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Fonte: Fiec - Origem: Folha de S. Paulo
[11/03/10]  Ação da Eletropar sobe 3.700% sob Lula - Andreza Matais

Valorização da empresa de participações da Eletrobrás ocorreu após governo falar em uso de rede em plano de banda larga
Entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2010, alta dos papéis da Eletropar somou 3.749,4%; no período, Ibovespa subiu só 519%

Da mesma forma que ocorreu com a Telebrás, o preço das ações da Eletropar (empresa de participações da estatal Eletrobrás) também explodiu no governo Lula. A única atividade operacional da empresa (antiga Lightpar) está associada à Eletronet, que passa por processo de falência e é controlada pela Eletropar.

Em dezembro de 2002, as ações da Eletropar valiam R$ 1,18. Na comparação com o valor registrado em 23 de fevereiro deste ano, de R$ 45,43, houve alta de 3.749,4%, considerados dividendos e juros sobre o capital, segundo cálculos da Economática feitos a pedido da Folha. No período, o índice Ibovespa ganhou 519,4%.
A consultoria Economática identificou que o pico de alta no valor das ações se deu entre novembro e dezembro de 2007. Em novembro daquele ano, o ministro Hélio Costa (Comunicações) disse em evento que o governo criaria estatal para atender locais sem prestação de serviços de telefonia.

Ao mesmo tempo, o presidente da Telebrás, Jorge da Motta e Silva, afirmou que essa seria uma reparação "tardia" para a estatal que hoje tem prejuízos acumulados de R$ 429 milhões demonstrados em seu último balanço, de 2009.
A Eletronet seria beneficiada com a retomada da Telebrás uma vez que tem o direito de operar uma rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica que conectam 18 Estados.

Em fevereiro, a Folha revelou que os rumores sobre a reativação da Telebrás, que seria gestora dessa rede da Eletronet dentro do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), levaram as ações da estatal a um ganho de 35.000%. A reportagem também revelou que o ex-ministro José Dirceu, um dos réus no esquema do mensalão, recebeu R$ 620 mil da Star Overseas Ventures, do empresário Nelson dos Santos, que, ao lado da Contem Canada (também de Santos), tem 51% das ações da Eletronet.
Ambos negaram que o serviço tenha sido para lobby.

As ações da Eletropar valem hoje, segundo a Economática, quatro vezes mais do que o valor contábil da empresa. O movimento fez com que o valor de mercado da Eletropar saltasse de R$ 12,5 milhões, em dezembro de 2002, para R$ 472,7 milhões em março deste ano.

O volume de negócios da Eletropar é muito baixo (R$ 11 mil por dia neste ano), o que reforça a tese no mercado de que há movimento especulativo. Isso porque quem tem ação da empresa hoje dificilmente conseguiria vender, devido ao alto preço. "É uma empresa que estava em situação desacreditada, com um plano [de banda larga] que não está definido. O crescimento das ações só pode ser fruto de informação forte de que o negócio vai bombar", disse o analista da Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu.
"É uma especulação em cima da expectativa de que o governo, usando a rede de cabos, criaria valor tanto na Telebrás quanto na Eletropar, uma distorção", disse o senador ACM Júnior (DEM-BA).

Justiça

A Folha teve acesso a relatório elaborado em 2002 pelo então conselheiro fiscal da Eletropar, o advogado Francisco Lúcio Pereira Filho. No documento, ele acusa possível vício nos contratos de criação da Eletronet e de cessão do direito de uso da infraestrutura do sistema de transmissão de energia elétrica e de fibras ópticas que poderão gerar questionamentos na Justiça e, por sua vez, garantir aos acionistas minoritários da Eletropar dividendos. Seria outro motivo para o ganho nas ações.
Pelo contrato, o lucro da Eletropar e a propriedade dos cabos iriam para as empresas cedentes. Como a Eletropar tem acionistas minoritários, ele considerou que isso poderia se configurar abuso do controlador (Eletrobrás). Assim, o lucro não poderia ficar todo com as cedentes (Chesf, Furnas, Eletrosul e Eletronorte).

Eletrobrás atribui ganhos a reestruturação

A Eletrobrás afirmou que o crescimento no valor das ações da Eletropar foi devido a uma "profunda reestruturação administrativa", feita a partir de 2006, que foi "percebida pelo mercado".

Com relação à Eletronet, disse que, desde 1999, a Eletropar atuou "exclusivamente como preposto" das concessionárias Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Furnas em decorrência de "estipulações contratuais". E que em 2007, com o fim do contrato, as concessionárias passaram a deter a propriedade dos bens agregados à infraestrutura e das fibras ópticas usadas, implantadas pela Eletronet.

Conforme o balanço da Eletropar de 30 de setembro de 2009, a composição desses investimentos soma R$ 83,4 milhões. A empresa vale R$ 473 milhões.

A reestruturação administrativa só fez com que os custos de administração da massa falida da Eletronet fossem ressarcidos.
Desde 2003, a Eletropar não tem função operacional. Administra a carteira de participações que tem em cinco empresas do setor elétrico e busca solução para a falida Eletronet.