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Fonte: Convergência Digital
[30/03/10] Banda
larga para multiplicar o Brasil - por Jonas Antunes Couto*
* Jonas Couto é economista e advogado, Mestre em direito econômico pela UFMG,
Mestre em regulação pela Universidad de Navarra e Gerente Regulatório da TelComp
2010 é ano de eleições no Brasil. Momento em que os políticos reforçam eternas
promessas e defendem suas prioridades para o desenvolvimento do país. Na agenda
dos candidatos brasileiros sempre estiveram presentes itens básicos, como saúde,
educação, segurança pública, combate à pobreza e até mesmo sustentabilidade. Mas
para o pleito de 2010, um novo item entra em definitivo na pauta: o acesso à
internet banda larga.
É cada vez mais notória a importância do acesso à internet banda larga nessa
nova sociedade, que se desenvolve a partir da informação. No exterior, governos
optam por políticas públicas que estimulam os investimentos em redes de nova
geração, universalizam a banda larga de alta velocidade, oferecendo preços
acessíveis - Japão e Suécia já têm ofertas de 1 gigabyte, por exemplo - e
garantem o efeito multiplicador que tais medidas produzem nas relações
econômicas e sociais de indivíduos, empresas e governos.
Essa multiplicação pode ser explicada a partir da apresentação de um exemplo:
imagine um produtor de café sem acesso à internet banda larga, isolado na
fazenda onde planta seu grão. Ele não consegue otimizar muitas das variáveis do
seu negócio, como plantação, colheita, transporte, compra de insumos e venda da
commodities, porque não tem acesso, em tempo real, à informações importantes
para o sucesso de seu negócio.
Agora, imagine esse mesmo produtor conectado a uma internet com banda
ultra-larga, utilizando-se de aplicativos modernos para controlar variáveis,
como chuvas e geadas, custos de insumos, preços da saca, e tomando as suas
decisões de negócios em tempo real.
Assumindo que essa melhor gestão deve gerar mais renda para o produtor, esse
excedente retroalimenta o processo produtivo em seu segmento com novos
investimentos e a contratação de outros empregados e também estimula o
crescimento em outros setores com o incremento do consumo.
Sem falar que o acesso sem fronteiras à internet também dará a esse produtor
rural a oportunidade de treinar seus funcionários, capacitar futuros
trabalhadores e mesmo instruí-los sobre saúde familiar. Tudo isso impactaria
positivamente as relações sociais, haja vista o efeito multiplicador da renda no
bem-estar das pessoas.
No Brasil, o governo federal e alguns governos estaduais, como o do estado de
São Paulo, parecem já reconhecer os efeitos multiplicadores que o acesso à
informação, via internet banda larga, pode produzir na vida dos cidadãos, na
competitividade das empresas e na gestão pública. O “Plano Nacional de Banda
Larga” e o “Projeto Banda Larga Popular”, respectivamente, são prova desse
reconhecimento e, por isso, são iniciativas louváveis.
No entanto, é preciso alertar governantes e candidatos brasileiros que os
benefícios socioeconômicos derivados da inclusão digital estão condicionados a
conexões de banda larga com velocidades superiores a dois megabytes por segundo.
Ambas políticas públicas focam em acessos à internet com velocidades muito
baixas - entre 256 kilobytes por segundo e 1 megabyte por segundo -,
insuficientes para atender à crescente demanda por dados, caminho inexorável
para a construção das sociedades da informação.
Enquanto países como França, Inglaterra, Dinamarca, Japão - nossos competidores
no mercado global - já possuem conexões que, na média, superam 15 megabytes por
segundo, 90% das conexões no Brasil hoje são inferiores a 1 megabyte por
segundo, como constatou o documento do Conselho de Altos Estudos da Câmara
Federal.
As medidas a serem tomadas pelos governos brasileiros, federal, estaduais ou
municipais, precisam corrigir essas distorções. O país necessita urgentemente de
investimentos em redes de fibra ótica e na capacitação de usuários. Qualquer
estratégia que queira explorar o efeito multiplicador derivado dos acessos de
banda larga precisa focar esses dois pontos.
Não se pode aceitar políticas de inclusão digital que restrinjam as conexões de
banda larga a 1 megabyte por segundo nos próximos anos, sob pena de o Brasil ser
obrigado a utilizar tecnologias do século passado e, consequentemente, de
assumir todos os custos de oportunidade, sociais e econômicos derivados desse
atraso tecnológico. Em 2010, ao menos as promessas dos futuros governantes devem
combater essas mazelas.