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Fonte: Estadão
[31/05/10] Uma
briga de poucos no mercado das teles - por Renato Cruz
Setor de telecomunicações se consolida, ao mesmo tempo em que volta a Telebrás
Na privatização da telefonia, em 1998, o Sistema Telebrás foi dividido em 12
empresas (quatro fixas e oito móveis). Já existiam 10 operadoras móveis
privadas, da chamada banda B. No ano seguinte, foram vendidas licenças para
criar quatro competidoras das concessionárias fixas, as empresas-espelho.
Doze anos depois, sobraram poucos atores nesse mercado. As concessionárias
fixas, que eram quatro, viraram três: Oi, Telefônica e Embratel. As celulares,
que eram 18, se transformaram em quatro: Oi (integrada com a fixa), Claro, TIM e
Vivo. Além de duas operadoras de atuação regional - Algar Telecom e Sercomtel.
Entre as espelhos, só sobrou a GVT, de telefonia fixa, que continuou
independente. A empresa foi recentemente adquirida pela Vivendi.
A consolidação fazia parte do modelo desenhado na época da venda da Telebrás. O
primeiro presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Renato
Guerreiro, costumava dizer, ainda na década passada, que sobrariam quatro
grandes grupos, prestando todos os serviços, liderados pelas quatro
concessionárias fixas: Oi, Brasil Telecom, Telefônica e Embratel.
Mas nem tudo saiu como o esperado. O governo acabou mudando as restrições de
fusão, para permitir que a Oi comprasse a Brasil Telecom, fazendo com que
sobrassem três concessionárias. A Telefônica, que tem 50% do controle da Vivo,
briga para comprar a outra metade, que pertence à Portugal Telecom (PT).
A TIM acabou comprando a Intelig, uma empresa-espelho, no lugar de se integrar a
uma das concessionárias. A Embratel e a operadora celular Claro, apesar de
pertencerem ao mesmo dono, ainda não estão integradas. "A concentração é cada
vez maior", afirma Luis Minoru Shibata, diretor de Consultoria da
PromonLogicalis. "Tenho dúvidas de como os fornecedores vão sobreviver nesse
cenário."
Retorno. Mas o que ninguém esperava, há 12 anos, era a volta da Telebrás. A
estatal seria extinta, mas acabou se mantendo por ter emprestado funcionários
para a Anatel, e por ter um grande passivo judicial. Este mês, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva assinou um decreto reativando a estatal, para que empresa
pudesse ser a gestora do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
Esse movimento muda o próprio modelo do setor de telecomunicações, criado em
1998, e, segundo as empresas, coloca em risco os investimentos privados. Além da
banda larga popular, o decreto definiu que a Telebrás será responsável pela
"rede privativa de telecomunicações" do governo, e integrantes do Executivo
anunciaram que ela será contratada sem decreto.
Consolidação. A volta da Telebrás acontece ao mesmo tempo em que as empresas
preparam mais uma onda de consolidação. A Telefônica tenta comprar a
participação da sócia PT na Vivo, maior operadora celular do País.
Uma oferta de 5,7 bilhões de euros feita pelos espanhóis foi rejeitada pelo
conselho de administração da PT. Depois disso, o presidente da operadora
portuguesa, Zeinal Bava, saiu em roadshow para convencer os investidores
estrangeiros que a decisão foi acertada.
Santiago Valbuena, diretor financeiro da Telefônica, também viajou para visitar
os acionistas internacionais da PT, para conseguir apoio à sua proposta.
A Telefônica tem 50% da Brasilcel, que controla a Vivo. O restante é da PT. O
grupo espanhol quer unir a Vivo com a Telesp, concessionária fixa em São Paulo,
que usa o nome Telefônica. Era para o Brasil ser o motor de crescimento da
operadora espanhola no mundo, mas os resultados dos últimos trimestres ficaram
abaixo da expectativa.
Ainda não foi feito anúncio oficial, mas, segundo fontes de mercado, o
bilionário mexicano Carlos Slim planeja unir a Embratel e a Claro, empresas que
controla no Brasil. A decisão não foi tomada por causa da Telebrás, mas o grupo
mexicano deve ser o mais afetado com a volta da estatal para assumir todos os
contratos do governo, sem licitação.
A possibilidade de a Telebrás ficar com os contratos do governo preocupa as
empresas privadas. "O privilégio concorrencial, em detrimento a todas as
empresas do mercado, é vedado pela Constituição e pela Lei de Defesa da
Concorrência", afirma o advogado Pedro Dutra, especialista em Direito Econômico,
para quem essa decisão pode afetar os investimentos já feitos e os investimentos
futuros das empresas privadas. "O Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica) deveria ser ouvido sobre a licitude disso."
Segundo a consultoria IDC, o governo gastou R$ 1,5 bilhão em comunicação de
dados em 2008. "Não sei se o caminho escolhido pelo governo para universalizar a
banda larga foi o melhor", disse Mauro Peres, diretor geral da consultoria no
Brasil. "Existem outras ferramentas que dariam o mesmo resultado, de maneira
mais eficiente. Não é papel do governo ser um player, mas um regulador."