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Fonte: Último Segundo - Origem: Agência Estado
[24/03/10]
MP investiga acordo da Telebrás com empresa de amigo de Hélio Costa
A Telebrás - que o Palácio do Planalto quer reativar como mola propulsora do
Plano Nacional de Banda Larga - está no centro de um imbróglio capaz de trazer
mais embaraços para o governo. Em Brasília, o Ministério Público Federal
investiga indícios de improbidade administrativa num acordo de R$ 253,9 milhões
firmado pela estatal com a empresa VT Um Empreendimentos, de propriedade de
Uajdi Menezes Moreira, amigo particular do ministro das Comunicações, Hélio
Costa (PMDB).
O próprio ministro, a quem a Telebrás está subordinada, é investigado no
procedimento por ter chancelado parecer que autorizou o acordo.
A investigação corre na Procuradoria da República no Distrito Federal. Está a
cargo do procurador Hélio Ferreira Heringer Júnior, que nos próximos dias deve
pedir à Polícia Federal uma perícia sobre os valores acertados entre a Telebrás
e a VT Um. Em parecer ao qual o Estado teve acesso, a Procuradoria Regional da
Advocacia Geral da União (AGU) considerou o acordo lesivo aos cofres públicos e,
em expedientes internos, defendeu que o órgão ingressasse com ação judicial para
anulá-lo. Uma minuta da ação anulatória chegou a ser elaborada, mas a AGU perdeu
o prazo para dar entrada no processo.
Pelo acordo, celebrado em 2006, a Telebrás se comprometeu a pagar mensalmente a
Uajdi Moreira 40 parcelas mensais de R$ 900 mil e repassou ao empresário um
crédito de R$ 107,9 milhões que possuía junto à Receita Federal. Uajdi passou a
ser dono, ainda, de mais R$ 50,5 milhões que a empresa cobra judicialmente da
extinta Telesp. O acordo é cercado de polêmica, por uma razão em especial: na
Justiça, Uajdi Moreira vinha cobrando a dívida de Telebrás desde 1998, sem
sucesso. Só depois que o amigo Hélio Costa assumiu o ministério é que foi
possível fazer o acerto.
O empresário, que conheceu Hélio Costa nos tempos em que o ministro apresentava
programas de televisão, foi um dos responsáveis por trazer para o Brasil o
sistema 0900, sucesso nos anos 90 em que telespectadores participavam de
sorteios mediante ligações telefônicas tarifadas. Para implantar o sistema,
Uajdi fechou contratos com a Telebrás e a Embratel. Como em 1998 os contratos
foram rompidos unilateralmente, ele foi à justiça em busca de reparação.
A disputa com a Telebrás prosseguiu na Justiça de Brasília. Em maio de 2006, a
estatal foi condenada a pagar R$ 506 milhões à VT Um. Embora ainda coubessem
recursos, a Telebrás não recorreu e, no mês seguinte, fechou o acordo para pagar
os R$ 253,9 milhões a Uajdi Moreira. À época, Hélio Costa disse que só foi
conhecer o tamanho da dívida da Telebrás depois da sentença da justiça
brasiliense. Mas documentos anexados à investigação mostram que, um ano antes, a
Telebrás pedira ao ministro que determinasse a entrada da AGU no processo. O
argumento era simples: defender os interesses da União, acionista majoritária da
Telebrás. De imediato, a entrada da AGU deslocaria o processo para a Justiça
Federal. O pedido da Telebrás não foi atendido.
Após a condenação na Justiça de Brasília, a Telebrás novamente consultou o
Ministério das Comunicações. Queria saber se poderia fechar o acordo com Uajdi
Moreira. A resposta da consultoria jurídica do ministério foi positiva - e
chancelada por Hélio Costa. Dois dias após o ministro dar aval ao parecer da
consultoria, o acordo foi fechado.