WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2010
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: Clipping MP - Origem: O Estado de S. Paulo
[28/02/10]
Estatais? Para que? - por Suely Caldas
O socorro financeiro de governos de países ricos a grandes bancos afetados pela
crise animou integrantes do PT e do governo Lula a tirarem do baú convicções que
foram forçados a esconder por 20 anos com a derrota do velho socialismo e a
queda do Muro de Berlim. Com a euforia de quem passou esse tempo na retranca e
agora vai à forra, a ministra Dilma Rousseff e o assessor especial de Lula Marco
Aurélio Garcia condenaram a economia de mercado e aproveitaram para defender e
justificar a presença forte do Estado na economia. Dilma chegou a afirmar que a
ideia de livre mercado está fora de moda.
No afã de partir para o ataque, os dois esqueceram de criticar o que merece ser
criticado e corrigido e se destrambelharam em análises apressadas e inadequadas.
Onde o socorro financeiro ocorreu - EUA, Europa e Japão - não se cogita abrir
mão da economia de mercado, e propostas na direção de estatizar os bancos que
receberam socorro foram rejeitadas pelos governantes.
Nessa crise, erraram os bancos centrais, o BIS, que os supervisiona, o Fundo
Monetário Internacional, o Banco Mundial e as agências de risco - que não
regularam, não fiscalizaram, não anteviram nem preveniram a crise. Essa cadeia
de omissões, aliada à ganância por lucro elevado e rápido, incentivou executivos
financeiros a fazerem apostas erradas e milionárias, num jogo especulativo e
irresponsável com dinheiro alheio, que acabaram por criar uma situação de
quebradeiras em série, em que os governos tiveram de intervir para evitar o
pior.
Menos do que o tamanho da crise recomenda, governos e bancos centrais buscam
agora corrigir seus erros submetendo o mercado a regras de regulação e
fiscalização. Isso, sim, merece ser duramente criticado e corrigido e os
especuladores, julgados. Não ensejar o ingênuo e ultrapassado desejo de
recuperar para o Estado o papel de empresário - modelo derrotado nos países da
União Soviética e do Leste Europeu e que só sobreviveu com a população
silenciada, sem liberdade, sem direito a votar nem opinar. Modelo que atrofiou a
economia, não produziu riquezas nem novas tecnologias. Nele, a população estava
condenada à pobreza, os salários eram baixíssimos, não havia previdência para os
idosos nem direitos trabalhistas para os trabalhadores.
Quando Nikita Kruchev e depois Mikhail Gorbachev começaram a destampar e remexer
seu conteúdo, dessa panela transbordou o que ficou escondido por décadas:
milhares de opositores assassinados, corrupção disseminada entre governantes e
burocratas, gestões medíocres e incompetentes, empresas paralisadas e
acomodadas, tecnologia primitiva, pobreza espalhada pela população e um gigante
e rico poderio bélico-militar a sustentar a guerra fria.
No Brasil, empresas estatais foram criadas em dois momentos. Por Getúlio Vargas,
a partir da década de 40, com Vale, Petrobrás e CSN. Foi o que deu impulso à
industrialização - o que, na época, seria quase impossível fazer sem a
participação do Estado. Juscelino Kubitschek acelerou a industrialização
atraindo empresas privadas estrangeiras. Hoje reverenciado à esquerda e à
direita, na época foi xingado de entreguista.
Num segundo momento, as estatais ganharam espaço e musculatura com a ditadura
militar de 1964. Telebrás, Siderbrás, subsidiárias da Petrobrás, Eletrobrás
vitaminada, bancos estaduais, enfim, centenas de estatais criadas pelos generais
ditadores, num modelo típico de capitalismo de Estado, uma vez que defensores do
socialismo eram reprimidos, presos e torturados.
A quem serviram as estatais? Hoje, com o distanciamento do tempo e centenas de
casos conhecidos de corrupção, escândalos financeiros e uso político, é possível
dizer que as estatais serviram muito mais a presidentes, governadores,
prefeitos, deputados, senadores e seus amigos do que aos brasileiros.
As distribuidoras de energia elétrica e os bancos estaduais eram descaradamente
usados como caixa de governadores para financiar campanhas eleitorais. O setor
elétrico (Eletrobrás e subsidiárias) foi por anos feudo do senador baiano
Antonio Carlos Magalhães, transferido depois para o senador José Sarney. A
Telebrás e as telefônicas estaduais eram inchadas de apadrinhados, prestavam
favores aos políticos, enquanto a população mendigava uma linha telefônica, que
custava R$ 5 mil.
Pois agora, com todo esse lamentável histórico, em vez de um programa de governo
para a banda larga, Lula e Dilma querem ressuscitar a Telebrás e criar uma nova
estatal de fertilizantes. Para quê?