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Fonte: Insight - Origem: Valor
[25/04/11]
Telebrás precisa de 'ajustes', diz ministro
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, nega que haja qualquer tentativa do
governo de esvaziar as operações da Telebrás. Em entrevista ao Valor, o ministro
afirmou que a estatal continuará a ter um papel importante no Programa Nacional
de Banda Larga (PNBL). Bernardo admitiu, no entanto, que a atuação da companhia
tem "ajustes" que precisam ser feitos.
"Nós reorganizamos a Telebrás e queremos que ela seja nossa ponta de lança do
PNBL, mas algumas mudanças precisam ser feitas. Não é tarefa dela disputar
mercado com as teles que estão no setor", disse Bernardo. "A Telebrás deve
ajudar mais a regular esse mercado, o preço da rede. Ela vai sair da disputa
para ser uma articuladora de ações. É com isso que estamos contando."
O ministro também negou que a estatal tenha problema de caixa, já que não teria
por que buscar recursos neste momento, porque seus contratos com a Petrobras e a
Eletrobrás ainda não foram totalmente liberados. "O Tesouro não vai liberar
dinheiro se não há nada projetado."
Após reunião realizada com a presidente Dilma Rousseff, na semana passada, o
ministro afirmou que o Palácio vai exigir mais das teles do que a oferta de 1
megabit por segundo (Mbps). "A presidenta considera que os termos do PNBL ainda
são insuficientes, ela quer mais", comentou. "Ela considera que uma coisa é ter
velocidade de 1 Mbps hoje, mas é preciso preparar um salto para 2014, buscando
velocidades bem maiores lá na frente."
Para garantir o acesso à alta velocidade, Dilma teria dito a Paulo Bernardo que,
se for necessário, o governo estaria empenhado em oferecer R$ 1 bilhão por ano
para investimentos em infraestrutura, recurso que seria gerido pela Telebrás.
"Ela [a presidente] sinalizou isso, mas é preciso ficar claro que não queremos
fazer tudo com recursos do governo. Vamos fazer parcerias com quem pudermos",
disse Bernardo.
O ministro também encontrou-se com lideranças de diversas operadoras para
discutir os próximos passos do PNBL e as tratativas que garantirão a oferta do
acesso à internet em velocidade de 1 Mbps ao custo mensal de R$ 35.
Reduzido ou não, o papel que a Telebrás deverá ter no mercado nacional de banda
larga - caso não ocorra alguma nova ruptura no caminho - ainda é importante. Ao
oferecer sua rede no mercado de atacado da banda larga, a estatal atinge não
apenas os provedores de acesso, mas também as operadoras privadas, que poderão
chegar aos domicílios de regiões onde suas malhas não conseguem alcançar hoje.
Embora a Telebrás não tenha vendido um só bit de tráfego de dados até agora, o
governo tem sustentado a tese de que o simples fato de ter reativado a estatal
já serviu para mexer com as teles, que reduziram o preço do acesso à rede. Paulo
Bernardo garantiu que os cortes de orçamentos feitos pelo governo não irão
afetar as metas do PNBL. A redução no orçamento das Comunicações atingiu 60% do
que estava previsto para este ano. De R$ 1,05 bilhão, sobraram R$ 400 milhões.
No caso da Telebrás, especificamente, a ceifada foi maior, de 75%.
A despeito do atraso do PNBL, o país fechou o primeiro trimestre do ano com 38,5
milhões de acessos em banda larga fixa e móvel. O volume é 51,5% superior à
quantidade registrada no mesmo período de 2010, de acordo com a Associação
Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Na banda larga fixa, os acessos
alcançaram 14 milhões no trimestre, alta de 20,5% em relação a março de 2010.
Nas conexões sem fio - que incluem acesso por modens de conexão à internet e
celulares - o salto foi de 77,7%, chegando a 24,4 milhões de usuários.
Em um ano, estatal perde papel de liderança no PNBL
A Telebrás, que ressurgiu há um ano como principal protagonista para executar o
Programa Nacional da Banda Larga (PNBL), em 12 meses viu a injeção de capital
que receberia, inicialmente prevista em R$ 5,7 bilhões, virar um completo
esvaziamento financeiro. Os recursos, programados para o longo de dez anos, com
R$ 3,2 bilhões para os dois primeiros anos, nunca saíram dos cofres do Tesouro
Nacional. Os valores foram gradativamente reduzidos até cair para R$ 50 milhões,
mas ainda assim não liberados pelo governo.
O resultado prático é que, até agora, a Telebrás tem pagado suas contas com
recursos do próprio caixa, de R$ 280 milhões. O reflexo do aperto financeiro
aparece no balanço da empresa. A estatal, que chegaria ao fim de 2010 com
bilhões em caixa, fechou o ano passado com um patrimônio líquido negativo de R$
22,3 milhões. No exercício anterior, esse débito foi de R$ 9,5 milhões. O
prejuízo líquido da estatal chegou a R$ 13,8 milhões, resultado inferior ao de
2009, que ficou em R$ 20,6 milhões. "A verdade é que a empresa está minguando",
diz uma fonte.
Sem os repasses planejados, a Telebrás também foi alvo de uma onda de
questionamentos jurídicos relacionados aos editais que lançou no mercado para
ligar as malhas de fibra óptica pelo país. Por fim, os contratos foram firmados,
mas o plano original de "iluminar" as cem primeiras cidades com banda larga em
2010 não saiu do papel e a meta foi repassada para este ano.
O cronograma de 2011 também já foi totalmente comprometido. A meta da estatal é
alcançar 1.163 municípios até dezembro, o que representaria uma cobertura para
atender a 49% da população brasileira. Trata-se de uma missão que especialistas
consideram praticamente impossível de cumprir. Para que isso ocorresse, a
Telebrás teria de ter começado a trabalhar em janeiro, o que também não
aconteceu por causa de outro obstáculo: a demora na liberação dos acordos
firmados para uso das redes de fibras ópticas da Petrobras e da Eletrobrás, que
estão ociosas. Os contratos de cessão de uso, que têm vigência de dez anos, já
foram assinados, mas nada ocorreu até agora porque é preciso aguardar anuência
da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para que o cronograma de 2011 não fosse prejudicado, os trabalhos nas
instalações da Petrobras e Eletrobrás deveriam ter começado até 31 de janeiro, o
prazo mais dilatado que a Telebrás projetava. A expectativa agora é que essas
liberações saiam finalmente em maio. Ao todo, está em análise a utilização de
4,85 mil quilômetros de fibras da Petrobras e outros 14,3 mil quilômetros da
rede da Eletrobrás. A Telebrás entrará nessas redes com a instalação de centros
de tráfego de dados e de oferta para provedores. Com o atraso atual de três
meses, ao menos 350 cidades não deverão ser atendidas até dezembro, reduzindo as
expectativas do governo, na melhor das hipóteses, para cerca de 800 cidades este
ano.
O esvaziamento da Telebrás não se limita a cortes financeiros, questionamentos
legais de editais e burocracia. O desmonte que toma conta da empresa transborda
para a esfera política. O governo nunca informou que as teles privadas seriam
excluídas do PNBL, mas, até o fim do ano passado, dava total exclusividade do
programa à Telebrás. Nos últimos quatro meses, a guinada do governo rumo às
operadoras privadas tomou traços bem mais definidos.
Esse novo cenário ficou ainda mais claro após uma declaração, no início do mês,
do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, depois de uma audiência pública na
Câmara dos Deputados. Ao se referir ao papel da Telebrás e das teles dentro do
PNBL, Bernardo disse que não estava muito "preocupado com a cor do gato, mas sim
em o gato pegar o rato".
O enfraquecimento da Telebrás corre em sentido contrário à crescente preocupação
do governo em viabilizar a oferta de internet rápida no país por um preço mais
justo. Tanto que o assunto foi parar no discurso de posse da presidente Dilma
Rousseff, no qual afirmou: "Como Lula, quero continuar sendo a presidente da
inclusão social, mas quero ser, também, a presidente da inclusão digital."
A mais recente intervenção pública de Dilma no assunto foi para cobrar a oferta
de uma velocidade de, no mínimo, 1 Mbps para o usuário. O preço final planejado
para o acesso é de R$ 35 com a desoneração de PIS e Cofins do governo federal,
mas poderia chegar a R$ 29 se os Estados concordassem em cortar o ICMS.
Para dar cabo da empreitada, o governo sinalizou, inclusive, que está até
disposto a ressarcir as teles privadas para cobrir um eventual prejuízo
provocado pela oferta dessa conexão à internet. A velocidade planejada até então
era de 512 kbps. Segundo o ministro Paulo Bernardo, poderá haver um "encontro de
contas" a cada 18 ou 24 meses com as empresas que aderirem ao programa. A conta
poderia ser paga com recursos do Fundo de Universalização da Telefonia (Fust),
que hoje guarda R$ 8 bilhões para engordar o superávit do governo. Se as teles
tiverem lucro, no entanto, teriam de investir mais.
Enquanto isso, o clima é de apreensão e de isolamento político na Telebrás,
segundo fontes. A estatal, que procurada pelo Valor não quis se manifestar , já
concluiu uma série de pregões eletrônicos para compra de equipamentos e
infraestrutura. No entanto, nenhuma entrega ocorreu, porque todas licitações
foram realizadas na modalidade de tomada de preço. No momento, os fornecedores
escolhidos aguardam o início dos pedidos. No cronograma de aportes para a
Telebrás está previsto mais R$ 1,5 bilhão para 2012.
Plano de reativação da Telebrás fica no papel
Há um ano, o governo conseguiu balançar as estruturas do setor de
telecomunicações ao anunciar a reativação da Telebrás para liderar uma grande
empreitada de disseminação de acesso à banda larga no país. O lançamento do
ambicioso Programa Nacional da Banda Larga (PNBL), que tinha a estatal de
telefonia como a sua "espinha dorsal", causou fortes reações das teles privadas,
que enxergaram na iniciativa o risco de um movimento reestatizante.
Um ano depois, o PNBL continua a ser apenas um plano, sem ter ligado até agora
nenhuma residência à banda larga. Suas prioridades e estratégias, no entanto,
passaram por uma guinada surpreendente. A realidade mostra que a Telebrás, que
até o ano passado protagonizava as ambições de inclusão digital do governo,
agora não passa de mera coadjuvante, sob risco até, segundo os mais pessimistas,
de não ter mais papel algum.
Os números falam por si. Em seus 12 meses, a nova Telebrás sofreu um completo
esvaziamento financeiro. Pelo projeto inicial, previa-se que a capitalização
dela exigiria injeção de R$ 5,7 bilhões. Dos cofres do Tesouro sairiam, nos
primeiros dois anos de operação, nada menos que RS 3,2 bilhões. Os demais R$ 2,5
bilhões para investimento viriam da própria geração de caixa da empresa, ao
longo de dez anos. Nada disso ocorreu.
Até agora, segundo o Valor apurou, o governo não colocou nenhum centavo na
Telebrás. No ano passado, a previsão inicial era investir R$ 1 bilhão na
empresa. Depois esse valor caiu para R$ 600 milhões. Na última semana do ano, a
estatal conseguiu empenhar R$ 316 milhões, mas o acesso a esse dinheiro depende
de autorização do Tesouro, o que ainda não ocorreu. A situação se repete neste
ano. O plano do governo, que originalmente previa R$ 1,5 bilhão em
investimentos, foi reduzido para R$ 400 milhões. Uma segunda ceifada diminuiu o
recurso para R$ 216 milhões. Então, para complicar mais, veio o corte de
orçamento do governo, que autorizou liberação de apenas R$ 50 milhões para a
Telebrás. Apesar do valor ser 3% do gasto previsto um ano atrás, esse recurso
também não entrou nas contas da estatal.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, negou que haja intenção do governo
de esvaziar a Telebrás, que continuará a ter um papel importante no PNBL. Ele
admitiu, porém, que a atuação da companhia tem "ajustes" que precisam ser
feitos. "Não é tarefa dela disputar mercado com as teles que estão no setor, e
sim ajudar a regular o mercado", disse.