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Fonte: Estadão
[08/05/10] Plano
depende de caixa da Telebrás - por Renato Cruz
Apesar de o governo ter anunciado R$ 13 bilhões para a banda larga, os recursos
deste ano são R$ 280 milhões da estatal
SÃO PAULO - Quem é contra a ampliação do acesso à internet? Difícil de encontrar
quem seja contra. Era de se esperar o mesmo em relação a um Plano Nacional de
Banda Larga. Mas não foi o que se viu na semana passada. As medidas anunciadas
pelo governo tiveram o poder de unir todas as operadoras de telecomunicações
contra um inimigo comum, o fantasma de uma estatal que promete atropelar a
legislação e acabar com as licitações para contratação de serviços de
comunicação de dados pelo governo federal.
Apesar de o plano se chamar ‘plano’, poucas medidas concretas foram divulgadas
durante o anúncio. Até agora, o único documento oficial da proposta é um fato
relevante enviado pela Telebrás à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O
comunicado confirmou a estatal como gestora do plano de banda larga, depois de
anos de especulação sobre a sua volta, que fizeram com que as ações ordinárias
da companhia passassem de R$ 0,01 no fim de 2002 para R$ 2,00 na última
sexta-feira.
Dois pontos assustaram as operadoras. O fato relevante informou que caberá à
Telebrás, entre outras coisas, "prestar serviço de conexão à internet em banda
larga para usuários finais, apenas e tão somente em localidades onde inexista
oferta adequada daqueles serviços". Parece razoável, se as pessoas não atentarem
para o detalhe de que "oferta adequada" pode ser um critério bem subjetivo.
Mas o pior para elas está num trecho mais simples, que informa que a empresa irá
"implementar a rede privativa de comunicação da administração pública federal".
Isso significa, na visão de muitas operadoras, o fim das licitações para
contratação de serviços de telecomunicações. Um dos argumentos usados para
ressuscitar a Telebrás diz que a empresa foi criada por uma lei de 1972,
anterior à Lei das Licitações (8.666), e que, por causa disso, não está
submetida a ela.
Demora
A ideia de se criar um Plano Nacional de Banda Larga foi anunciada no ano
passado, mas seu anúncio sofreu adiamentos sucessivos. Com isso, a proposta de
volta da Telebrás ganhou força, porque não houve nenhuma previsão no orçamento
desse ano para o plano. A única saída para colocar a proposta na rua foi
recorrer aos R$ 280 milhões que se encontram parados no caixa da Telebrás.
A pressa é justificada (pelo menos do ponto de vista eleitoral): seria difícil
para o governo chegar às eleições sem ter nada para falar sobre o tema. O
computador com acesso à internet é visto hoje pela população de baixa renda como
uma ferramenta de ascensão social. Os pais veem na banda larga um instrumento
para que seus filhos tenham uma vida melhor do que a que têm hoje.
Apesar de ter sido anunciado um pacote de R$ 13 bilhões, essa bolada se dilui
num horizonte de cinco anos, sendo que o início do desembolso seria feito, na
realidade, em 2011. Ou seja, o Plano Nacional de Banda Larga é um plano para o
próximo governo.
De concreto, existe o anúncio da volta da estatal e R$ 280 milhões para começar
um projeto-piloto de banda larga (que o governo promete que estará em 100
cidades ainda este ano). Caso o piloto se concretize, ninguém mais poderá dizer
que o governo não tem o que mostrar durante a campanha.
Mudança
A Telebrás nunca foi uma operadora. A lei que a criou, em 1972, definiu como
objetivo social "gerir a participação acionária do governo federal nas empresas
de serviços públicos de telecomunicações do País". Ela não foi extinta, depois
da privatização em 1998, por dois motivos principais: a empresa teve que
emprestar funcionários para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e
ficou com um grande passivo judicial, principalmente trabalhista.
Além de questões práticas, como o caixa da empresa, a volta da Telebrás é
carregada de simbolismo. Ressuscitá-la é dizer que a privatização não deu certo,
que o modelo atual (que não foi mudado nos últimos sete anos), de empresas
privadas reguladas pela Anatel, não deu certo. E que é preciso colocar outra
coisa no lugar. O problema, na visão de alguns juristas, é querer mudar por
decreto o que foi definido em lei.