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Fonte: Portal Exame
[03/03/10] Estado
grande ou estado forte? - por André Lahóz e José Roberto Caetano
Com o início da corrida eleitoral e em meio à tumultuada tentativa do governo
de ressuscitar a Telebrás, pega fogo a mais importante discussão na definição do
país que seremos nas próximas décadas. Estado inchado, Estado indutor, Estado
intervencionista.
Começou mal a discussão mais importante sobre o Brasil que queremos ser no
futuro.
A questão decisiva para o tipo de país que vamos construir - Estado grande ou
Estado forte? - ressurgiu embalada por muitas palavras de ordem, mais um
escândalo protagonizado pelo ex-ministro José Dirceu e quase nada de substância.
Alçada à condição de pré-candidata à Presidência da República no megaevento do PT que sacramentou seu nome, a ministra Dilma Rousseff foi fundo nas ilações sobre um suposto ataque "neoliberal" pronto a ser deflagrado. "Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso. Aqui, o desastre só não foi maior porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de Furnas", disse Dilma, insinuando a linha a ser perseguida na campanha.
Por seu turno, o principal promotor de sua candidatura
defendeu a pecha de "estatizante" da ministra. "Dizem isso dela. Mas isso não é
ruim. é bom", disse na ocasião o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ironicamente, as loas ao tal "estatismo" de Dilma foram entoadas a poucos metros
de Dirceu - sempre ele -, nebulosamente envolvido na tentativa de criar uma nova
estatal para difundir a banda larga no país e que pode resultar numa das maiores
falcatruas de sua complicada carreira de "consultor".
Por sua vez, ante a indefinição do governador José Serra na corrida eleitoral,
na oposição reina o silêncio. Por ora, não se sabe o que pretendem os tucanos se
voltarem a reinar.
Mas, ainda que de forma tortuosa, pelo menos a pergunta está posta: como será o
Brasil a partir do próximo ano, quando encerrar a era Lula? No difícil, mas
vital, equilíbrio entre Estado e mercado, que caminhos seguiremos?
Queremos um Estado forte - na regulação, na imposição da lei, no respeito aos
contratos, na garantia da segurança e em tantas outras áreas da vida?
Ou preferimos um Estado grande - que empregue cada vez mais, que produza bens e
serviços, que interfira na atividade econômica e que, em última instância,
caracterize o capitalismo brasileiro do século 21?
Um olhar sobre os avanços recentes do país evidencia a importância histórica
dessa escolha. O Brasil que hoje desponta como liderança global consolidou, ao
longo dos últimos 20 anos, um impressionante conjunto de conquistas na economia,
na política e na sociedade. Enterramos uma ditadura militar. Abrimos a economia.
Domamos a inflação. Aceitamos regras básicas da boa macroeconomia. Tiramos
milhões de pessoas da pobreza. Criamos um enorme mercado consumidor. Estamos,
como nação, mais fortes do que nunca.
O próximo passo - decisivo para nossas pretensões - é entender o que queremos de
nosso Estado.
Historicamente, ele é responsável por algumas das principais mazelas do país,
como a péssima qualidade da educação, o atendimento sofrível na saúde, a
insegurança que ceifa quase 50 000 vidas ao ano, uma carga tributária
asfixiante, a burocracia que inferniza o cidadão, barra o empreendedorismo e se
perpetua governo após governo. A alternativa não é torná-lo insignificante - se
alguém ainda precisava de comprovação de que o mercado não pode ser deixado
totalmente solto, recomenda-se uma visita aos Estados Unidos e à Europa para ver
o estrago que a falta de regulação nas finanças produziu.
O ponto é outro. Naquilo que elegermos como prioritário, o Estado precisa
funcionar. Rusgas eleitorais à parte, não ajuda em nada o Fla-Flu que surgiu em
torno da questão. "A ideologia está turvando o debate. Os liberais não pregam o
fim do Estado. Só recomendamos cuidado, pois a mão pesada pode gerar
distorções", diz o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.
Vale, então, tirar um pouco da paixão que envolve o tema. Não é verdade que o
Brasil tenha flertado com o Estado mínimo durante a gestão FHC. Também não é
verdade que Lula esteja construindo um estatismo soviético.
Nos quadros que ilustram esta reportagem, EXAME traz um diagnóstico completo
sobre o tema.
A radiografia mostra que, apesar de certa redução na máquina e de algumas
importantes privatizações na era FHC, Lula herdou um Estado ainda pesado em
muitos aspectos. Só que, em vez de diminuí-lo, sua opção foi fazê-lo crescer
mais. Desde 2003, o tamanho da máquina cresceu em 120 000 funcionários. Seu
custo aumentou 60%. Foram criadas oito novas empresas, e apenas uma delas, a
Empresa Brasil de Comunicação, responsável por um canal de TV desprezado pela
audiência e, portanto, inútil sob todos os pontos de vista, já conta com quase 1
500 funcionários.
Felizmente, no Brasil democrático a criação de estatais não é tão fácil como era
na ditadura militar - as novas empresas públicas precisam ser aprovadas pelo
Congresso. A primeira tentativa de o governo Lula aprovar uma grande estatal, a
Petrosal, foi recentemente barrada pelos parlamentares. Talvez o que realmente
preocupe seja não tanto o presente, mas a tendência futura. Todas as indicações
das autoridades são de que a opção pelo crescimento da máquina é consciente e
que não haverá volta. No rol de medidas gestadas consta até mesmo a ideia de
criar uma empresa para a produção de fertilizantes, já ridicularizada pelo
apelido de "Adubobrás". "O governo precisa ser cuidadoso. O Brasil não pode se
comportar como se fosse a China", diz Jim O’Neill, chefe do departamento de
pesquisas do banco Goldman Sachs e autor do termo Bric, que designa os quatro
principais países emergentes - Brasil, Rússia, índia e China.
No centro das discussões está hoje a proposta do governo de ressuscitar a
Telebrás, a antiga holding das operadoras telefônicas privatizadas no final dos
anos 90. O propósito de revigorar a Telebrás, hoje apenas uma administradora de
antigas dívidas, seria torná-la na prática uma nova estatal, com uma missão
específica: acelerar a disseminação da internet de alta velocidade, a chamada
banda larga. Trata-se de algo que algumas das economias mais avançadas do mundo
estão empreendendo no momento (veja reportagem na pág. 32). Contar com uma
internet mais rápida e que dê conta do crescente tráfego de imagens e de dados é
uma meta de indiscutível valor para a competitividade da economia. A questão é a
maneira de concretizá- la. Enquanto outros países desenvolvem soluções que
privilegiam a competição privada no setor - como o Brasil já fez com êxito para
destravar a telefonia 13 anos atrás - ou fórmulas de parceria público-privada,
aqui os sinais até agora são de um viés estatizante. Ignorando o histórico de
ineficiência das estatais num setor em constante mudança tecnológica, o governo
cogita tomar para si a implantação do Plano Nacional de Banda Larga.
Segundo especialistas do setor ouvidos por EXAME, a recriação não apenas é
desnecessária como se tornou uma fonte de incertezas. "Ao anunciar que vai
reinventar a Telebrás para competir com as empresas privadas, o governo inibe
novos investimentos no setor", diz um alto executivo de uma operadora de
telecomunicações. A primeira contraindicação em relação à ideia tem a ver com a
histórica ineficiência já demonstrada pela holding.
Em 1998, quando a Telebrás comandava o setor de telefonia no país, apenas 32%
dos domicílios brasileiros tinham linhas telefônicas. Hoje, entre celulares e
fixos, mais de 80% dos lares dispõem de telefone. Na última década, somente as
empresas de telefonia móvel investiram 77 bilhões de reais.
O sistema não é perfeito. Há muito espaço para aprimorá-lo. Mas sua evolução nas
mãos da iniciativa privada, conforme demonstram todos os dados, é incomparável.
Além disso, os cerca de 200 funcionários remanescentes da Telebrás são técnicos
a serviço da Anatel. Tirá-la do limbo pode significar a criação de um novo lote
de cargos de confiança e sabe-se lá mais quantos empregos comuns.
Já a segunda contraindicação tem a ver com a nebulosa valorização de 35 000% dos
papéis da Telebrás na Bovespa durante o governo Lula. Em parte, a escalada é
fruto de rumores. Mas, recentemente, do alto do palanque, o próprio presidente
Lula disse que "a Telebrás será reativada para fazer a banda larga no país". A
subida estratosférica das ações da estatal está sendo investigada pela CVM, o
órgão do governo responsável por fiscalizar a bolsa de valores. Outro capítulo
cercado de muitas dúvidas diz respeito à reativação da Eletronet, empresa falida
de capital misto, originada do sistema Eletrobrás nos anos 90. O grande ativo da
Eletronet é uma rede de fibras ópticas com 16 000 quilômetros que se espalha por
18 estados. O governo pretende transformar a rede da Eletronet na espinha dorsal
de seu plano de banda larga e repassar sua gestão para a Telebrás. Existem
fortes suspeitas de tráfico de influência e uso de informações privilegiadas em
um lobby supostamente feito pelo ex-ministro José Dirceu, cassado no escândalo
do mensalão. O caso serve bem para lembrar que o avanço estatal não pode ser
considerado apenas do ponto de vista teórico. Na vida real, argumentos nobres
costumam servir como uma luva para a defesa de interesses particulares.
A reanimação da Telebrás é só parte do movimento mais amplo que o governo vem
fazendo, nos últimos anos, de reforço de sua presença na economia. A expressão
máxima dessa tendência é o fortalecimento da maior companhia do país - a
Petrobras. Contraditoriamente ao senso comum, a empresa começou a ganhar
musculatura quando perdeu o monopólio que tinha por lei sobre a exploração e a
produção de petróleo, em 1997. No primeiro momento, a Petrobras foi à luta para
ganhar competitividade diante da chegada de multinacionais. Mais recentemente,
ao sucesso das campanhas exploratórias e à descoberta das reservas do pré-sal
somou-se um agressivo projeto de expansão que levou a Petrobras a se estabelecer
em quase todos os setores de energia. Hoje, além de ser responsável por quase a
totalidade da produção e do refino de petróleo no país, a empresa controla quase
40% da distribuição de combustível, tem um quarto do mercado de distribuição de
gás de cozinha e já possui capacidade de geração de eletricidade equivalente a
meia usina de Itaipu. Tornou-se a quarta maior companhia de energia do mundo,
com valor de mercado estimado em 180 bilhões de dólares. O salto a transformou
não só numa gigante internacional mas também num dos principais motores do
crescimento do país e num dos mais privilegiados instrumentos de intervenção na
economia. "Não somos mais uma empresa de petróleo. Vamos do poço ao plástico. E
não vamos parar de crescer", disse a EXAME José Sérgio Gabrielli, presidente da
Petrobras.
O mais recente movimento da empresa foi no setor petroquímico. Em janeiro, ao
aumentar sua participação na Braskem, do grupo Odebrecht, a Petrobras
possibilitou que ela comprasse a rival Quattor, formando a quinta maior
petroquímica do mundo, com faturamento anual de 26 bilhões de reais. é bom para
o país que uma única empresa seja cada vez mais dominante em tantos mercados? é
uma questão em aberto. O avanço da Petrobras na petroquímica teve apoio do
governo, sob o argumento de que a indústria brasileira precisava ganhar
competitividade internacional. Esse passo representa bem o que o governo quer
dizer ao defender seu papel de "indutor do desenvolvimento". Num passado
recente, o governo atuou fortemente para forjar a consolidação de grupos de
capital nacional com poder de fogo global. Tal lógica permeou, entre outros
negócios, a incorporação da Sadia pela Perdigão, dando origem à BR Foods, no
setor de alimentos, e a compra do Bertin pelo JBS-Friboi, hoje o maior
frigorífico do mundo. Em ambos os casos, nos quais o BNDES ou fundos de pensão
de funcionários de estatais, como a Previ e a Petros, fizeram injeções
bilionárias, uma das justificativas foi a criação de multinacionais
verde-amarelas. Do ponto de vista da escala, faz sentido. O efeito para o país,
porém, vai depender do grau de competição em cada mercado após a consolidação.
"Em teoria, o apoio à criação desses grupos pode fazer sentido se gerar ganhos
de eficiência na competição internacional e incorporação de novas tecnologias
que beneficiem o país", afirma o consultor Juan Peréz Ferrés, execonomista-
chefe da Secretaria de Direito Econômico. "O risco é termos virtuais monopólios
domésticos. Aí, quem perde é o consumidor."
Essa é uma das críticas colocadas ao estímulo à Braskem, que ao incorporar a
Quattor se tornou praticamente a única fabricante de algumas resinas plásticas
no país. Outra operação polêmica apoiada pelo governo foi a compra da telefônica
BrT pela Oi, que exigiu a alteração de uma lei para que o negócio se tornasse
possível. Nesse caso, a lógica seria contar com uma grande operadora nacional
num ambiente em que as outras grandes empresas - Telefônica, Claro e TIM - são
multinacionais. O ganho para o consumidor brasileiro ainda não está claro. Novos
negócios de grande porte estão sendo preparados no setor elétrico. Nessa área, a
presença estatal já é pesada, por meio da mastodôntica Eletrobrás, dona de 38%
da capacidade de geração e de mais da metade da rede de linhas de transmissão de
energia. O presidente Lula já declarou que ela será vitaminada para se
transformar numa "Petrobras do setor elétrico". Mas a mexida no setor não deve
parar aí. Na etapa de distribuição de energia, em que a Eletrobrás tem
participação reduzida, estaria sendo urdida uma nova superempresa de capital
misto. A estratégia seria inicialmente a fusão dos ativos da CPFL, controlada
pelo grupo Camargo Corrêa, com os da Neoenergia, cujos acionistas principais são
a Previ e a espanhola Iberdrola. Numa segunda etapa, a nova CPFL também viria a
incorporar a Brasiliana, hoje uma sociedade entre a própria Previ e o grupo
americano AES. O comando da empresa resultante ficaria com a Camargo Corrêa.
Contando com as bênçãos de Lula e Dilma, a nova CPFL seria dominante em mercados
importantes do país, como o estado de São Paulo e a Região Sul.
No fundo, os exemplos citados falam sobre os riscos de um tipo de sistema
econômico que pode estar surgindo na esteira da crise financeira - o capitalismo
de Estado. Quem melhor captou o fenômeno foi o cientista político americano Ian
Bremmer, presidente da consultoria de riscos políticos Eurasia Group e uma das
vozes mais respeitadas no cenário internacional. Com o mundo rico chafurdando em
problemas, diz Bremmer, o modelo liberal entrou numa fase de declínio. O momento
é de países cujo motor econômico decorre do Estado, seja por meio de suas
empresas estatais, seja por meio de seus fundos soberanos. Segundo Bremmer, a
nova dicotomia internacional não é mais entre socialismo e capitalismo, mas
entre capitalismo de mercado (como o praticado por Estados Unidos, Europa,
Japão, Canadá e Austrália, entre outros) e de Estado (cujos principais
representantes seriam China, Rússia e países árabes exportadores de petróleo).
Para ele, o Brasil, no momento, flerta com os dois modelos, sem uma definição
clara do lado para o qual penderá.
Ainda que o estatismo brasileiro esteja a anos-luz do praticado na Rússia ou na
China, não resta dúvida de que a crise internacional deu fôlego aos defensores
do modelo também por aqui. Em pleno enxugamento do mercado de crédito no país, o
governo federal fez valer sua posição de acionista majoritário do Banco do
Brasil e da Caixa Econômica Federal. Num primeiro sinal, em abril de 2009,
Antônio Francisco de Lima Neto foi demitido da presidência do BB porque o
presidente Lula estaria insatisfeito com as altas taxas de juro praticadas pelo
banco. Depois da mudança de comando, o maior banco brasileiro promoveu reduções
de taxas para injetar dinheiro na praça. O resultado é que a concessão de
crédito da instituição aumentou 33% de 2008 para 2009, passando a 301 bilhões de
reais. A expansão da carteira de crédito mexeu diretamente com o lucro do BB,
que cresceu 15% no período (número também influenciado por um acerto de contas
com a Previ, que rendeu 2,3 bilhões de reais extras). "O BB teve uma leitura
mais apropriada da crise e está colhendo os resultados agora", diz Flaviano
Faleiro, executivo de estratégia para a área de finanças da consultoria
Accenture. Assim como o BB, a Caixa também foi instada a fornecer mais crédito -
especialmente no segmento imobiliário. A forte atuação das duas instituições fez
com que a participação dos bancos públicos na oferta de crédito do país passasse
de 36% para 40%. Porém, o fenômeno não deverá ser entendido como circunstancial.
O Banco do Brasil já avisou que estuda levantar 9 bilhões de reais até 2011 com
uma emissão primária de ações para reforçar seu capital. No segmento comercial,
a participação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal vem crescendo.
Em 2008, as duas instituições representavam 37% do total de ativos dos cinco
maiores bancos comerciais do país - no ano passado ficaram com 42% do total.
Para o país, o ativismo estatal no crédito foi fundamental durante a crise,
quando a banca privada se retraiu. Porém, a despeito das inegáveis melhorias na
governança de bancos públicos, como o BB, não resta dúvida que o governo - este
e os próximos - tem agora um renovado poder sobre quase metade do dinheiro
disponível a empresas e pessoas.
A discussão sobre o papel do Estado tornou-se muito mais complexa em anos
recentes. Foi-se o tempo dos extremos, em que ainda eram levadas a sério tanto a
opção socialista quanto a crença cega nos mercados. De certa forma, retomamos
uma matriz clássica, já que até mesmo Adam Smith, pai da economia, era um
defensor do Estado. "Ele pregava a ação estatal em áreas como segurança,
administração da Justiça, provisão de bens públicos e educação", diz o
economista Eduardo Giannetti. "Curiosamente, quem falou em abolição do Estado
foi Marx." O fato é que o debate atual comporta várias nuances. Um exemplo:
diferentes políticas podem gerar resultados discrepantes ao longo do tempo.
Guinadas estatizantes podem ter um efeito benéfico no curto prazo - e retirar o
elemento competitivo que gera o crescimento no longo. Além disso, a intervenção
estatal não é uniforme. Há um tipo de atuação voltada para a distribuição da
renda, que tem no Bolsa Família um bom exemplo. Isso é radicalmente diferente da
atuação estatal na produção de bens e serviços. Que, por sua vez, nada tem a ver
com maior ou menor firmeza na regulação. Ante tal gama, diferentes mix de
políticas estão à disposição. é possível que o próximo governo decida ser mais
atuante do lado social - gastando mais e melhor com o atendimento de saúde e
educação. Mas pode escolher interferir menos no dia a dia das empresas. Nesse
caso, o Estado terá crescido ou diminuído?
Frente a tais opções, voltamos à questão inicial: que Estado queremos?
A experiência histórica sugere que o gigantismo não produz riquezas no longo
prazo, a não ser para o pequeno grupo de privilegiados que usufruem dos recursos
de todos. Ela também parece indicar que a chave do sucesso são instituições
robustas e justas, compatíveis com um Estado forte. Para chegar a ele, temos
muito trabalho pela frente. A faxina poderia começar com uma tesoura na infernal
burocracia que cerca cidadãos e empresas a todo instante, talvez a mais gritante
manifestação do Estado grande na vida nacional. Sua mão invisível está nas
certidões, nos cartórios, nos documentos e nas instâncias burocráticas que
atravessam o dia a dia do país. Um Estado que se pretende forte também deveria
aumentar a competitividade de sua economia e estimular o crescimento abolindo a
asfixia tributária que aumenta, independentemente de que partido esteja no
poder. Tais medidas podem não emocionar certas plateias, ávidas por um poder
mais fácil e rápido de obter. Mas o restante do país só teria a ganhar com isso.