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Fonte: Website de Ethevaldo Siqueira
[30/05/10]
Hélio Costa vs. Santanna - por Ethevaldo Siqueira
“O senhor Rogério Santanna está mentindo: sempre fui contra a volta da Telebrás,
em especial para gerir o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Quem impôs essa
opção pela Telebrás foi ele, com apoio da ex-ministra Dilma Rousseff.”
Esse é o desmentido duro e categórico do ex-ministro das Comunicações, Hélio
Costa, feito na sexta-feira passada, às declarações do novo presidente da
Telebrás, Rogério Santanna. Num debate ao vivo pela Rádio CBN de São Paulo, no
dia anterior, Santanna havia afirmado que “o ministro Hélio Costa sempre foi
favorável à reativação da Telebrás”.
Nesse episódio, o Ministério das Comunicações (MiniCom) não foi apenas posto de
lado, mas contrariado frontalmente, numa questão específica de sua área, as
telecomunicações. É mais uma prova de que não há no governo federal ministério
mais esvaziado do que o das Comunicações.
É claro que havia ainda pelo menos dois outros ministros contrários à volta da
Telebrás. Embora prefiram não discutir o assunto, eles também discordaram da
volta da velha estatal, em fase de extinção há quase 12 anos. Uma decisão
polêmica até dentro do governo Lula.
Antes de assumir a presidência da estatal, Santanna foi secretário de Logística
do Ministério do Planejamento, de 2003 a 2010, mas, mesmo naquele cargo,
destacou-se por sua luta pela reativação da Telebrás. Levou o tema à discussão,
juntamente com outras 3.200 teses em debate, à Conferência Nacional de
Comunicações (Confecom), mas não obteve aprovação da reativação da Telebrás.
Por sua persistência, Santanna acabou ganhando a guerra, a ponto de quebrar todo
o formalismo legal que havia no MiniCom. Restringiu o debate do PNBL aos setores
governistas ou petistas. Convenceu o presidente Lula e a ex-ministra Dilma
Rousseff a mudar a lei da Telebrás por decreto. Ignorou solenemente o fato de a
Telebrás ser vinculada por lei ao Ministério das Comunicações e atropelou Hélio
Costa, contrário à reativação da estatal. Por tudo isso, é hoje o homem forte
das Comunicações. E já é chamado de ministro Santanna.
Postura de ministro
E ele já assumiu, realmente, a postura de ministro das Comunicações. Fala com a
maior desenvoltura sobre qualquer tema do setor, desde o Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL) ao celular, à internet, à qualidade dos serviços, às tarifas e aos
investimentos públicos e privados na área. Em breve, ele discorrerá sobre
radiodifusão, TV3D, comunicação holográfica e nanotecnologia.
Nos últimos meses, a influência de Santanna no governo federal cresceu
vertiginosamente, com o apoio pessoal do presidente do Lula, bem como dos
ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da ex-ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff. Com essa força, Santanna implodiu o Ministério das Comunicações (MiniCom)
e isolou Hélio Costa, acusando-o até de fazer o jogo das teles, ao longo da
disputa pela paternidade da elaboração do PNBL.
Gaúcho de 53 anos, Santanna é um petista brigador, ousado, radical, xenófobo e
estatizante. Diferentemente, Hélio Costa tem muito mais o perfil do político
populista, à moda mineira, que estava no MiniCom apenas para fazer carreira.
Hélio Costa sentiu-se profundamente frustrado com a rejeição do trabalho do
Ministério das Comunicações – um estudo sobre o PNBL, de mais de 200 páginas – ,
que foi o único texto publicado sobre o tema antes do decreto.
O projeto do MiniCom foi não apenas rejeitado por Rogério Santanna, mas até
ridicularizado pela ala petista mais radical do governo, para a qual o documento
tinha uma falha insanável: não recomendar a reativação da Telebrás. E pior:
sugeria uma grande parceria entre o governo e as operadoras de telecomunicações,
em frontal oposição ao pensamento de Santanna.
Mudando o modelo
Ao longo de sete anos, o governo Lula não tomou nenhuma iniciativa no tocante à
banda larga. Não cumpriu seu papel nem formulou as políticas públicas capazes de
mudar esse quadro. De repente, Santanna – atropelando o ministro das
Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) — passou a acusar
as operadoras de ineficiência e incapacidade para realizar os objetivos do PNBL,
numa guerra típica de quem quer mudar o modelo setorial vigente, ao bater sempre
na tecla de que a privatização fracassou e que o mercado não resolve todos os
grandes problemas do setor.
A grande polêmica levantada por Santanna está nos caminhos por ele propostos, a
começar por sua preferência pela solução estatal. Em segundo lugar, revela
verdadeira obsessão em transformar a Telebrás numa empresa operadora das redes
de telecomunicações do governo federal e gestora do PNBL. Em terceiro, com sua
facilidade extrema em fazer promessas de difícil cumprimento, como banda larga
de boa qualidade a R$ 15 por mês (agora já reduzidos para R$ 10). Em quarto, com
sua idéia de “regular” o mercado, introduzindo uma competição que, a seu ver,
determinará a queda dos preços, mesmo com a permanência da maior tributação
sobre serviços de telecomunicações do mundo.
Mais do que político em palanque, Rogério Santanna faz promessas impossíveis de
serem cumpridas pela Nova Telebrás. Alguns críticos bem-humorados dizem que a
maior crueldade num futuro próximo será exigir dele o cumprimento dessas
promessas.
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