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Leia na Fonte: Estadão
[22/06/10]
A
'blindagem' da Oi - Editorial Estadão
Só não causa espanto a disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
revelada pelo Estado na edição de sábado, de impedir que uma empresa estrangeira
assuma o controle da operadora Oi - no que seria uma operação entre empresas e
investidores privados, na qual a ingerência estatal seria indevida - porque o
governo nunca escondeu sua disposição de interferir na gestão da empresa e sua
intenção de preservar-lhe o caráter "nacional".
A constituição da gigante brasileira do setor de telefonia, por meio da compra
da Brasil Telecom (BrT) pela Oi, resultou de uma decisão do governo Lula, que
alegou a necessidade "estratégica" de o Brasil ter uma empresa em condições de
competir com gigantes internacionais da área de telecomunicações que já atuam no
País, como a espanhola Telefónica, a Portugal Telecom, a Telecom Italia e o
grupo empresarial comandado pelo mexicano Carlos Slim.
Para legalizar a nova empresa, o governo propôs a mudança da legislação e, para
tornar viável a compra da BrT pela Oi - que ocorreu em 2008 -, ofereceu vultosos
financiamentos do Banco do Brasil e do BNDES. Por meio de bancos federais ou
suas subsidiárias e de fundos de pensão vinculados a empresas estatais, o
governo detém 49% do capital da operadora. Em entrevista publicada em março pelo
Estado, o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, anunciou que o processo de
absorção da BrT pela Oi estava praticamente concluído e que, mesmo sendo "uma
companhia nova, completamente diferente", a "Oi passou da posição de alvo para a
de caçador". As coisas não parecem estar tão tranquilas.
Detentora da concessão de telefonia fixa em São Paulo e de 50% da operadora de
telefonia celular Vivo, a Telefónica teria interesse em comprar os 50% da Vivo
em poder da Portugal Telecom. Se o negócio se concretizar, a Portugal Telecom,
que tem interesse em manter operações no Brasil, considerado um mercado
lucrativo, poderia fazer uma oferta pelo controle da Oi e disporia de capital
suficiente para adquiri-la.
Quando viram que a empresa portuguesa poderá se interessar em comprar a Oi, os
dirigentes desta empresa correram para buscar a proteção do governo contra a
investida do capital externo. O presidente Luiz Eduardo Falco e os sócios
privados que controlam a empresa ? os empresários Sérgio Andrade, da Construtora
Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do Grupo La Fonte ? se reuniram na
semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por mais de duas horas
e meia para expor suas aflições e, segundo uma fonte ouvida pela repórter do
Estado Karla Mendes, saíram do encontro sorridentes, "pois o presidente disse
que também quer uma empresa brasileira forte e que não quer vendê-la".
Infelizmente para as finanças públicas e, sobretudo, para os usuários de
telefones fixos ou móveis, este é apenas mais um episódio de ingerência do
governo num negócio que, do ponto de vista financeiro e operacional, deveria ser
conduzido inteiramente pela iniciativa privada, cabendo ao Estado brasileiro -
por meio de agências reguladoras, e não do governo - a regulamentação e a
fiscalização de suas atividades, com vistas à preservação do interesse público,
em particular assegurando o atendimento adequado da população por meio da
eficiente prestação de serviços, a preços razoáveis.
Não foi essa a preocupação do governo do Partido dos Trabalhadores quando se
esforçou para tornar viável a compra da BrT pela Oi e não é, também, sua
preocupação neste momento, ao receber com simpatia o pedido de socorro dos donos
da empresa. O que menos o preocupa é o atendimento do usuário ou a proteção do
dinheiro público.
A fusão das operadoras patrocinada pelo governo resultou na forte concentração
do mercado, o que reduziu a concorrência e, por isso, tende a prejudicar o
usuário. Em razão do enorme interesse do governo no assunto, até mesmo a mudança
das regras para a atuação e operação das empresas no setor de telefonia foi
proposta e aprovada. Financiamentos concedidos à Oi estão entre as maiores
operações já realizadas por bancos ligados ao governo federal.