na ocasião, Alvarez militava no grupo Perspectiva, o embrião do que viria a ser
a Liberdade e Luta, ou Libelu, de orientação trotskista. Desde muito cedo, ele
ficou conhecido pela sua capacidade de planejamento – e essa é outra
característica fundamental para a implantação de uma rede em todo o território
nacional.
Em 1976, por exemplo, ele organizou a primeira manifestação de rua dos
estudantes para protestar contra o regime militar. “Ele fez um mapa do local do
protesto, com a previsão de onde deveriam vir os militares e com indicação de
todos os pontos de fuga. Era demonstração de organização”, conta o livro “Abaixo
a Repressão”, dos jornalistas Ivanir José Bortot e Rafael Guimarães.
Essa capacidade de organização não bastará para colocar o projeto de banda larga
de pé. Será necessário também certo faro político. “Ele é indicado para os
projetos que o presidente quer ver fora do papel”, afirma Sérgio Amadeu, que
trabalhou com Alvarez no governo federal. “Ele entra para resolver.” E também
para evitar que polêmicas prejudiquem o andamento do trabalho.
Polêmica, aliás, não falta em torno deste projeto. A começar pelo discutível
renascimento da Telebrás. A estatal pode ser ressuscitada para fazer a gestão de
uma rede de fibras ópticas de mais de 30 mil quilômetros (16 mil quilômetros são
da Eletronet). O argumento do governo para entrar nesse tipo de atividade tem
sido utilizado até pelo próprio presidente Lula, em conversas reservadas com
gente da área de telecomunicações.“Para o meio do mato, vocês não querem ir”,
disse ele para o principal executivo de uma grande operadora de telefonia,
quando se encontraram em um evento no final do ano passado. No capítulo
Telebrás, Alvarez diz que a decisão ainda não foi tomada. Mas pode ser apenas
estratégia de bom negociador. Aliás, contrariar interesses e ainda assim agradar
é uma de suas qualidades.
Em 2005, Lula o designou para tocar o projeto Computador para Todos.
Representantes do setor pediam desoneração fiscal e torciam o nariz para o uso
de software livre, proposto pelo governo para baixar o custo dos equipamentos.
Ele reduziu os impostos, como queria a indústria, mas bateu o pé ao criar uma
linha de financiamento do BNDES para vender computadores com programas de código
aberto. Foi nessa época que Alvarez deu uma demonstração de seu prestígio com
Lula.
Quinze minutos antes de anunciar o plano, o presidente o chamou em seu gabinete.
Alvarez encontrou na sala o então ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando
Furlan, e o presidente cheio de dúvidas sobre a viabilidade do projeto. “Alvarez
teve de usar todo o seu poder de argumentação para convencer Lula de que estavam
indo na direção correta”, conta um antigo assessor de Lula. E conseguiu. Desde
então, nunca se vendeu tanto computador no Brasil. O mercado de PCs saltou de 4
milhões de unidades em 2005 para 12 milhões no ano passado.
O programa Computador para Todos, no entanto, não teve o potencial de escândalo
político do plano nacional de banda larga. As ações da Telebrás, uma empresa
desativada, subiram fantásticos 35.000%. Pior: a CVM, xerife do mercado de
capitais, manteve-se como mera espectadora diante dessa megaespeculação.
Questionada pela DINHEIRO, respondeu com uma frase lacônica e protocolar, quase
cínica: “A CVM acompanha e analisa a movimentação dos papéis da companhia e
adota as medidas devidas quando necessário”. Além do pouco caso da CVM, há a
revelação de que o ex-ministro José Dirceu assessorou a Star Overseas Venture.
Com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, ela pertence ao empresário Nelson dos
Santos, que comprou participação na massa falida da Eletronet por R$ 1. A
oposição viu um conflito de interesses entre o público e o privado e partiu para
cima. O DEM pede a abertura de uma CPI. O líder do partido, o deputado Paulo
Bornhausen (SC), também quer que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esclareça
as operações envolvendo as ações da Telebrás.
O desafio de Alvarez agora é muito maior. Não se trata apenas de adivinhar de
onde surgirão os militares. Nos dois primeiros meses de 2010, fez reunião com
representantes das entidades civis e da iniciativa privada para apresentar o
plano. Dentro do próprio governo sofre com o fogo amigo do ministro Hélio Costa,
que tem manifestado sua discordância com a reativação da Telebrás. Será que
desta vez o homem forte de Lula conseguirá o consenso?
--------------------------------------
Entrevista:
Por Rodolfo Borges
“A Telebrás reúne condições para a gestão”
Cezar Alvarez, que comanda os programas de inclusão digital do governo federal,
falou com jornalistas após evento em Brasília, na semana passada:
Qual é a meta do plano nacional de banda larga?
O plano se estrutura em três pilares básicos: levar banda larga para onde
ninguém quer ir, dar um empurrãozinho no mercado para que ele atenda às
periferias dos grandes centros e partir, depois, para uma superbanda larga, com
maior capacidade. Mas o projeto ainda está em construção. O governo não quer ser
prestador no varejo, mas, considerando a importância do plano para o País, se o
mercado não o fizer, nós dizemos que faremos.
O plano prevê participação de empresa pública, como o presidente Lula adiantou?
O presidente conhece o conjunto dos estudos que têm uma avaliação do conjunto
das empresas e sabe que a Telebrás é aquela que reúne as melhores condições para
exercer a função de gestão, mas a decisão só sai na reunião que teremos para
concretizarmos o plano, até o início de abril. A Telebrás tem sido uma das
empresas de maiores possibilidades e é considerada desde 2004, quando do projeto
Computador para Todos.
Qual é o volume de recursos?
O pacote de expansão física das linhas de transmissão, incluindo a oferta do
acesso final ao consumidor, tem uma projeção inicial de custo ao governo de R$
15 bilhões. Seremos extremamente modestos, até porque a mesa de discussões está
começando e não sabemos ainda como tudo vai ser.
Rodolfo Borges