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Fonte: Tele.Síntese
[08/03/10]
A Telebrás e as ações de governo - por Miriam Aquino
Como explicar uma empresa que apresentou em 2009 um prejuízo de R$ 20,590
milhões; que teve prejuízo de R$ 31,784 milhões em 2008, que apresenta em seu
balanço prejuízos acumulados de R$ 435,29 milhões; contra um capital social de
R$ 419,4 milhões, e que registra um passivo a descoberto de mais de R$ 16
milhões, apresentar um dos maiores giros financeiros dos últimos meses e
aparecer com valorização de ações de mais de mil por cento em poucos meses?
Explica-se pelo displicente tratamento com que o governo se refere à Telebrás e
a sua atuação no programa de massificação da banda larga.
Com resultados tão sofríveis, fica claro que o movimento de valorização dos
papeis da Telebrás é meramente especulativo. Embora eu não acompanhe o mercado
de capitais, acredito que o pequeno investidor só é lembrado quando seu punhado
de ação torna-se importante para alguém. Pois nesse movimento especulativo, os
pequenos investidores já estão sendo procurados pelos grandes corretores e
advogados para venderem as suas ações.
Enquanto isso, governo prefere fazer cara de paisagem e mandar a própria empresa
responder à Comissão de Valores Mobiliários que “nada sabe, nada viu”. Ao
acompanhar essa estranha movimentação das ações da Telebrás, tinha a preocupação
de saber quem estaria ganhando mais com essa valorização e fui pegar uma aulinha
de quem entende.
Pois bem: atualmente, a União detém 72,67% do capital total da Telebrás. Só que
o governo possui 90% das ações ordinárias (com poder de voto) e o mercado possui
100% das ações preferenciais (sem poder de voto, mas com preferência para
receber os eventuais dividendos).
E quem possui as 210 bilhões de ações PN? Você, eu, ele, que compramos linhas de
telefone no período de 1975 a 1995. Quantas ações temos, de que tipo, só mesmo
procurando o banco que “cuida” delas para nós (por enquanto é o Real, mas a
Telebrás abriu licitação para contratar nova instituição financeira). Já tem
corretora que “descobre” você e pede para assinar procuração repassando esses
papeis esquecidos, em troca de um valor “x”, praticamente o mesmo movimento que
ocorreu às vésperas da privatização.
Quem ganha com essa especulação contra os pequenos? Além desses fundos e
corretores que sabem comprar e vender na hora certa, o outro grande ganhador, me
explicou uma fonte do mercado, é o próprio governo. Por que? Ora, quem tem mais
ação é quem mais se beneficia com a valorização dos papeis, e a União tem mais
de 70% do bolo.
Com os sistemáticos prejuízos apresentados pela empresa, ninguém duvida que o
governo terá que capitalizá-la, se quiser transformá-la em uma operadora que vai
prestar serviço seja para o usuário final seja para o próprio governo. No ano
passado, a União já havia injetado R$ 200 milhões na holding. Não custa lembrar
que, num movimento de reativação da empresa, o aporte de capital a ser feito
pelo acionista controlador terá que ser acompanhado pelos minoritários, sob o
risco desses acionistas diluirem a sua participação na companhia.
Ou seja, me explica essa fonte, a União poderá contar com os recursos dos
minoritários para fortalecer a estatal. Contar com recursos do mercado é sempre
um mecanismos saudável, desde que todos tenham o mesmo grau de informação sobre
o que se pretende fazer.
Pequenos
Embora a União seja a grande ganhadora com a alta dessas ações não é crível que
haja interesse especulativo entre aqueles que defendem e formulam a política
pública de banda larga para o país. Para acabar, então, com essa especulação
desmensurada, o governo deve comunicar ao mercado o mais rapidamente possível
qual será o papel reservado para a Telebrás no Plano Nacional de Banda Larga e
quais os planos de investimentos da estatal para este ano.
Depois que o próprio presidente Lula já confirmou a intenção do Poder Executivo
em reativar a estatal, não dá para fingir que a decisão não está tomada. Quanto
mais transparentes as decisões, melhor para todos, principalmente para os
menores, que neste caso também são milhares.