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Fonte: Estadão
[08/13/10] Universalização
da internet banda larga fica para o próximo governo - por Gerusa
Marques
Para especialistas do setor e técnicos da própria equipe de Lula, é difícil
colocar o plano em prática neste ano
A temperatura do debate é alta e a pressão política do governo é forte, mas a
oferta de internet via banda larga País afora, como quer o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, é uma promessa eleitoral com tantas etapas para cumprir
que só no governo do sucessor pode virar realidade. Para técnicos e
especialistas do setor, mesmo que o governo consiga definir no próximo mês as
diretrizes, não há como colocar em prática neste ano o Plano Nacional de Banda
Larga. O mais provável é que o Planalto faça o lançamento de um protocolo de
intenções, que pode ser usado como bandeira política na campanha eleitoral.
"É muito difícil que o plano seja executado este ano, a não ser que seja algo
absolutamente marginal, nada relevante", avalia um técnico do governo. O maior
problema, para uma fonte da iniciativa privada, foi o governo ter atrelado a
necessidade de expandir a banda larga à discussão para revitalizar a Telebrás,
empresa que deverá administrar e operar o plano.
O secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento, Rogério Santanna, reconhece que não há tempo hábil para o plano
ser executado pelo governo Lula, mas pondera que algumas medidas podem ser
tomadas, com impactos ainda neste ano. "Certamente podemos ter o estabelecimento
das linhas de ação para a empresa gestora do plano e fazer ações de caráter
organizativo caso a Telebrás seja escolhida como gestora", diz.
A reativação da estatal, que teve as subsidiárias privatizadas em 1998, é
defendida por Lula. A decisão sobre a reativação da velha estatal será tomada em
abril, quando o presidente voltará a se reunir com os ministros para bater o
martelo sobre o lançamento oficial do plano.
Se essa reunião for conclusiva, uma das primeiras medidas será a edição de um
decreto presidencial instituindo o plano de banda larga. Minuta do documento
circulou em Brasília no início do ano e colocava a Telebrás na liderança do
processo.
Após formalizada a decisão de reativar a estatal, serão necessários dois meses
para reconstituir a empresa e contratar ou requisitar funcionários. A estatal
tem 200 empregados cedidos à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Para
voltar a operar, a Telebrás ressuscitada tem de realizar assembleia de
acionistas, enviar comunicado à Comissão de Valores Mobiliários e cumprir
compromissos junto ao mercado financeiro, por ter ações da Bolsa.
A ressurreição da empresa é um processo complexo. Será necessário licitar a
compra de equipamentos para a revitalização das fibras de propriedade das
estatais de energia elétrica. Essas fibras, usadas para a montagem da rede de
banda larga, são as que estão em poder da Eletronet, empresa que decretou
autofalência, tem dívidas de credores cobradas na justiça e a pendência jurídica
sobre a apropriação das fibras pela Eletrobrás.
DENÚNCIAS
O cronograma traçado pelos técnicos dependerá da superação desses problemas e do
constrangimento criado com a divulgação de denúncias de envolvimento do
ex-ministro José Dirceu nos negócios da empresa. Ele prestou consultoria à Star
Overseas Venture, empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas
de propriedade do empresário Nelson dos Santos, que é dona de parte da Eletronet.
Mesmo que a licitação de compra dos equipamentos seja realizada em tempo recorde
e que não haja contestação judicial, todo o processo deve durar ao menos três
meses, sendo concluído em setembro. A entrega de equipamentos e montagem dos
componentes eletrônicos nas redes de fibras ópticas se prolongaria até dezembro.
Com as fibras funcionando, a estatal pode começar a atuar no atacado, ofertando
capacidade de transmissão de dados para outros operadores, como pequenos
provedores de internet, que forneceriam os serviços para o consumidor. Mas, para
operar, mesmo no atacado, é preciso autorização da Anatel, processo que não é
imediato.
Se o governo optar por atender também ao consumidor final, para cumprir a
promessa de chegar com a banda larga onde as grandes operadoras não querem, terá
de construir a capilaridade da rede, para ligar a espinha dorsal formada pelas
fibras das centrais elétricas até as cidades, e das cidades até a casa de cada
cliente. Não há estimativa de quanto tempo a construção da rede pode levar. As
empresas privadas, por exemplo, começaram o trabalho de ramificação da rede
principal até a sede dos municípios em 2008 e devem concluí-lo no fim do ano.
COLABOROU RENATO ANDRADE