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Fonte: Website Opinião Nacional
[07/05/10] Da
volta da Telebrás ao apoio ao exportador, governo rima ambição com encenação e
limitação - por Antonio Machado
Ambição é eleitoral. Ela leva à encenação porque ambas esbarram na limitação do
caixa para tanta prioridade - por Antonio Machado
O anúncio do programa de acesso à internet em banda larga através da Telebrás,
esqueleto da velha estatal de telefonia não enterrado por razões legais, e o do
pacote de apoio às exportações são rimas do momento político. Ele combina
ambição, encenação e limitação.
A ambição que move o presidente Lula é eleger a ex-ministra Dilma Rousseff para
sucedê-lo em 2011. Ele teve oito anos para implantar o que agora quer fazer a
toque de caixa. Faltaram-lhe as condições – políticas, financeiras, agilidade
gerencial, um pouco de cada.
A maior parte desses percalços não foi superada, ainda que exista na sociedade
demanda pelas iniciativas não realizadas, coisas como a expansão da oferta de
energia, a universalização da internet, os incentivos ao exportador para
compensar a perda de competitividade das exportações resultante do real
apreciado, do mercado doméstico aquecido e da economia global ainda lambendo a
ferida da recessão.
É quando se exercita a encenação. O governo anuncia um projeto de impacto para
tais demandas, com metas superlativas e a promessa de recursos fartos para a sua
realização. Mas no médio a longo prazo.
O aqui e agora, nos sete meses e pouco que restam ao governo, é modesto, meio
trailer do que poderá ser, dependendo do que sair da eleição. Qualquer
semelhança com os antigos currais eleitorais, em que o coronel seduzia o eleitor
com um pé de sapato e esperava a contagem dos votos para, eventualmente, dar o
outro, é implicância da oposição.
A ambição pressupõe a encenação porque ambas esbarram no final da rima:
limitação, hoje, de caixa e de prioridades.
Tome-se o exemplo do plano de banda larga da internet. Garantido, nele, só o
emprego de um dos principais entusiastas do modelo que Lula aprovou: o
secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Rogério Santanna, promovido a novo presidente da velha-nova
Telebrás.
A meta, diz ele, é elevar para 35 milhões em 2014 o número de domicílios com
internet, que hoje é de 13,5 milhões. Ou seja: até o fim do próximo governo, que
não se sabe qual será - se de Dilma, de José Serra ou de Marina Silva.
Com a administração atual já perto do fim, talvez fosse racional que o programa
da ex-ministra Dilma incorporasse a iniciativa, a expusesse ao eleitor e
aguardasse o resultado das urnas.
Mas Lula ai não seria o autor. Então, ficou assim: neste ano, garante-se o
renascimento da Telebrás para gerir a rede de fibra ótica estatal, criar o fato
consumado para 2011, manchetes e Lula dizer que fez.
Banda larga fininha
E o acesso universal em banda larga em todas as cidades? Depois se vê. Cesar
Alvarez, assessor de Lula e coordenador do programa, afirmou que primeiro virá
um projeto-piloto, cobrindo 100 cidades e entre elas 15 capitais.
Ao todo, a rede pública de fibra ótica é da ordem de 20 mil quilômetros, parte
sem condições operacionais. A rede das operadoras privadas passa de 200 mil.
Seria mais fácil fazer com elas, por meio de regulação e os incentivos
anunciados para despertar a Telebrás. Sem subsídios a banda larga popular não
funciona.
Mas para Santanna, da Telebrás, “o pequeno número de cidades em que há
concorrência na banda larga mostra que, sozinho, o mercado não irá resolver esse
problema”. Tal análise é parcial.
Larga é a tributação
A universalização do celular indica que regras adequadas garantem a oferta. E
regra, como sinônimo de regulação, não necessariamente tem a ver com
concorrência.
A distribuição de energia elétrica, um serviço bem mais essencial que a
internet, é operada em regime de monopólio privado, com oferta contínua e
modicidade tarifária.
Ela ainda é cara, mas eletricidade, como telefonia, é fácil cobrar, o que a faz
ser uma das vacas leiteiras do Fisco. Impostos explicam mais de 40% da fatura do
telefone, 65% da conta de luz.
E tem mais para a internet: tráfego crescente e conteúdos cada vez mais ricos
exigem upgrade frequente da rede e quem pague por isso. Estranho é o Estado
preocupar-se com a velocidade de download para games.
Troco ao exportador
Ainda assim, Santanna falou em reduzir em cerca de 70% o preço do acesso em
banda larga em relação à tarifa das operadoras. Combinou com a Receita Federal,
Fazendas estaduais e o Tesouro Nacional?
As injunções fiscais desinflaram a ambição do apoio às exportações. É o que
explica o silêncio do governo quanto à devolução de créditos tributários
acumulados pelo exportador, coisa de R$ 15 bilhões.
Se for para apoiá-los, que comece pelos atrasados. O governo só bancou devolver
50% dos créditos futuros em 30 dias. A dívida está como a banda larga: que outro
maestro a faça tocar. Agora é ruído.
Do tempo das carroças
Programas ambiciosos na forma e ralos no conteúdo são típicos de fim de governo.
Por isso, a maioria os evita. Mas alguns não podem esperar, como o apoio à
exportação.
Melhor o plano desidratado que plano nenhum, o que foi ignorado pelos
exportadores que ameaçam ir à Justiça questionar partes do pacote, como a
omissão dos créditos atrasados e as restrições para dificultar o acesso aos
incentivos.
Foi o meio de racioná-los vis-à-vis o que o Tesouro aguenta. Fez-se igual no
caso da internet: a velocidade de conexão será de 512 kilobits/segundo no plano
mais barato.
Isso é banda larga puxada a mula. A diferença é que receita de exportação é tema
de segurança nacional. Já a internet transportada em carroça é só vexame.
Postado por Jornalista - Antonio Carlos Ribeiro às 02:38