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Fonte: Correio do Povo Origem: Folha de S. Paulo
[24/03/10] Tesouro
se opõe à reativação da Telebrás - Valdo Cruz e Humberto Medina
Hoje na Folha O Tesouro Nacional emitiu nota técnica em que condena a reativação
da Telebrás pelo governo Lula para gerir seu programa de banda larga, informa
reportagem de Valdo Cruz e Humberto Medina publicada pela nesta quarta-feira
(23) pela Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Parecer aponta riscos no uso da estatal para plano de banda larga; outros
setores do governo também resistem à proposta
Passivo judicial pode afetar programa, diz Tesouro; entre as alternativas está
licitar rede de fibras óticas e usar Correios ou Serpro no projeto
A oposição à reativação da Telebrás cresceu dentro do governo. O Tesouro
Nacional elaborou nota técnica condenando a reativação da estatal para ser a
gestora do PNBL (Programa Nacional de Banda Larga).
Em menos de 15 dias, é a segunda autoridade do governo a se opor à ideia. Na
semana passada, o ministro Hélio Costa (Comunicações) já havia levantado,
publicamente, restrições à reativação da estatal.
Com o enfraquecimento da tese da reativação da Telebrás, três outras
alternativas despontam no governo para viabilizar o programa: licitar a rede de
fibras óticas das estatais do setor elétrico (16 mil quilômetros), usar os
Correios ou o Serpro no lugar da Telebrás.
Segundo a Folha apurou, o texto do Tesouro aponta para o fato de a Telebrás já
estar exposta a muitas ações judiciais e haver risco de "contaminação" dos
ativos que seriam usados no PNBL. Segundo a Folha apurou, o documento do Tesouro
Nacional foi classificado como "consistente".
Desde a privatização do setor, em 1998, a função da Telebrás é administrar
dívidas e pagá-las com receitas que obtém por meio das aplicações de seus
recursos no mercado bancário. Até o final de 2009, a empresa era ré em 1.189
ações (sobretudo trabalhistas) e o passivo total (soma dos riscos remotos,
possíveis e prováveis) era de R$ 284 milhões (R$ 246 milhões são prováveis).
Os defensores da reativação da estatal no governo propõem que o Tesouro assuma
essa dívida e deixe a empresa livre para atuar no mercado.
Em 2009, a estatal deu prejuízo de R$ 20,6 milhões, teve passivo a descoberto
(os ativos não pagam todas as dívidas) de R$ 16,2 milhões e, no total do
prejuízo acumulado, está no vermelho em R$ 435 milhões.
Apesar dos números ruins, as ações da Telebrás chegaram a subir 35.000% com
rumores e declarações não confirmadas sobre sua reativação.
A oposição à reativação da Telebrás é crescente no governo e praticamente já
enterrou a hipótese. A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ainda não está
convencida dos argumentos da equipe econômica e do Ministério das Comunicações.
Vaivém
O Plano Nacional de Banda Larga tem passado por várias idas e vindas no governo.
Em 2009, foi criado um grupo de trabalho para estudar uma forma de universalizar
o acesso à internet em alta velocidade. Inicialmente, a ideia era colher
sugestões, inclusive das empresas que atuam no setor.
Desde o início houve uma divisão interna: o Ministério das Comunicações queria
que o plano fosse desenvolvido com a participação das empresas, e o Planejamento
e a Casa Civil queriam reativar a Telebrás.
A ideia nas Comunicações era que o governo criasse condições para que as áreas
que hoje não são atraentes para as teles viessem a ser, via benefícios fiscais.
Já o Planejamento e a Casa Civil defendiam a entrada do governo no mercado, como
regulador, via Telebrás.
Em dezembro, a proposta de reativação da Telebrás ganhou força porque a Justiça
devolveu uma rede de fibras óticas de 16 mil quilômetros para a Eletrobrás. A
rede estava na massa falida da Eletronet, empresa da qual o governo era sócio,
com a AES (do setor de energia).
O governo fez circular uma minuta de decreto, no qual dava detalhes de como a
estatal seria reativada e de que forma ela iria atuar no mercado, chegando até o
consumidor final.