WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Telebrás e PNBL --> Índice de artigos e notícias --> 2010
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Fonte: Blog do Ethevaldo Siqueira no Estadão
[27/03/10]
Banda larga irresponsável - por Ethevaldo Siqueira
Quando afirmamos que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) é uma ficção é
porque lhe faltam três condições essenciais para que ele seja reconhecido e
debatido amplamente no País:
a) Nunca se divulgou nenhum texto básico desse plano, como ponto de partida para
as discussões de suas linhas gerais; o único texto divulgado, do Ministério das
Comunicações, foi desqualificado e ridicularizado pelos poderosos assessores do
segundo escalão da Presidência da República, do Ministério do Planejamento e da
Casa Civil.
b) Sua elaboração não contou com a participação ou aconselhamento dos mais
renomados especialistas do País.
c) Sua discussão não foi levada ao Congresso, nem à opinião pública. Tudo é
quase secreto, como uma ação entre amigos.
Ora, a importância de um plano desses transcende os limites dos gabinetes de
Brasília e deveria contar com a mais ampla participação da sociedade brasileira,
pois, como se tem reiteradamente afirmado, as redes de banda larga são as
grandes rodovias do conhecimento e da informação do século 21. Por sua
importância, elas interessam a toda a população brasileira e não podem ser
discutidas apenas nos bastidores, por burocratas interessados em cargos neste ou
no próximo governo.
Tudo que se tem anunciado sob o rótulo de PNBL no Brasil demonstra o grau de
irresponsabilidade do governo Lula no tocante às telecomunicações brasileiras.
Se compararmos o que aqui se faz com a forma de elaboração de projetos
semelhantes em outros países – como Reino Unido, Estados Unidos e Coreia do Sul
– notaremos diferenças substanciais.
Numa síntese jornalística perfeita e didática das diferenças entre o modus
faciendi de nosso plano nacional de banda larga e o plano equivalente
norte-americano, meu colega, Renato Cruz, do Estadão, mostrou recentemente os
cinco pontos que diferenciam os caminhos seguidos pelos dois países, que eu
amplio para seis, com minhas observações pessoais, a seguir:
1) O plano nacional de banda larga dos EUA foi elaborado por um grupo técnico da
agência reguladora (FCC, Federal Communications Commission). Aqui, a Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) é coadjuvante. Nos EUA, não se atrela o
plano a organismos puramente políticos, como aqui -Casa Civil e ministérios que
nenhuma relação têm com as telecomunicações. No Brasil, o Ministério das
Comunicações é simplesmente alijado da fase decisória do plano brasileiro por
condenar a ideia de reativação da Telebrás.
2) A proposta norte-americana está em debate no Congresso. No Brasil, o plano de
banda larga deve ser criado por decreto, se e quando for concluído neste
governo. O debate do PNBL brasileiro se restringe a um grupo fechado de pessoas,
sem nenhuma tradição como especialistas em telecomunicações, ideologicamente
afinadas com a ampliação do Estado, interessadas muito mais nos cargos e nas
oportunidades políticas da campanha eleitoral da candidata do governo à
Presidência da República.
3) O plano americano não prevê ressuscitar nenhuma estatal ou empresa que seja
alvo de especulação em bolsa. No Brasil, vários integrantes do governo,
incluindo o presidente Lula, falam de forma irresponsável na volta da Telebrás,
sem qualquer certeza na viabilidade desse projeto, fazendo suas ações
dispararem.
4) O pior é o risco de os ganhos com essas ações se transformarem em recursos
adicionais para um suposto caixa-2 da campanha presidencial do PT. Esse é, pelo
menos, o rumor que se divulga em Brasília. É estranho que não se investigue
seriamente quem são os beneficiários nem o provável destino dos ganhos com a
manipulação das cotações das ações da moribunda Telebrás.
5) Os EUA não planejam usar a rede óptica de uma empresa em que 51% de suas
ações tenham sido comprados por R$ 1. O governo brasileiro quer utilizar a
infraestrutura da falida Eletronet e de outras estatais, embora essas redes não
passem de um backbone sem capilaridade. E mais: o governo tem ignorado pura e
simplesmente a contribuição futura das redes de banda larga sem fio (como WiMAX,
WiMesh, Wi-Fi, 3G e LTE). No entanto, as redes móveis sem fio tendem a ser
majoritárias em todo o mundo, no processo de universalização da banda larga. Num
país com mais de 175 milhões de celulares em serviço, ignorar seu potencial é no
mínimo ignorância.
6) O plano de banda larga americano não está sendo anunciado às vésperas de
nenhuma eleição, nem faz parte de nenhum projeto político-partidário. O governo
Lula teve mais de 7 anos para elaborar os grandes projetos de que o País
necessita, bem como para formular políticas públicas de telecomunicações e, em
especial, de banda larga. Mas não o fez. Agora, sai em desespero de campanha, a
toque de caixa, a falar até em banda larga a R$ 10 por mês. É brincadeira com um
assunto realmente importante. O que temos dito e repetido: o PNBL não pode ser
bandeira de campanha eleitoral de ninguém. Neste clima, o que os candidatos
devem fazer é dar ao País sua visão do problema, suas propostas, seus planos de
longo prazo e debater os pontos essenciais de um futuro PNBL de verdade