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Fonte: Portal Exame
[02/03/10]
Gigabits à frente… - Por Luiza Dalmazo ("Planos de Banda Larga" de outros
países)
Não é preciso mais que uma evidência empírica para ter certeza da importância do
acesso à internet em alta velocidade: basta imaginar como era a vida alguns anos
atrás. Trabalhar e estudar, hoje, é lidar com um constante fluxo de informações
que vêm e vão pela internet. Os computadores e, depois, a interconexão deles
pela rede mudaram a maneira como estudamos, trabalhamos, nos comunicamos, nos
divertimos. Mas talvez a simples lembrança das transformações provocadas pela
internet não seja suficiente para convencer os mais céticos da importância do
acesso à rede. Nesses casos, uma conta do Banco Mundial em 2009 serve de ótimo
argumento. De acordo com os cálculos da entidade, a inclusão de dez assinantes
de banda larga para cada 100 habitantes é capaz de aumentar a riqueza per capita
de um país em 1,21%, no caso das nações desenvolvidas, e em 1,38%, no caso de
países em desenvolvimento. De um jeito ou de outro, a conclusão é óbvia: ampliar
o acesso à banda larga é um imperativo para o desenvolvimento de qualquer país.
Com esse ponto o governo brasileiro parece estar de acordo. Há muitos meses vem
sendo gestado um plano nacional de ampliação do acesso à internet de alta
velocidade, e a versão final do plano deve ser divulgada nas próximas semanas.
Uma política pública para as vias de acesso à informação é fundamental, assim
como para todos os outros gargalos da infraestrutura nacional. Diversos países
elaboraram políticas com objetivos semelhantes. Alguns, como a Coreia do Sul,
estão muito adiantados. Os sul-coreanos têm o acesso de melhor qualidade do
mundo. Outros querem dar um salto de competitividade, e o exemplo mais claro é a
Austrália, cujo plano prevê uma revolução nas telecomunicações já neste ano. A
questão é como chegar lá. Os detalhes já conhecidos do modelo brasileiro são, no
mínimo, arrepiantes. Para além da questão ideológica – que tal o paradoxo de
querer colocar o país nos trilhos do futuro criando uma empresa estatal num dos
setores mais dinâmicos e complexos da economia? -, o plano brasileiro é tímido
no que diz respeito à qualidade que se quer oferecer. Será que vale a pena
construir as estradas do futuro com apenas uma pista em cada sentido? Essas
questões são inevitáveis quando se conhecem as experiências e os projetos dos
países que apostaram na expansão da banda larga.
O governo australiano aprovou no ano passado um dos maiores programas nacionais
de banda larga do mundo. Serão investidos 37 bilhões de dólares nos próximos
oito anos para levar internet de altíssima velocidade a 90% das casas do país.
Isso será feito por meio de uma empresa com controle estatal. Chocante? Não
exatamente. O modelo desenhado deixa claro dois pontos essenciais da estratégia.
Primeiro: essa companhia controlada pelo Estado não vai competir com as empresas
de telecomunicações estabelecidas no país. Seu papel será somente criar a
infraestrutura básica, usando fibras ópticas para garantir que ela não se torne
obsoleta no curto prazo. Essa é uma característica fundamental do projeto. A
estatal australiana vai fornecer banda apenas no atacado. A venda aos
consumidores ficará nas mãos das companhias privadas, respeitando o princípio
fundamental da competição. “As operadoras vão manter as relações com seus
clientes e também as receitas da venda dos serviços”, disse a EXAME Paul Brooks,
um dos envolvidos no desenho do modelo.
Outro ponto-chave do plano australiano: a parte estatal da empresa (51% do
capital) será vendida cinco anos depois de construída a rede. A ideia é que a
estrutura, cuja finalização está prevista para 2018, chegue aos pontos mais
remotos do país independentemente de considerações econômicas (o território
australiano tem dimensões semelhantes às do Brasil). Pelo modelo discutido por
aqui, um dos objetivos é que a ressuscitada Telebrás entre na competição com as
operadoras atuais na venda de serviços nas regiões menos interessantes
economicamente. Além da indesejada competição do governo – que é também o autor
das regras do setor, não custa lembrar -, já dá para imaginar uma empresa de
estrutura inchada. Afinal de contas a venda de serviços não é uma tarefa nada
simples. Talvez fosse mais inteligente usar a banda larga sem fio, como as
atuais redes celulares e tecnologias como Wimax. “A banda larga móvel é o
formato mais adequado para atender o interior do país, sobretudo na Amazônia e
no Nordeste, além das favelas e regiões de periferia das grandes cidades
brasileiras”, diz Roberto Lima, presidente da operadora de telefonia móvel Vivo.
Outro ponto que gera dúvidas é a definição do que é banda larga. Não existe uma
classificação universal, mas é certo que o que se chama de alta velocidade por
aqui são velocidades risíveis em outras partes do mundo. Apesar de todas as
diferenças, especialmente em relação à altíssima densidade demográfica da Coreia
do Sul (48 milhões de habitantes espremidos num território equivalente ao estado
de Pernambuco), vale a pena conhecer a estratégia do país. O governo atua de
maneira decisiva para garantir a qualidade das telecomunicações há quase três
décadas. O mais recente plano quinquenal relativo à internet prevê que, até
2012, as redes sulcoreanas vão oferecer 1 gigabit por segundo nas redes fixas.
Isso representa 1 000 vezes mais velocidade do que o que se espera do plano
sendo discutido em Brasília. Novamente: é claro que não há como dar um salto tão
grande num país com as características do Brasil. Mas será que as nossas metas
não são pouco ambiciosas? “Eu diria que 1 Mbps é um número terrivelmente
inadequado, considerando que haverá um uso cada vez mais intenso de vídeos”, diz
Ben Piper, diretor da consultoria americana Strategy Analytics. Existe outro
ponto fundamental a considerar. Nos primórdios da internet, havia em cada
residência somente um computador conectado à internet. Hoje não é incomum
encontrar redes domésticas com três ou quatro PCs, sem contar os smartphones. É
como construir uma estrada de mão única quando a previsão é que por ela
trafeguem milhares de carros. “Ou tentar sugar um lago com um canudinho”, na
visão de Piper.
A única unanimidade na questão da banda larga, se é que se pode usar o termo,
diz respeito à necessidade de desoneração fiscal, tanto dos equipamentos
necessários para a expansão da rede quanto dos tributos que incidem sobre a
prestação de serviços. As telecomunicações brasileiras têm a segunda maior carga
tributária do mundo. Somente sobre os modems, equipamento essencial para o
acesso à internet, o índice de tributação chega a 70%. A MP do Bem, que reduziu
a tributação sobre os computadores, teve enorme sucesso no incentivo à venda de
aparelhos e é um exemplo a ser observado – está claro que, sem redução
significativa de preços para o consumidor, não há chance de que a expansão dos
serviços seja bem-sucedida. Em algumas semanas a proposta final do governo deve
vir à tona. Governar é abrir estradas, como disse celebremente o ex-presidente
Washington Luís 90 anos atrás. No século 21, governar também é abrir infovias.
Como eles fizeram
Alguns exemplos de políticas nacionais:
Coréia do Sul
Modelo: Em 1987, o país foi pioneiro ao estabelecer uma política nacional de
promoção às telecomunicações. Uma agência pública foi criada para gerenciar os
planos e a atuação dos setores público e privado. A próxima fase é investir 24
bilhões de dólares, com atualizações na rede que devem criar 120 000 empregos.
Meta: Conexão de 1 Gbps até 2012 nas linhas fixas para toda a população.
Singapura
Modelo: Uma agência nacional defi ne os planos de desenvolvimento e as regras de
competição e seleciona as empresas privadas que realizam a instalação da
infraestrutura. Hoje está em andamento o projeto Nação Inteligente, com final
previsto para 2015.
Meta: Conexão de 1 Gbps até 2012 em 95% das casas e dos escritórios do país.
Estados Unidos
Modelos: Em março deste ano, o plano do país será apresentado no Congresso. O
governo de Barack Obama, por meio da Comissão Federal de Comunicações, prevê a
isenção de impostos em serviços e deverá distribuir aos estados cerca de 7,4
bilhões de dólares.
Meta: Conexão de 100 Mbps até 2020 para 100 milhões de domicílios.
Austrália
Modelos: O plano do governo prevê a fundação de uma nova estatal para conduzir o
projeto. O investimento inicial é do governo, mas depois de cinco anos a
intenção é vender a estatal para empresas privadas. Ao todo, o investimento
previsto é de 38,5 bilhões de dólares.
Metas: Conexão 100 Mbps até 2018 para 90% das casas e dos pontos comerciais.