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Leia na Fonte: Correio Brasiliense
[12/05/10]
Delação Premiada - por Jorge da Motta e Silva,
presidente da Telebrás substituído por Rogério Santanna
*Jorge da Motta e Silva é jornalista, foi presidente da Telebrás
Preliminarmente, registro que, durante
cinco anos, cinco meses e cinco dias, me impus silêncio total sobre as críticas
infundadas que a mídia nacional publicou e ainda publica contra a Telebrás.
Período em que tive a honra e o privilégio de presidi-la. Não ocuparei espaço
para relatar o que foi feito durante a minha gestão. Tenho certeza de que serei
lembrado pelo que não deixei que fizessem: fechá-la. Lutei quase solitariamente,
tive apenas o apoio da diretoria, dos conselhos de Administração, Fiscal e de
empregados dedicados.
Só agora, quando deixo a presidência, dou esse grito sufocado por tanto tempo,
para repor o verdadeiro papel que teve a empresa ao longo desses 38 anos de
existência. A grande transformação das telecomunicações brasileiras deu-se após
a sua criação em 1972. As redes de fibras óticas, a criação da Embratel, o uso
dos satélites, as transmissões a cores pelas televisões, a modernização do
sistema, integrando o Brasil de norte a sul, de leste a oeste, foram conquistas,
sim, do monopólio estatal. Muitos de boa ou má fé teimam em dar como exemplo de
anacronismo a estagnação da telefonia fixa, fruto de políticas adotadas pelos
governos, que para manter o famigerado superávit primário impôs restrições aos
investimentos, mesmo que houvesse recursos próprios das empresas estatais.
Mas eis que surgem novamente, com as garras aguçadas, os cavaleiros do
apocalipse. Os gênios que criaram o atual modelo das telecomunicações, que um
brilhante jornalista classifica de privataria. Não a privatização em si, mas o
formato. Quem não se lembra da célebre frase estamos no limite da
irresponsabilidade, em conversa gravada entre o então presidente do BNDES e um
diretor do Fundo Previ (naquela época já se grampeavam as conversas
telefônicas)?
O grande argumento da privataria era a busca da livre concorrência para o setor.
A abertura para o capital privado, o melhor para o Estado, os exemplos de outros
países etc. Hoje, os arautos do modelo da privatização, quase todos a serviço
das teles, como lobistas, consultores ou empregados diretos, ganhando polpudos
pro labores, querem mais incentivos do governo para levar aos brasileiros o que
já deveriam ter feito ao longo desses 12 anos de gordas tarifas e perdão de
obrigações assumidas nos contratos de concessão que não cumpriram. Querem sempre
mais. Não bastou a distribuição que receberam, em 1998, de ativos da Telebrás da
ordem de R$ 31 bilhões e, mais adiante, quase R$ 8 bilhões em compensações
tributárias. Agora querem também ditar as políticas públicas de
telecomunicações.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está apenas corrigindo
distorções que são flagrantes no atual modelo das telecomunicações, estendendo o
braço do Estado a milhões de brasileiros ávidos em participar das conquistas da
tecnologia, através do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), a preços
compatíveis com as suas condições econômicas.
Não é possível falar de modernização das telecomunicações no Brasil sem
desfraudar a bandeira da Telebrás. Tanto é assim que, até hoje, após 12 anos, a
Anatel acha imprescindível ao seu funcionamento a permanência de técnicos
cedidos pela Telebrás, de reconhecida competência, que prestam relevantes
serviços àquela agência reguladora.
É importante destacar que todo o arcabouço jurídico e legal que criou a Telebrás
permanece inalterado. A lei que a criou, em 1972, continua em vigor. Obedece
também à legislação que regula as sociedades anônimas, seu estatuto e regimento,
possuindo mais de 2 milhões de acionistas, com papéis negociados na Bovespa. Não
está incluída no Programa de Desestatização, sob a responsabilidade do
Ministério do Planejamento. Ficou todos esses anos sem operacionalidade, fruto
do modelo que deixou para a viúva apenas os ossos da privatização, representados
pelo passivo judicial das ações nas áreas dos direitos civil, tributário e
trabalhista.
Não seria justo terminar sem prestar a minha homenagem ao melhor dirigente que,
durante 12 anos, presidiu a empresa e fez o seu logotipo ser reconhecido e
respeitado internacionalmente, nas bolsas de valores de Nova York e Frankfurt.
José Antônio de Alencastro e Silva será sempre lembrado pelos que reverenciam a
honradez e o cumprimento do dever. Prestou grandes serviços ao Brasil, exemplo
de dedicação e competência deixado na história das telecomunicações brasileiras.
Começa agora um novo tempo com o Programa Nacional de Banda Larga. A palavra
chave é concorrência. Não ao monopólio privado. Essa, a minha delação. O prêmio
é a volta da Telebrás.