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Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
[31/03/10]
Objetivo do governo com plano é criar concorrência - por Mariana Martins
A audiência pública sobre o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) realizada ontem
(30), na Comissão de Ciência e Tecnologia Comunicação e Informática (CCTCI) da
Câmara dos Deputados foi mais uma vez palco da disputa sobre o modelo a ser
adotado para o que o governo pretende ser um programa para massificar o acesso à
internet em alta velocidade no país. Os temas principais da disputa são o regime
de prestação do serviço da banda larga e também a reativação da Telebrás, ou
seja, o papel do Estado na oferta do serviço. O secretário de Logística e
Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento Rogério Santanna, que
também é membro do Grupo de Trabalho criado pelo Governo Federal para elaboração
do PNBL, afirmou que a questão central do plano não é se o serviço da banda
larga é prestado em regime público ou privado, mas sim como fazer para aumentar
a concorrência entre os atores e tirar as concessionárias de telecomunicações
que prestam serviço de internet da “zona de conforto” em que se encontram.
Na semana passada, em outra audiência pública realizada na Câmara, entidades de
defesa do consumidor – a ProTeste e o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor
(Idec) – e do direito à comunicação – Intervozes - Coletivo Brasil de
Comunicação Social – defenderam a adoção do regime público como questão chave
para a universalização da banda larga (saiba mais). Ontem, Santanna defendeu que
o regime público não resolveu o problema da telefonia fixa porque, neste setor,
“não teve concorrência”. Portanto, para o secretário, este não deve ser o centro
do debate.
A tentativa do representante do governo de tirar o foco da discussão da natureza
do serviço e colocar na concorrência, aponta para uma já possível definição do
governo sobre o tema. Reforça a ideia de que o governo não mexerá no regime de
prestação do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) o pedido feito por Santanna
para que os deputados votem a favor do Projeto de Lei 1.481/07, que estava ontem
na pauta do plenário da Câmara, mas cuja votação foi novamente adiada. O PL muda
substancialmente o caráter do Fundo Nacional de Universalização das
Telecomunicações (Fust), criando a possibilidade de seus recursos serem usados
nos serviços prestados em regime privado - como a banda larga. O secretário,
entretanto, seguiu afirmando que “nada foi resolvido até agora”.
A favor do regime público
Em defesa da prestação dos serviços de banda larga em regime público,
posicionou-se, tão somente, o representante da empresa pública Informática de
Municípios Associados (IMA), Pedro Jaime Ziller, que relembrou também que as
discussões da reativação da Telebrás permeiam os debates da Câmara dos Deputados
desde 2003. Ziller, ex-conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), foi taxativo quanto à impossibilidade de o setor privado prestar o
serviço de banda larga de forma a universalizá-lo sem que isso se dê no regime
público.
Apoiando-se na fala do representante das prestadoras, José Fernandes Pauletti,
que afirmou que o papel do Estado deveria ser fazer chegar a internet onde “não
havia interesse das operadoras” por não haver “mercado”, Ziller defendeu a
reativação da Telebrás e a criação de subsidiárias para prestação dos serviços
finais. Segundo ele, não se pode deixar um serviço essencial nas mãos de quem só
pode prestá-los a partir da lógica de mercado.
“Se não fosse um acordo do governo pela troca de metas do Plano Geral de Metas e
Universalização do Serviço de Telefone Fixo Comutado por internet nas Escolas
Públicas, por exemplo, isso não teria sido feito pelas concessionárias”, afirmou
Ziller, que estava na Anatel quando houve a mudança no PGMU. “Estados e
municípios precisam ter acesso às redes públicas. É necessário e oportuno que a
prestação desse serviço seja em regime público, conforme deixa muito clara a Lei
Geral de Telecomunicações em seu artigo 64.”
Ziller lembrou que o que está em questão com a discussão do Plano Nacional de
Banda Larga é fundamentalmente a democratização dos meios de comunicação, para a
proporcionar a pluralidade e a diversidade de forma a não mais fazer dos meios
de comunicação indutores da formação de consensos.
Telebrás, pomo da discórdia
A fala de Rogério Santanna polarizou principalmente com a de José Fernandes
Pauletti, representante Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço
Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), obviamente não em relação ao regime em que
deve ser prestado a banda larga. O tema da discórdia entre governo e empresários
segue sendo a reativação da Telebrás, e, mais especificamente, a função que
deverá cumprir a estatal na execução do PNBL.
Na opinião de Pauletti, não é papel do Estado, em princípio e no atual modelo,
atender ao usuário final. Para o representante empresarial, o Estado deve se
ater à tarefa de organizar os debates sobre o PNBL e também favorecer que haja o
uso intensivo das infraestruturas existentes.
Santanna não deixou claro se o Estado vai ou não prestar a última milha – levar
o serviço até a porta da casa dos usuários, como temem às concessionárias. O
secretário defendeu que a Telebrás é fundamental para o que ele chamou de
“mudança de paradigma tecnológico” que estaria em curso no Brasil.
Segundo o secretário, neste novo cenário, onde aparentemente não há mercado para
as concessionárias hoje pode haver amanhã e o Estado também poderia atuar nessas
áreas e ainda ter rendimentos. Para Santanna o critério da inovação pode ser um
boa aliada das novas tecnologias, e citou o Google e o Skype como modelos de
serviço que “exploraram o inusitado e se deram bem”. O recado velado de Santanna
aos empresários foi: invistam em outros serviços.
Rede pública e soberania
O secretário defendeu que a Telebrás e não os Correios, como quer o agora
ex-ministro das Comunicações Hélio Costa, ou a Serpro, como andou sendo
ventilado na mídia esta semana, seja a gestora do PNBL. A favor da Telebrás
pesam o fato de que o Brasil não tem ofertantes suficientes para atingir a
grande maioria da população estruturalmente – ou seja, faltam os backbones
(estrutura central de cabos) e backhauls (as estruturas que dão acesso aos
estados e municípios) necessários – e a necessidade da existência de uma rede
pública também como uma questão de soberania nacional.
“Ter o controle das comunicações, ter uma rede própria do Estado nos dias de
hoje é tão estratégico como ter submarinos e outros aparatos de defesa
nacional”, afirmou o secretário. “Como será a situação do Brasil se em um
momento de conflito mundial depender de um satélite que está nas mãos de uma
empresa estrangeira, que é influência de outra nação? Em um possível conflito de
interesses, eles podem deixar o Brasil incomunicável. As forças de defesa de uma
país precisam de autonomia nas comunicações.”
A falta de uma infraestrutura de cabeamento que atenda à grande maioria da
população, para Santanna, também estaria resolvida com a revitalização da
Telebrás. A estatal tem uma rede de aproximadamente 20 mil quilômetros de fibra
ótica que pode ser usada na expansão da banda larga, além dos ativos de energia
das redes da Eletronorte e da Eletrobrás que também podem ser usados.
Apesar de não ter deixado explícito isso em sua fala, Santanna mostrou-se
próximo a ideia de a Telebrás servir como um órgão catalizador da concorrência
entre grandes e pequenos provedores e chegando, possivelmente com a ajuda destes
últimos, onde não há interesse dos primeiros. Não informou, porém, se o governo
vai ou não prestar a chamada última milha, ou seja, se tornar ele mesmo um
provedor público de internet.
Santanna mostrou-se, a princípio, motivado com a instabilidade que gera a
discussão da Telebrás para as concessionárias, que na opinião do secretário só
fazem concessões sob pressão e ameaça do Estado. “Às vezes a instabilidade
ajuda, porque estávamos acomodados. Se as concessionárias continuarem achando
que o Estado é um leão sem dentes vão continuar como estão. Só quando acham que
vão ter concorrentes é que se movimentam, como no caso da banda larga. Podem
ver: as empresas de telecomunicações são as campeãs de reclamação no Procon.”
Ao responder às provocações do Secretário, Pauletti avaliou que o governo acerta
no diagnóstico sobre os desafios da banda larga, mas erra nas conclusões que,
ainda na opinião do representante da Abrafix, são tendenciosas. As
concessionárias parecem temer que a Telebrás venha a ter facilidades que
dificultem a concorrência em pé de igualdade entre os atores públicos e
privados.
“Os competidores devem ser tratados de forma isonômica e devem poder utilizar os
fundos também de forma isonômica, bem como participar das licitações. Devemos
todos estar submetidos à mesma regra”, advertiu Pauletti. O empresário disse
ainda que a diminuição do preço das tarifas da telefonia – e , supostamente,
também dos demais serviços de comunicação –, citada por Rogério Santanna nas
críticas às teles, dependia também da diminuição da carga tributária cobrada
pelo Estado a este serviço.
Pequenos a favor do PNBL
Ao contrário das grandes operadoras de telecomunicações, os pequenos provedores
de internet estão alinhado com o governo federal. O representante da Associação
Brasileira de Pequenos Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrappit),
Ricardo Sanchez, defendeu a reativação da Telebrás. Segundo ele, a associação,
desde o início do debate do PNBL, vem fazendo testes de uso da rede pública já
existente e, atualmente, 250 pequenos provedores estão usando a rede da
Eletrobrás para prestar internet por rádio para alguns municípios do país.
Segundo Sanchez isso responde a uma das perguntas iniciais da deputada
proponente da audiência, Luiza Erundina (PSB-SP), sobre a viabilidade da rede
das redes que possivelmente serão geridas pela Telebrás.
Sanchez defende justamente que a Telebrás atue como a tal catalizadora da
concorrência entre os pequenos e grande provedores, visto que os primeiros não
querem chegar onde não há um grande mercado a ser explorado e os pequenos
provedores poderiam contar com a rede públicas para não mais depender das rede
que estão sob domínio das concessionárias.