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Fonte: Época
[05/03/10]
CVM confirma investigação para apurar negócios com ações da Telebras - por
José Fucs
O objetivo é apurar se algum investidor usou informações privilegiadas sobre a
volta da Telebras para negociar ações da empresa na bolsa
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais,
confirmou oficialmente nesta sexta-feira que está investingando as operações
realizadas nos últimos anos com ações da Telebrás, a antiga holding estatal do
setor de telefonia. O objetivo da investigação é apurar se algum dos envolvidos
com o projeto do governo de ressuscitar a Telebrás, para torná-la responsável
pela gestão do Plano Nacional de Banda Larga, realizou negócios com papéis da
empresa, aproveitando-se de informação privilegiada – o chamado insider trading.
"A CVM está apurando fatos relacionados com os impactos no mercado de valores
mobiliários das noticias e comentários sobre o possível aproveitamento da
Telebras no âmbito do denominado Plano Nacional de Banda Larga", diz o
comunicado divulgado pela CVM. "Na hipótese de o trabalho de apuração em curso
conduzir à conclusão no sentido da ocorrência de ilícito na esfera do mercado de
capitais, poderão ser responsabilizados todos aqueles em relação aos quais, à
luz da legislação aplicável, existam suficientes indícios de materialidade e
autoria."
Nos últimos dois anos, as ações da Telebrás, que controlava as empresas
estaduais de telefonia antes da privatização, em 1998, e detinha o monopólio do
setor no país, tiveram grande valorização. A alta dos papéis foi puxada pelas
declarações de ministros e até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o
projeto de usar a empresa para implementar o plano de popularização da banda
larga. Desde o início do governo Lula, em 2003, as ações da Telebrás, acumulam
uma alta de quase 35.000% na BM&F Bovespa. Só neste ano, até hoje, as cotações
já tiveram uma valorização de 200%. Em dezembro de 2007, os papéis da empresa
tiveram uma alta de 200% em um único dia (16 de dezembro), depois que o ministro
da Comunicações, Hélio Costa, revelou pela primeira vez os planos de
ressuscitá-la. "Se houve vazamento, a CVM deve investigar", afirmou Lula
recentemente, sobre a excessiva valorização das ações da empresa. "Se ela
cresceu 35.000%, para mim é novidade. Agora, que ela vai crescer, vai. Porque
nós vamos recuperar a Telebrás e utilizá-la para fazer banda larga nesse país."
Na semana passada, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que o
ex-ministro José Dirceu, antecessor de Dilma Rousseff na Casa Civil, estaria
envolvido no plano de banda larga oficial. Embora tenha deixado o governo em
2005, dirceu ainda mantém grande influência nos círculos do poder em Brasília.
Segundo a Folha, Dirceu recebeu R$ 620 mil, em troca de serviços de consultoria
prestados ao empresário Nelson dos Santos, conhecido no mercado como
intermediador de grandes negócios, entre 2007 e 2009. O empresário detém uma
participação relevante na Eletronet, uma estatal falida cujo principal ativo
seria o direito de uso de uma rede de 16.000 quilômetros de cabos de fibras
ótica da Eletrobrás, e tinha, portanto, interesse em ver o projeto de
renascimento da Telebrás decolar.
O governo, porém, teria desistido, ao final, de viabilizar seu projeto de banda
larga por meio da Eletronet. A mudança de planos do governo teria ocorrido em
razão de uma decisão tomada pela Justiça Estadual do Rio de Janeiro, que
referendou o entendimento de que a rede de fibras óticas que Santos queria
explorar pertence, na verdade, às estatais do setor elétrico. Estava apenas
cedida, por contato, à Eletronet.