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Fonte: Infraestrutura da Internet
[16/03/10] Reflexões
brasileiras: Plano Nacional de Banda Larga - por Julião Braga
Introdução
O debate sobre o Plano Nacional de Banda Larga extrapolou o foco inicial, EMHO.
Inicialmente, o objetivo para a implementação do PNBL era prover a primeira
milha (outros chamam de última milha – diferença já abordada nesse blog), com
banda suficiente para o uso da Internet sem restrições e, como mais importante
objetivo, estender as facilidades da Internet a todo o território nacional,
caracterizando a inclusão da população brasileira. O principal objetivo (o
segundo acima) se sobrepõe a qualquer eventual restrição. Nesse aspecto o
governo brasileiro está corretíssimo. Nada demonstra ao contrário. É uma decisão
política que reflete no futuro, com imensa grandiosidade.
A preocupação da presente reflexão é lembrar àqueles que estão desenhando o
projeto da PNBL de alguns aspectos esquecidos e, curiosamente, representam a
força de sua viabilidade, na amplitude proclamada. Além de simplificar o debate
e estimula o caminho da complexidade com entendimento intuitivo e completo.
Pressupostos
O primeiro componente da reflexão são os PTTs*
e o trabalho que vem fazendo o Nic.br, nessa direção. Acertou o Nic.br. Eis o
mapa dos PTTs atuais, na Figura 1, abaixo.
Figura 1. PTTs já em funcionamento (bolas azuis) (Ref: Mapa do Brasil retirado
de uma página do BNDES).
Outros estados brasileiros e respectivas cidades importantes, já estão com seus
PTTs em andamento. Um estímulo financeiro, sem que haja significativo excesso
nos recursos já alocados pelo Nic.br pode, rapidamente, crescer a presença dos
PTTs. Com os PTTs, ocorrerão duas coisas importantes: rápido acesso à Internet
em locais onde a dificuldade é maior e baixo custo para esse acesso.
Pressupostos no entorno dos PTTs
A iniciativa privada (concessionárias com mente avançada e, principalmente os
pequenos provedores) irá se aproveitar da disponibilidade dos PTTs. A
competição, sob uma demanda de mercado imensa cuidará dos preços acessíveis.
Sempre haverá condições para competir. As empresas de Serviço de Valor Agregado
– SVA (VoIP, gerenciamento remotos, datacenters, etc.) e de serviços de
infraestrutura (física e lógica) sofrerão um impacto positivo, principalmente,
aquelas com conhecimento e características de inovação, que estejam preparadas
para o que virá junto com o PNBL. Não se deve mexer ou criar empecilhos para
livre iniciativa. Exceto o uso dos recursos periféricos de interesse público.
Coisa que a Anatel pode cuidar desde que ela seja uma agência reguladora
independente, isto é, no sentido lato, uma agência reguladora PRECISA ser
independente
PTT está ótimo sob a coordenação do Nic.br, muito bem preparado para isso.
Deixemos com ele. Mas, surge uma questão importante com os PTTs. Eles devem se
interconectar. A interconexão entre PTTs tem sido feita pela iniciativa privada
e, com muita frequência tem ocorrido a “tercerização” do transporte nessas
interconexões. O resultado é o preço aviltado em não menos do que 40%, com uma
natural variação muito grande. Chamo isso de “terceirização oportunista”. Se
continuar dessa forma, teremos instabilidade nas interconexões (e, nos preços),
entre os PTTs. A proposta é que, à luz dos objetivos fundamentais do PNBL, cuide
o governo das interconexões. Mas, colocar isso nas mãos de uma empresa nova, sem
experiência ou quadros preparados é um tiro no pé. Portanto, a sugestão do
modelo exposto nesse texto é deixar por conta de quem entende muito e com
bastante experiência de interconectar todo o Brasil: Rede Nacional de Pacotes (RNP).
A RNP é imbatível na habilidade em lidar com redes de longa distância, complexas
e funcionais e, com facilidade contorna as limitações físicas.
À iniciativa privada, deve restar o mais importante gerador de negócios do PNBL:
o trânsito e o transporte. A primeira milha, com as facilidades dos PTTs e suas
interconexões cuidará para que os patamares dos preços de trânsito e transporte
estejam nos limites adequados.
As interconexões entre os PTTs
As interconexões entre os PTTs exigem facilidades físicas. Vejam o privilégio do
Brasil: Eletronet e congêneres! Ai entra o governo com o fôlego atual, com
ênfase na recriação da Telebrás. A Telebrás parece ser mais apropriada para
absorver a rede da Eletronet, nas condições em que se encontra. Uma restrição
interessante à Telebrás é a de que ela seja um Tier 1**,
no Brasil. A restrição é de que ela nunca compre trânsito, em particular,
trânsito internacional, já que ela É o trânsito nacional. Colocando a RNP e Nic.br
no circuito fundamental do PNBL, a Telebrás será uma empresa enxuta e orientada
a perpetuar o PNBL na medida da necessidade do povo brasileiro e na dinâmica
inerente à inovação tecnológica (tipo, “o futuro é agora”). Ela será, também,
uma empresa de fomento e pouco interesse haverá para investidores. O governo não
precisa de investidor para a Telebrás. Que se use o FUST pois, estará muito bem
empregado. Não se pode esquecer que à Telebrás exercerá um papel importante na
formação dos preços da primeira milha (ela é um Tier 1, grande – ou, maior –
vendedora de trânsito no Brasil!). Não estou entrando no mérito ou
justificativas jurídicas que envolvem a Eletronet. Nem conheço bem essa questão.
Mas com ou sem a Eletronet, o modelo faz sentido. Por exemplo, a RNP tem um
backbone que transcende ao da Eletronet (independente se próprio ou contratado).
Conclusões
O modelo da reflexão é curto e grosso. Mas mostra um outro caminho para o
debate. Sobretudo, retira das bordas o excesso, sob a luz dos interesses de
grupos e avança na direção de um debate mais participativo.
A proposta é simples, como disse. Há algumas respostas a perguntas que poderiam
aparecer. E, ansiedade por contribuições. Na sequência, pode-se aprofundar no
modelo da reflexão. Não se pode deixar de criar o debate objetivo que traga
benefícios para o país. Faz parte de nosso princípio profissional evitar que a
indefinição direcione a um cenário em que a competição efetiva seja posta de
lado. Competição irá absorver a expectativa de todos os brasileiros, em
particular, as nossas, empresas e técnicos. Talvez, a palavra chave. Indefinição
e despreparo técnico para sustentar o cenário complexo o transformará em caos,
numa extensão jamais vista. Mas, um PNBL consistente e visível, certamente será
exemplar ao povo brasileiro.
* PTT, ou mais precisamente, PTTMetro é o nome dado ao
projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIbr) que promove e cria a
infra-estrutura necessária (Ponto de Troca de Tráfego – PTT) para a interconexão
direta entre as redes (“Autonomous Systems” – ASs) que compõem a Internet
Brasileira. A atuação do PTTMetro volta-se às regiões metropolitanas no País que
apresentam grande interesse de troca de tráfego Internet. (http://sp.ptt.br/intro.html)
** Tier-1 é a referência a um provedor de acesso à Internet que tem acesso à
tabela de roteamento global sem comprar trânsito de ninguém. A tabela de
roteamento é estabelecida ou atualizada, através de relações de “peering”. Nesse
texto, está sendo usado no contexto do território brasileiro, somente e, não
entra no mérito (abstração ditática) à tabela de roteamento.