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Fonte: Website de Ethevaldo Siqueira
[25/07/10]
Bresser,
irreconhecível - por Ethevaldo Siqueira
Em geral, a idade madura traz mais equilíbrio e sabedoria aos homens. Isso não
parece ter ocorrido com o professor Luiz Carlos Bresser Pereira, a julgar por
suas opiniões sobre a privatização das telecomunicações no Brasil, no artigo
publicado na Folha de S. Paulo, no domingo passado, sob o título de Menino Tolo.
Meu pai costumava dizer: “Esquerdismo radical nos jovens é idealismo. Nos
velhos, é burrice. Ou malandragem”. Mesmo concordando, em essência, com esse
ditado, eu não faria juízo tão severo sobre as distorções ideológicas de alguns
intelectuais idosos brasileiros. É bem mais provável que eles, em
telecomunicações, sejam apenas desinformados. Ou movidos pela paixão ideológica.
Digo-o porque tenho respeito e admiração pelo professor Bresser, mas acho que se
tornou exemplo perfeito de xenófobo e esquerdista radical.
Supunha que o ex-ministro, como tucano que foi, conhecesse e concordasse com os
argumentos do ex-ministro Sérgio Motta, tantas vezes anunciados para privatizar
esse setor. E mais: esperava que, como economista culto que é, pudesse avaliar
corretamente os resultados do novo modelo setorial.
No artigo mencionado, ele cria a historinha de um menino tolo que troca seu
pirulito por um jogo de armar. E resume sua mensagem nesta frase polêmica: “Só
um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel”.
Nosso pirulito
Examine, leitor, os números mais representativos do que ocorreu no Brasil nos
últimos 12 anos, após a privatização da Telebrás (29/07/1998). A velha estatal
legou-nos uma rede de 24,5 milhões de telefones. Hoje o País tem mais de 230
milhões. Ou seja, quase 10 vezes mais. A penetração, que era de apenas 14
telefones por 100 habitantes, é hoje de 128. Ou seja: o Brasil tem mais
telefones do que gente.
A aquisição do direito de uso de um telefone era altamente elitista porque
exigia a compra de plano de expansão por valor equivalente a US$ 1 mil – sim,
mil dólares – que, em algumas oportunidades, chegou a US$ 3 mil. O prazo de
instalação era de 24 meses. Mas podia chegar a quatro ou seis anos. No mercado
negro, uma linha telefônica chegou a ser vendida pelo equivalente a US$ 10 mil,
no bairro de Alphaville, em Barueri, na Grande São Paulo, em 1991. Um recorde
mundial.
A telefonia móvel saltou de 5,8 milhões de aparelhos há 12 anos para os atuais
185 milhões de celulares em serviço. Desse total, mais de 100 milhões são
telefones utilizados por cidadãos de baixa renda, na maior inclusão digital da
história deste País. E sem dinheiro público.
Mesmo com todas as queixas dos usuários e com todos os problemas que tenho
apontado nas telecomunicações brasileiras, não podemos subestimar os resultados
do novo modelo, responsável por investimentos da ordem de R$ 180 bilhões na
infraestrutura setorial nos últimos 12 anos. O sistema Telebrás em 25 anos
investiu apenas R$ 60 bilhões.
Absurdo no Brasil de hoje é manter tributos da ordem de 43% sobre o valor dos
serviços. Graças a esse nível de tributação, os governos estaduais e o federal
já arrecadaram uma média de R$ 30 bilhões por ano ao longo dos últimos 12 anos,
ou um total de R$ 360 bilhões. Só de fundos setoriais confiscados, o governo
federal surrupiou mais de R$ 15 bilhões das telecomunicações. Sem nada investir
no setor.
Quantos tolos!
Se olharmos para o mundo, veremos que, pelo critério de meu amigo Bresser, quase
uma centena de países são meninos tolos. Uma única grande operadora de telefonia
móvel, a Vodafone, inglesa, está presente em dezenas de países europeus e
asiáticos.
Durante quase dez anos, essa empresa atuou no Japão, país que, no raciocínio de
Bresser, deveria ser outro garoto bobo. A mesma Vodafone opera hoje, entre
outros, nos seguintes países: Austrália, Alemanha, Espanha, Itália, Albânia,
Turquia, República Tcheca, Egito, Grécia, Hungria, Índia, Irlanda, Portugal,
Holanda, Nova Zelândia, Malta, Gana, Romênia, Catar e outros. Esses países
seriam guris beócios?
E os Estados Unidos, que permitem que uma T-Systems, subsidiária da gigante
alemã Deutsche Telekom, explore uma boa fatia de sua telefonia celular, seriam
um molecão estúpido?
Bresser citou as divergências entre Portugal e Espanha para ressaltar o exemplo
do “nacionalismo português” contra a possível venda à Telefónica da participação
da Portugal Telecom na Vivo, vetada pelo governo português mediante o uso de uma
golden share. A briga entre espanhóis e portugueses pela Vivo é uma história bem
mais complexa do que a do seu menino tolo, meu caro Bresser. Tem raízes
culturais, políticas e econômicas milenares, além de interesses locais recentes.
Vale lembrar que a evolução tecnológica arrasou com a rentabilidade das
operadoras fixas, abrindo opções como o Skype e dezenas de soluções de telefonia
baseadas em voz sobre protocolo IP. Esse novo cenário levou a Telefónica a
buscar a aquisição de operadora móvel para sobreviver. Como todas as operadoras
fixas do mundo, ela só será viável se for uma prestadora de multisserviços, em
telefonia móvel, internet em banda larga, comunicação de dados de alta
velocidade, longa distância nacional e internacional, acesso a TV por
assinatura, telepresença e outros.
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