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Fonte:
Insight - Laboratório de Ideias
[03/01/10] Target
price para a nova Telebrás – uma análise prospectiva - por Leonardo Araujo
*Leonardo Araujo é analista de TI
Nas últimas semanas, na medida em que as notícias sobre a reativação da Telebrás
ficavam mais frequentes e concretas, o valor da ação passou a acompanhar as
perspectivas positivas, saindo da casa de um real e chegando à casa dos três,
recuando a seguir por influência da crise européia.
Não cabe aqui analisar as estratégias pessoais, pois cada investidor teve seu
ponto médio de entrada e, de acordo com suas possibilidades e objetivos, traçou
ou traçará o ponto de saída.
O que cabe é tentar, através do conhecimento dos fatos do mercado, estabelecer
quais seriam as possibilidades de a ação atingir um determinado patamar de
preços e qual seria este.
Para tanto, é preciso considerar que, em termos de investimento real, até pouco
tempo atrás, Telebrás "não existia". Os investidores que entraram no papel antes
de dezembro de 2009 sabiam que estavam comprando o risco de quem dele queria se
desfazer. Isso porque a empresa estava (e ainda legalmente está) em liquidação
extrajudicial, e só aguardava a resolução de algumas pendências para ser
extinta.
Evidentemente, a maioria desses novos investidores estava calçada em
informações, veiculadas na imprensa desde 2007, que não podiam ser desprezadas.
Desde então, na Internet - à disposição de qualquer internauta - há diversas
reportagens comentando sobre a possibilidade de reativação da Telebrás. Através
delas era possível perceber que a intenção de reativação estava localizada no
núcleo central do governo, tanto na Casa Civil como no Ministério do
Planejamento, e que as notícias tinham, como fonte, dirigentes do primeiro e
segundo escalões, como Dilma Rousseff, Paulo Bernardo, Rogério Santanna, César
Alvarez e Erenice Guerra, todos com acesso direto ao presidente. Assim, não foi
difícil ir coletando, reunindo e analisando as informações.
Ao fim e ao cabo, o mesmo grupo governamental, capitaneado pela agora candidata
a presidente da república, fez valer suas opiniões e, ao que tudo indica, a
Telebrás será mesmo reativada. Surpresa? Não, com certeza não foi surpresa para
os investidores que, mediante uma criteriosa análise de informações, já haviam
chegado a esta conclusão há mais tempo, especialmente no período compreendido
entre o final de 2009 e janeiro de 2010.
Obviamente, o resultado foi uma disparada nas cotações, amparada por um volume
de transações que está fazendo inveja a qualquer blue ship do mercado. Possíveis
correções poderão ocorrer; afinal, isso é pertinente ao mercado de ações. No
entanto, não parece sintomático que, à baixa emocional do dia 04 tenha se
contraposto uma forte alta de mais de 10% no dia 05, mesmo com a Bovespa e as
demais bolsas mundiais derretendo em fortes quedas? E ainda mais: com um dos
maiores volumes da Bolsa?
Os fatos acima, embora já presentes em análises anteriores, são importantes para
que se possa tentar entender algumas características psicológicas da massa de
investidores que está posicionada em Telebrás, particularmente em suas ações
preferenciais, o que poderá auxiliar em uma tentativa de previsão do
comportamento da ação durante o ano de 2010.
Estima-se que hoje, 06 de fevereiro, após analisadas todas as informações
disponíveis, a possibilidade de reativação da empresa seja de 95%.
Grosso modo, é possível classificar os atuais investidores em Telebrás nos
seguintes grupos:
1. Ex-funcionários da estatal que receberam ou adquiriram ações nos "áureos
tempos" e que com elas permanecem na expectativa de sua reativação;
2. Fundos de investimento agressivos e com perfil de altíssimo risco (como o da
Verax, ligado ao Banco Cruzeiro do Sul, que em Dez 08 já detinha 10% das ON);
3. Pequenos e médios investidores que foram se posicionando entre 2007 e 2009;
4. Pequenos e médios investidores (incluindo insiders) que assumiram posições
recentemente, logo após a ação romper o topo anterior de R$ 0,98;
5. Pequenos, médios e grandes investidores que, juntamente com diversos clubes
de investimento, compraram já acima de R$ 2,xx.
O fato é que, enquanto não houver a divulgação oficial da reativação da empresa,
a maior parte dos grandes investidores – os verdadeiros "motores" da Bolsa,
principalmente os fundos de investimento (nacionais e estrangeiros) e os
investidores institucionais, não poderão se posicionar em Telebrás. Quem
gerencia recursos de terceiros ou para estes gera análises e informações
bursáteis, só prospera se for frio e extremamente racional. Assim, não podem
adquirir ou recomendar a empresa antes que tenham algo concreto para justificar
perante seus cotistas e clientes, caso contrário podem perder o emprego e/ou a
credibilidade.
Há também os mega investidores estrangeiros que gerenciam bilhões de dólares.
Estes, via de regra, só aplicam em empresas com recomendação positiva de uma
agência internacional de classificação de risco.
A exceção ao caso acima são os fundos de investimento, nacionais e estrangeiros,
com perfil de altíssimo risco.
Algumas das questões fundamentais para tentar atribuir um preço justo para a
ação são as capitalizações de que será alvo e a perspectiva de lucro futuro.
Somente após o detalhamento desses quesitos será possível ter uma avaliação
inicial que permita obter conclusões.
De qualquer forma, há um cenário inicial que não pode ser desprezado e que
poderá estabelecer um piso, a partir do qual se desenvolverá a escalada de
preços futuros.
Nesse cenário, atualmente em curso, uma empresa que estava em liquidação
extrajudicial, de repente será reativada e receberá um grande aporte de capital
de seu acionista controlador – o governo brasileiro, além de prestígio junto à
população e aos investidores.
Tal empresa, por antigas questões ideológicas e por questões político-econômicas
presentes no atual momento eleitoral, está sendo levada a sintetizar, em sua
futura atuação, a filosofia do "novo desenvolvimentismo" proposto pela candidata
Dilma Rousseff e defendida pelo atual presidente da república, em que o Estado
passa a assumir um papel forte e preponderante onde a iniciativa privada não
quer ou não tem meios para investir.
Dentro dessa nova filosofia, como muito bem se expressou o presidente Lula em
Porto Alegre e na recente reunião com representantes da sociedade civil, as
empresas estatais não podem ser deficitárias. Têm que dispor de uma
administração moderna e de um corpo de funcionários eficiente que as façam
cumprir exemplarmente sua função social e, ao mesmo tempo, gerar lucros
financeiros, pois esses se transformarão em mais investimentos sociais futuros.
Além disso, a Telebrás será o órgão líder do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL),
o qual é o principal programa do PAC-2, carro-chefe e maior cartada política
para alavancar a candidatura de Dilma.
Segundo estimativas divulgadas por membros do governo ligados ao PNBL, há a
possibilidade de um montante de cerca de 14 bilhões de reais serem investidos
nesse Plano até 2014. É de se esperar que uma parcela significativa dessa
astronômica quantia seja investida diretamente na Telebrás.
Voltando ao chamado target price, é necessário considerar quais os fatores que
fazem com que uma empresa tenha suas ações valorizadas em Bolsa de Valores.
Nesse quesito, para não incorrer em explicações detalhadas, basta verificar que
não são somente indicadores clássicos, como relações preço/lucro e preço/valor
patrimonial, que, quando atrativos, podem incrementar tais esses valores.
Algumas das grandes explosões de preços havidas em ações ocorreram quando se
fazia presente uma perspectiva nova e altamente promissora para a empresa. Por
exemplo, quando uma concordatária conseguiu equacionar suas dívidas e voltar ao
mercado com excelentes perspectivas. Normalmente, ao entrar em concordata, o
valor de suas ações vai "ao fundo do poço", pois há a possibilidade de falência.
Ao sair desta condição e, ainda mais, se tiver as tais excelentes perspectivas,
a valorização é excepcional.
Outro exemplo se dá quando uma cobiçadíssima empresa de capital fechado resolve
fazer um IPO. Se tudo for bem conduzido e o momento bursátil for propício, o
preço final tende a ser disputado e alto.
Tomando um exemplo atual, o que fez a ação da OGX Petróleo (OGXO3) alcançar a
cotação de mais de R$ 18,00 sem que a empresa tenha produzido um único barril de
petróleo? Antes disso, ainda em meados de 2008, a OGX realizou o maior IPO da
história do Brasil até então, captando 6,7 bilhões de reais em uma oferta 100%
primária. Antes disso, ainda em 2007 e em uma colocação privada de ações, a OGX
captou cerca de 2,5 bilhões de reais.
Em 2007, a OGX não tinha patrimônio, lucros, resultados anteriores e qualquer
outro indicador comum nas análises bursáteis também comuns. Mas tinha a marca "Eike
Batista" de administrar e um corpo técnico invejável, recrutado entre os
melhores do mercado. Esses dois fatores, aos olhos dos investidores, foram
suficientes para que fizesse sua grande captação inicial, conseguisse adquirir
21 blocos exploratórios na bacia petrolífera brasileira e começar a sondá-los.
Posteriormente, após o IPO, descobriu petróleo em alguns deles e, a cada
descoberta, as ações se valorizam mais e mais.
Repito: é preciso lembrar que a OGX ainda não produziu nada. O início da fase de
produção está previsto somente para o final de 2011.
O "caso OGX" e o de várias ex-concordatárias são emblemáticos para o momento
atual da Telebrás, pois se traduzem em uma única palavra: PERSPECTIVAS!
Tal – ou pior - que as concordatárias citadas, a Telebrás estava em processo de
extinção, com suas ações valendo dois ou três centavos (sendo que chegaram a
valer R$ 177,16 em 10 de julho de 1997). Na medida em que as perspectivas foram
mudando, suas ações foram ganhando valor, até chegar aos atuais R$ 2,62 do dia
05 de fevereiro. No entanto, ainda não há nenhuma definição oficial. Nada foi
confirmado pelo governo.
Assim sendo, no momento em que a confirmação existir, dois fatos tendem a
acontecer:
1) De forma mais positiva que as referidas concordatárias, a empresa
repentinamente passará de "quase sem valor" a uma outra condição onde terá
prestígio público, capital e um papel central em um dos maiores planos do atual
governo, além sintetizar a filosofia política que pode eleger a candidata
chapa-branca.
2) De forma similar à OGX, a Telebrás sairá do "zero" para uma situação que
permitirá aos investidores antever excelentes perspectivas de resultados
futuros, haja vista o governo fazer questão de que tenha lucro e seja
auto-sustentável posteriormente, o que significa muitas coisas, entre as quais o
merecimento de uma administração competente e pautada pelas normas da governança
corporativa.
Sem que se tenha detalhes de como será organizada, operacionalizada e
capitalizada, é impossível prever um target price para qualquer tempo. No
entanto, considerando um cenário positivo, é razoável supor que as atuais
movimentações de preço sejam apenas iniciais, em direção ao estabelecimento de
um piso que venha a se constituir na base sobre a qual se definirão os próximos
movimentos. Quanto mais alto for esse piso, mais expressivos tenderão a ser os
movimentos futuros, quase que como em um verdadeiro IPO (o que, de fato, não
deixará de ser).
Nessa linha de raciocínio, falar-se em 5, 10 ou 15 reais para este piso inicial
de preços não é irreal, especialmente em um mercado (nacional e estrangeiro)
ávido por empresas novas e promissoras. Independente de qual seja, é licito
supor que será sobre esse valor que poderá acontecer a verdadeira explosão – o
big bang – nas cotações, levando-as, com o decorrer do tempo, a patamares que só
o mercado poderá determinar.
Em conseqüência, não parece haver motivos para se pretender uma antecipação na
data do anúncio da reativação, pois, de acordo com esta análise, quanto mais
tarde ela ocorrer, maior poderá ser o retorno proporcionado aos seus acionistas
na sequência dos acontecimentos.
Indo ainda mais longe, caso o cenário se mostre mais positivo do que se antevê,
a Telebrás poderá voltar a ser uma das "jóias da coroa", reassumindo a condição
de blue ship estatal, ao lado da Petrobrás e do Banco do Brasil. Neste caso,
para as cotações, o céu já não será o limite...
*Leonardo Araujo é analista de TI