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Fonte: Site do Ethevaldo Siqueira
[27/02/10]  O desafio de utilizar as fibras ópticas da Eletronet - por Juarez Quadros do Nascimento e Ronaldo R. de Albuquerque Sá

Juarez Quadros do Nascimento é engenheiro e ex-ministro das Comunicações; Ronaldo R. de Albuquerque Sá é engenheiro e professor da UIT. Ambos são sócios da Orion Consultores Associados.

A Eletronet S.A., criada em 1999, foi composta pela subsidiária estatal do setor elétrico Lightpar (atual Eletropar) e a norte-americana AES (multinacional de energia), tentando prover transporte de dados em alta velocidade por meio de fibras ópticas instaladas em linhas de transmissão de energia da Eletrobrás, mediante contrato de Constituição de Direito de Acesso firmado com a subsidiária e se baseando num plano de negócios que visava a telecom, e que supostamente não deu bons resultados.

A Eletronet encontra-se em estado falimentar desde 2003, sob a gestão de um síndico. Falida, a companhia possuiria em seus ativos 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica interligando subestações em 18 Unidades da Federação (áreas de concessão da Chesf, Furnas, Eletronorte e Eletrosul) e acumulando uma dívida da ordem de R$ 800 milhões. A Eletronet continua em atividade graças a uma decisão judicial, contudo, atende a poucos clientes.

A disputa na esfera judicial entre os credores da Eletronet, sócios privados e o governo federal, pelo controle dos ativos, ocorre no Rio de Janeiro. Tanto que, em dezembro de 2009, a União conseguiu da Justiça a posse de parte das fibras nos 16 mil km de cabos.

A União é sócia com 49% de participação, e o restante (51%) está nas mãos da Contem Canada e da Star Overseas Ventures, acionistas da Eletronet em consequência da venda de participação feita pela AES (sócia majoritária na época) ou, como também é dito no mercado, pela Ligthpar (então representante do governo).

O principal patrimônio da Eletronet seria a rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas instaladas nas torres de transmissão de energia elétrica das empresas do sistema Eletrobrás. Essa rede foi montada pelos fabricantes Furukawa (fibras ópticas) e Alcatel-Lucent (equipamentos). Tais ativos valiam algo em torno de R$ 600 milhões, o que representaria quase 80% do total da dívida.

Mas, passados dez anos da autofalência, com continuidade de atividades, e se o governo quer a posse das fibras ópticas da Eletronet, lhe é exigido que pague por isso. É a tese que orienta a petição apresentada pelos credores Furukawa e Alcatel Lucent, junto à 5ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. As empresas credoras pediram uma determinada caução (fixada judicialmente em R$ 270 milhões) além de outros condicionamentos.

Já os sócios privados buscam um acordo com a União e os credores da Eletronet, acreditando na viabilidade econômica da companhia. A oferta de utilização da rede da Eletronet às empresas de telecom vinha sendo tentada desde a privatização do setor. Mas, é importante mencionar que, mesmo antes da criação da Eletronet, outras tentativas por parte do sistema Eletrobrás para utilização dessa rede ocorreram com as empresas do Sistema Telebrás, então estatais, e não lograram êxito.

O fato é que as linhas de transmissão de energia, exceto nas subestações terminais, passam ao largo das grandes cidades e, ainda assim, a utilização dos cabos OPGW (Optical Ground Wire), cabos de proteção que em seu núcleo contêm fibra óptica, é complexa. Apenas como exemplo da complexidade e dos custos envolvidos, os cabos ópticos teriam de ser abertos e derivados em todas as subestações de energia onde existam interesses comerciais ou sociais.

Salvo intercorrências, a eletrônica envolvida é PDH (Plesyncronous Digital Hierarchy), tecnologia ultrapassada e caminhando para desuso no mundo. Para a extração e inclusão de tráfego digital o setor de telecom requer SDH (Syncronous Digital Hierarchy) pela simplicidade e relativo baixo custo. O sistema óptico instalado não é DWDM (Dense Wavelength Division Multiplexing), que permite a transmissão simultânea de diversos feixes de luz num mesmo par de fibras ópticas.

Entretanto, o governo, sem enunciar claramente o problema que deseja resolver com o Plano Nacional de Banda Larga, que poderia ser feito por meio de uma política pública clara e precisa, já anuncia a solução: usar a Telebrás para ofertar a rede de fibras ópticas da Eletronet para quem queira prover o serviço de acesso à banda larga. E não está descartada a possibilidade de o próprio governo entregar o serviço ao usuário final.

Enquanto isso, outras companhia de energia, estatais e privadas, investem pesadamente em redes de fibra óptica, em função dos direitos de passagem que detêm e assim, via aluguel das redes, oferecem disponibilidade para complementar necessidade de transmissão de dados para operadoras de telecom. Nesse contexto, além de outras, podem ser destacadas a paranaense Copel e o Grupo AES Eletropaulo, nas quais os novos projetos de transmissão de energia consideram em seus escopos a utilização de fibra óptica ao longo da malha elétrica e, detalhe importante, com o que existe de mais moderno no setor.

Outro modo de ver o problema é considerar que a infraestrutura de fibra óptica estatal não chega a 30 mil quilômetros de cabos, somando os 16 mil quilômetros da Eletronet com outros, enquanto a infraestrutura privada tem mais de 200 mil quilômetros de cabos com fibra óptica e em expansão acelerada, sem contar as facilidades de transmissão via rádio terrestre ou satelital.

Tanto que, na região Norte do País, duas operadoras de telecom (Oi e Embratel), competindo uma com a outra e visando ao mercado de banda larga, ultimam a instalação de fibras ópticas para atender as capitais brasileiras e outras cidades que se encontram acima, ou na margem esquerda, do rio Amazonas (como Manaus, Boa Vista e Macapá).

Como se percebe, a equação do problema Eletronet não é simples, é muito complexa, e sua solução deve necessariamente atender atributos específicos, como o emprego de tecnologias padronizadas de alto desempenho, escala de produção global, custos de capital e custos operacionais coerentes e competitivos, reaproveitamento da infraestrutura existente em regime de complementaridade de redes e com a higidez jurídica requerida nos negócios de interesse público.