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Fonte: Estadão - Blog de Ethevaldo Siqueira
[07/05/10]
Santanna é o homem forte - por Ethevaldo Siqueira
O Brasil precisa conhecer o novo homem forte do PT em Brasília. Seu nome:
Rogerio Santanna. Ele deixará o cargo de secretário de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento para ser presidente da Telebrás. Gaúcho
de 53 anos, engenheiro mecânico, ele foi desde 2003 o maior defensor da
reativação da velha estatal ao longo do governo Lula.
Apoiado por outro homem forte do segundo escalão, Cesar Alvarez, assessor de
Lula para inclusão digital, conseguiu nocautear o ex-ministro Hélio Costa e
esvaziar o próprio Ministério das Comunicações. O ex-ministro enviou um projeto
de Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) que foi literalmente ridicularizado e
engavetado pela dupla Santanna-Alvarez, só porque Hélio Costa era contra a
reativação da Telebrás.
Publicamente apoiado pelo presidente Lula, pelo ministro Paulo Bernardo, do
Planejamento, e pela ex-ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, Santanna decidiu
peitar todos os adversários de seu projeto político, dentro e fora do governo. E
os venceu. Internamente, não havia consenso, nem apoiado de diversos ministros.
Fora do governo, havia a proposta das Teles, como alternativa à reativação da
Telebrás.
Ao sentir-se muito mais forte, Santanna assumiu o comando da elaboração do PNBL
(sem jamais ter divulgado seu texto inicial ou a proposta oficial), dando
dezenas de entrevistas, nas quais o maior destaque era a defesa da reativação da
Telebrás, cuja presidência sempre almejou e acabou ganhando.
Torpedeado, o ex-ministro Hélio Costa – a quem caberia a função legal de
conduzir a política de telecomunicações e, em especial, a reativação da Telebrás
– ficou falando sozinho, sem coragem para reagir, até para não criar mais
problemas para sua coligação partidária em Minas Gerais.
Santanna é xenófobo e estatizante. E, como tal, considera que o maior problema
das operadoras de telecomunicações está no controle de seu capital por espanhóis
ou mexicanos. Nunca reconheceu que cabia ao governo Lula assumir, desde 2003, o
comando das grandes decisões sobre a banda larga, dentro de um programa
ambicioso de inclusão digital.
Perguntem a Santanna se a primeira providência que caberia ao governo federal
não seria a formulação de política pública que transformasse o conceito legal de
banda larga em serviço de caráter público, com metas de universalização
obrigatórias.
O governo nunca fez essa proposta nem negociou com as Teles a alteração de seus
contratos de concessão. Isso poderia ter sido feito tranquilamente desde 2004.
Mas se lhe perguntamos, Santanna não reconhece a omissão do governo, que nunca
fez sua lição de casa. Não admite que as agências reguladoras foram
politicamente esvaziadas ou entregues a pessoas menos qualificadas.
Sem esse tipo de política pública, não há como reclamar das operadoras. Nem tem
sentido xingá-las ou ameaçar assustá-las com a ressurreição da Telebrás, até
porque vai levar pelo menos três anos para que a estatal reativada possa fazer
algum trabalho significativo. Os mais irônicos dizem a nova Telebrás lembra a
história da montanha que pariu um ratinho.
Santanna não gosta de reconhecer os fatos positivos do novo modelo privatizado.
Só vê os problemas, porque lhe interessa desmoralizar todo o processo de
privatização das telecomunicações e o novo modelo institucional.
Até a assinatura básica, apoiada nos contratos de concessão, é para ele um
absurdo, mesmo que o mundo inteiro a tenha adotado e validado. E diz que, antes
de fazer qualquer ligação, o assinante já deve R$ 40 ou 50. Por esse raciocínio,
a bandeirada do táxi também seria um absurdo. Ou o valor mínimo da conta de água
residencial. Ou a assinatura da TV a cabo, antes que vejamos um único programa,
ou quando saímos em férias.
Santanna hoje critica as “vendas casadas” dos pacotes triple-play, que incluem
linha telefônica, TV por assinatura e acesso de alta velocidade. Imagine o que
diria, por coerência, quando a velha Telebrás praticava a maior venda casada de
que temos notícia nas telecomunicações, e só nos dava uma assinatura de linha
telefônica se subscrevêssemos compulsoriamente o equivalente de US$ 1.000 (ou,
às vezes, 3.000) em ações da operadora ou da holding.
Tudo que foi anunciado na semana passada – como, por exemplo, os 40 milhões de
domicílios com banda larga em 2014 – são frases típicas de campanha eleitoral.
De quem iremos cobrar metas tão ousadas (ou levianas)? Deste ou do próximo
governo?
Nesse cenário, o futuro de Santanna e da própria Telebrás depende exclusivamente
da vitória de Dilma Rousseff. Quanto ao PNBL não podemos prever muita coisa,
porque ele ainda não foi divulgado. Nem o decreto presidencial que o oficializa.
A menos de cinco meses das eleições presidenciais, o maior risco para Santanna é
ver todas as suas vitórias serem consideradas “vitórias de Pirro”, caso Dilma
não seja eleita.
Mas a conta virá para todos nós, caro leitor – com o sucesso ou não da Nova
Telebrás.