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Fonte: Convergência Digital
[10/03/10]
Banda Larga: Oposição recorre ao MP e articula CPI da Telebrás - por Luís
Osvaldo Grossmann
Os partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS - apresentaram nesta quarta-feira,
10/3, uma representação ao Procurador Geral da República para que sejam
investigadas “condutas possivelmente praticadas pelo ex-ministro José Dirceu e
pela ministra Dilma Roussef” com base nas denúncias de que o ex-chefe da Casa
Civil fez lobby para que o Plano Nacional de Banda Larga resultasse em lucros
para um de seus clientes privados.
É mais do que natural, especialmente em ano de eleição, que a oposição questione
os movimentos do governo. No caso específico, a dificuldade está no argumento
principal da representação. Ela é totalmente baseada em reportagem da Folha de
S. Paulo, publicada em 23 de fevereiro, que insinua que José Dirceu recebeu
dinheiro de um dos sócios da Eletronet para fazer lobby junto ao governo pela
reativação da empresa como parte do Plano Nacional de Banda Larga.
Segundo a reportagem, isso faria com que a participação desse sócio – Nelson dos
Santos, dono da Star Overseas Ventures – se multiplicasse do R$ 1 que pagou pela
entrada na Eletronet para R$ 200 milhões. A ministra chefe da Casa Civil foi
envolvida, segundo a representação, por se tratar de denúncia “numa área de
atuação direta da representada Dilma Vana Roussef”.
A Eletronet foi criada em 1999 numa sociedade da AES (51%) com a Eletrobrás
(49%) com o objetivo de fazer a gestão das redes de fibras óticas do setor
elétrico. Essas fibras sempre foram da Eletrobrás, que repassou o direito de
gestão para a Eletronet. O negócio, no entanto, micou e a Eletronet teve pedido
de falência requerido em face da dívida estimada em R$ 800 milhões com
fornecedores, em especial com a Furukawa e a Alcatel-Lucent.
Para retomar o controle dessas fibras óticas, o governo precisou reservar uma
caução, de aproximadamente R$ 280 milhões, justamente para eventual compensação
a esses credores. Aos credores, e não aos sócios. Portanto, não é lícito supor
que o uso das fibras óticas – que são da Eletrobrás, não da Eletronet – pudesse
transferir o dinheiro da caução a qualquer dos sócios da empresa em processo de
falência.
Como o governo retomou o controle das fibras sem precisara pagar nada aos sócios
da Eletronet, uma reportagem do Estado de S. Paulo, publicada um dia depois
daquela da Folha, em 24/3, é mais esclarecedora de onde poderia vir o ganho do
empresário Nelson dos Santos, aquele que contratou José Dirceu. Nela, é revelada
que a perspectiva de lucro com a Eletronet estaria numa tentativa da Oi de
adquirir o controle da gestora das fibras óticas.
Segundo essa reportagem, a Oi tentou na Justiça uma negociação com os credores
que lhe permitiria assumir a Eletronet por R$ 200 milhões. Caso essa negociação
tivesse avançado, o empresário Nelson dos Santos teria direito a uma parte desse
dinheiro. O negócio, porém, não foi para a frente porque o Plano Nacional de
Banda Larga prevê o uso das fibras óticas (que são da Eletrobrás) e não da
Eletronet para montar uma rede nacional.
Ainda que a denúncia da Folha não consiga fechar a matemática de como o Plano de
Nacional de Banda Larga vai acabar beneficiando os sócios da falimentar
Eletronet, é certo que a representação é apenas um primeiro movimento.
Outro foi o convite, aprovado também nesta quarta-feira, para que a ministra
Dilma Roussef e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, expliquem na Comissão
de Defesa do Consumidor o suposto vazamento de informações que permitiu a grande
valorização de ações da Telebrás. E, como disse o líder do DEM, deputado Paulo
Bornhausen (SC), “isso é a preparação para o pedido de CPI que faremos sobre a
Telebrás”.