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Fonte: Ig Economia
[29/03/10] CVM
e Bovespa investigam golpes com ações
Papéis de empresas praticamente falidas vêm sendo negociados a peso de ouro -
por Gustavo Gantois, iG Brasília
As desconfianças em relação às ações da Telebrás, inflacionadas por declarações
do governo sobre o plano de banda larga, abriram os olhos da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) para um problema sério. Papéis de empresas praticamente
falidas ou em processo de recuperação judicial vêm sendo negociados a peso de
ouro nos pregões da Bovespa, num movimento especulativo que tem resultado em
prejuízos a pequenos investidores.
Em uma operação para tentar barrar as manipulações, a CVM abriu 26 investigações
para apurar movimentos atípicos. Outros dez processos foram concluídos entre
janeiro e fevereiro, dos quais, em dois, a autarquia constatou irregularidades e
abriu inquéritos administrativos. A Bovespa, por sua vez, tem cinco processos em
andamento.
O caso mais espantoso é o da Cobrasma, uma fabricante de vagões de trens que
quebrou nos anos 1990. Segundo os demonstrativos financeiros do primeiro
semestre de 2009, a empresa estava com patrimônio líquido negativo de mais de R$
3 milhões. Os papéis da Cobrasma, no entanto, ainda circulam pela Bovespa. Entre
os dias 3 e 18 de fevereiro desse ano, foram realizados 2.120 negócios apenas
com as ações preferenciais, que movimentaram R$ 16,6 milhões.
“Não sei o que está acontecendo”, diz Luiz Eulálio Vidigal, diretor de Relações
com Investidores da Cobrasma. “As nossas atividades estão encerradas desde 1997,
em função de sérias dificuldades financeiras”.
A Café Solúvel Brasília é outra que tem impressionado pelo desempenho de suas
ações. Mesmo tendo sido acionada duas vezes pela CVM e pela Bovespa por conta
dos movimentos atípicos, as ações da empresa subiram 50,4% no último mês. Para
se ter uma ideia, os papéis da mineradora Vale alcançaram um retorno de apenas
8,4% no mesmo período.
Golpistas
A maior dificuldade está em apontar um responsável pela manipulação das ações.
Em grande parte dos casos, as empresas que brilham repentinamente não têm
absolutamente nada a ver com o ocorrido. O trabalho vem de grupos especializados
que estimulam os investidores novatos no mercado a comprar ações de determinada
empresa. Quando sobem o suficiente para dar um bom retorno aos golpistas, eles
vendem os papéis e embolsam os lucros, enquanto os novatos perdem todo o
investimento após a queda nas cotações.
“Eles se aproveitam do desconhecimento de investidores, que se rendem facilmente
à promessa de ganho fácil, que estão por trás desses golpes”, afirma Carlos
Antônio Magalhães, diretor da Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimentos do Mercado (Apimec). “Os órgãos fiscalizadores precisam agir
rápido, ou esse tipo de operação vai minar a credibilidade do mercado”.
A CVM e a Bovespa bem que estão tentando coibir esses negócios, mas não há muito
a se fazer. A Bovespa, por exemplo, não pode retirar uma empresa de sua lista
apenas porque seu balanço não está no azul, caso contrário o que aconteceria com
os atuais detentores desses papéis?
Medidas paliativas
Uma das decisões tomadas para tentar coibir os golpes é a utilização de um
programa de computador que analisa grupos de operações feitas no pregão. Antes
dele, de cada 5 mil operações, apenas três indicavam suspeitas de ilícitos. Com
a adoção do software, esse número subiu para 11. O resultado é que, apenas no
ano passado, a Bovespa arrecadou mais de R$ 2 milhões em multas.
“As empresas são, sim, obrigadas a detalhar seus resultados, mas são os
investidores que têm de procurar informações que possam definir se vão ou não
fechar negócio”, afirma Waldir Nobre, superintendente de Relações com o Mercado
e Intermediários da CVM. “Não nos cabe julgar se o negócio é bom ou ruim”.
Para o pequeno investidor resta a dica: não confie em promessas de lucros
absurdos que se multiplicam pela internet. Geralmente, elas são postadas em
fóruns justamente por grupos especializados em inflar o preço das ações e lucrar
em cima da inexperiência de alguns investidores.
A CVM já investigou vários desses fóruns com base em denúncias recebidas de
investidores lesados. O problema, conta Waldir Nobre, é a dificuldade de se
juntarem as provas necessárias para punir os responsáveis. “Morremos na praia em
vários casos, pois os computadores originais das dicas estavam em cibercafés”,
diz.